Fugas - Vinhos

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Roteiro nostálgico do Barossa Valley ao Alentejo

Mas no caminho de regresso a Lisboa parei nas Caves Aliança porque me tinham dado um contato e para minha surpresa ofereceram-me um emprego, a trabalhar com o Dido Mendes, a quem tenho de agradecer porque me ter acolhido.
Estava a viver em Oliveira do Bairro, onde me lembro de passar o inverno mais frio da minha vida e embora a experiência nas Caves da Aliança (e com a família Neves) tivesse sido boa para mim, ao fim de seis meses decidi regressar para Lisboa, onde a minha mulher tinha um apartamento. Tinha recebido uma proposta da C. Vinhas, uma empresa vinícola em decadência e que se encontrava em processo de transição para produtora de vinho de mesa de qualidade. Um desafio, considerando que os tanques de cimento estavam em péssimo estado, com fendas, etc.

Almoçávamos todos os dias na sala da Direção. O serviço era impecável, toalha branca imaculada, criados muito bem arranjados, comida excelente… parecia como se estivesse no Titanic, a empresa estava a afundar mas estávamos determinados a viver bem. Foi uma experiência surreal, trabalhando na antiga e degradada zona portuária de Marvila, em Lisboa, com resquícios bem visíveis do 25 de Abril, as paredes de graffiti, símbolos comunistas, tudo muito colorido para alguém acabado de chegar da Austrália!

Nesta altura já estava a viver há um ano em Portugal, estávamos a espera do nosso primeiro filho e embora a experiência tivesse sido boa, sentia que a minha carreira não tinha ainda arrancado! Tinha sido uma aprendizagem para mim, observando a antiga industria vinícola portuguesa, direcionada para as colónias transformando-se para a produção de vinhos de melhor qualidade, plantando vinhas e construindo adegas para poderem controlar o processo produtivo. Foi neste contexto que, estando a ponderar regressar para a Austrália, soube que a Croft estava à procura de um enólogo.

A Croft era uma excelente companhia para ganhar conhecimento do setor do vinho do Porto. Havia feito vinhos com o estilo do vinho do porto no Barossa, mas isto era algo completamente diferente. Tive então a oportunidade de aprender como o verdadeiro vinho do Porto era produzido e como o setor operava. Ao mesmo tempo fui acolhido pela comunidade Britânica, sobretudo porque era bastante bom a jogar cricket e então subi para o início da lista e tornei-me membro do Oporto Cricket and Lawn Tennis Club.

Recordo-me naquela época, em 1983, da controvérsia sobre a declaração dividida das colheitas relativas aos anos de 1982/1983 como Vintages, onde a Croft apoiou o ano de 1982 mas a maioria das casas escolheu o ano de 1983 - a decisão correta, em retrospetiva. E portanto causou algum rebuliço quando me mudei para os Symington em 1985, que veio a declarar o ano de 1983. Senti que teria mais oportunidade com uma família mais dinâmica que era mais ativa no Douro. Aqui trabalhei sobretudo com o Peter Symington e aprendi muito sobre o loteamento tanto dos portos vintage como Tawny.

Ajudei-os na altura a montar um laboratório que permitisse realizar um leque alargado de análises, pois na altura ainda estavam um pouco atrasados. Por outro lado, o departamento de vendas era muito forte, com pessoas brilhantes, todas trabalhando em conjunto como uma família. Integrei também nesta altura o painel técnico dirigido pelo Jim Reader da Cockburn sobre a necessidade de estabelecer parâmetros sobre organolética e qualidade analítica para a aguardente, um avanço muito relevante.

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