Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

A colheita de 2015 não vai ser “ano vintage”, mas Dirk Niepoort acha que será um erro

Por Pedro Garcias

Já é dado como adquirido que serão poucas as empresas de vinho do Porto a declarar vintage clássico em 2015. Mas, enquanto se aguarda pelo anúncio dos grupos Fladgate e Symington, os mais importantes do sector, Dirk Niepoort questiona-se sobre como é possível haver dúvidas, já que, na sua opinião, 2015 é o ano perfeito.

As principais casas de vinho do Porto têm uma decisão difícil para tomar nas próximas semanas: saber se declaram 2015 como vintage clássico ou se aguardam mais um ano e declaram 2016. É uma decisão difícil porque estão em causa muitos milhões de euros. Todos os sinais apontam para que a escolha da maioria recaia em 2016, mas há uma companhia que já decidiu ir em sentido contrário: a Niepoort. “Não sei porque se estão todos a cortar, mas para mim é claro que 2015 é um grande, grande ano, o melhor que vi na vida. O ano de 2016 não lembra ao diabo. Nasceu torto na floração e continuou torto na vindima, embora tenha melhorado no final. Os vinhos são mais madurões, mais concentrados, mais ao gosto dos ingleses, mas não têm o equilíbrio e a perfeição dos vinhos de 2015”, afirma Dirk Niepoort.

Nenhuma outra categoria de vinho do Porto é tão rentável como o Porto Vintage (um vinho de uma só colheita produzido em anos de excepcional qualidade e que envelhece em garrafa). Pode começar a ser comercializado ao fim de dois anos e, sendo clássico (designação que se dá à elaboração de Porto vintage com as marcas principais das empresas do sector) atinge margens de lucro fabulosas. Custa tanto a produzir como um LBV, por exemplo, mas é vendido mais cedo e por um preço quatro a cinco vezes superior ou até mais

Nas últimas duas décadas, sobretudo, o Porto Vintage tem sido uma importante fonte de receitas para as principais companhias do sector, ajudando a atenuar as quebras constantes nas vendas das categorias inferiores. O que faz a fama deste vinho é a circunstância de só haver dois a três “anos vintage” por década. Chama-se “ano vintage” aos anos em que há uma declaração generalizada de vintage clássico, envolvendo todas as grandes casas do sector. Nos anos menos bons, o normal é haver declaração de vintage de quinta (vintages produzidos com uvas da mesma propriedade e com o nome desta), mais baratos.

Na década passada houve vintage clássico generalizado em 2000, 2003 e 2007. Nesta, só 2011 foi ano vintage — por sinal, um dos mais aclamados de sempre. Antes da última vindima, era mais ou menos consensual que as maiores casas iriam declarar vintage clássico em 2015. Mas a vindima de 2016 veio baralhar tudo. O ano foi dos mais atípicos de que há memória. Choveu muito no Inverno e na Primavera, o que provocou um grande surto de míldio, e o Verão foi excessivamente quente, dos mais quentes desde que há registos. A partir do dia 12 de Setembro as temperaturas baixaram bastante e começou a chover com grande intensidade. O sol só voltou em pleno mais de uma semana depois, mas ainda a tempo de salvar a vindima, que se arrastou pelo mês de Outubro. A chuva acabou por ter um efeito milagroso, ao ajudar a desbloquear a maturação, e o tempo quente e seco que se seguiu permitiu aumentar a concentração das uvas e fazer vinhos surpreendentemente bons.

Os enólogos e administradores das principais casas de vinho do Porto estão agora com um problema em mãos, divididos entre a vontade de declarar vintage clássico em 2015, mais por razões económicas, e a convicção de que os vinhos de 2016 são melhores. No caso da Sogrape, a opção por 2016 já está tomada. “Os vinhos de 2015 são bons, mas nunca achei que fossem extraordinários. Os 2016 não são super-estruturados, mas possuem uma harmonia e uma consistência fabulosas”, sustenta Luís Sottomayor, enólogo da Casa Ferreirinha.

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