Fugas - Vinhos

  • Fabrice Demoulin
  • Ricardo Jorge Carvalho

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O Bastardinho e outras histórias da JMF

Nos vinhos da nova gama apresentados pela José Maria da Fonseca entram conceitos tão diversos como o Lancers sem álcool ou o majestoso Periquita Superyor. Não é difícil encontrar nesta gama tão diversa uma identidade comum. Domingo Soares Franco é um enólogo de uma escola que prefere a austeridade à exuberância dos aromas ou à opulência da concentração. Os seus vinhos são precisos, directos, polidos, modernos sem perderem as âncoras às regiões e às variedades que lhes dão sentido. Nem sempre são vinhos fáceis, até porque são por vezes comercializados sem que tenham passado pela prova do tempo que lhes molda a estrutura tânica – a tentação para vender depressa vinhos imaturos é, infelizmente, um drama que afecta até empresas clássicas. Mas são grandes vinhos.

São-no em primeiro lugar em resultado de opções na vinha e na adega. Que levam um branco dominado pela Sauvignon Blanc a apresentar uma secura e uma acidez que o afastam dos parâmetros aromáticos da casta e o tornam bem mais próximo da secura e frescura garantida, por exemplo, pela Arinto. Que justificam uma interpretação do Douro na qual a Touriga Nacional (que, como se sabe, é generosa nos aromas e na intensidade de fruta na boca) perde o protagonismo na bem mais vetusta Touriga Franca. Que justifica a aposta na Castelão, uma casta extraordinária quando cumpre o seu potencial mesmo que nunca perca uma certa rusticidade.

Com ou sem pequenos tesouros nacionais como o Bastardinho, a José Maria da Fonseca está em Setúbal, no Alentejo ou no Douro para ser o que é. Sem condescendências, nem tentações pela moda – Domingos Soares Franco justifica as suas escolhas no Douro como uma forma de ver a região “de fora para dentro”, ou seja, sem seguir as tendências dominantes da moderna escola de enologia da região. Os seus vinhos são exigentes e dificilmente enquadrados num gosto padrão que ainda sofre a influência da doçura e da fruta jovem e madura. São vinhos que requerem comida para se mostrarem e, principalmente, de tempo em garrafa. Mesmo que esse encargo seja outorgado aos consumidores, não deixam de valer a pena. 

Colecção Privada Sauvignon Blanc 2015
Pontuação: 86
Região: Península de Setúbal
Castas: Sauvignon Blanc (85%), Verdejo (15%)
Graduação: 12.5%
Preço: 9,90€
Cultivada em solos argilo-calcários, a Sauvignon Blanc revela-se aqui mais contida na sua expressão aromática – embora sejam perceptíveis aromas exóticos de maracujá -, mais mineral e com uma acidez mais marcada. O resultado é um branco personalizado, com bom volume e uma boa aptidão gastronómica.

Periquita Superyor 2014
Pontuação: 93
Região: Regional Península de Setúbal
Castas: castelão (90%), Cabernet Sauvignon (7%), Tinta Francisca (3%)
Graduação: 14%
Preço: 40€
Fruta preta, notas de cedro, especiaria, barrica bem integrada, num conjunto muito intenso e elegante. Na boca é um vinho tenso, determinado por uma dimensão tânica ainda muito marcada pela juventude, com a fruta a amparar-se também numa magnífica acidez que lhe confere profundidade e frescura. Harmonioso e bem balanceado, é um tinto imponente, com músculo e carácter, que já dá prazer beber à mesa mas que ainda está para mostrar tudo o que vale.

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