Fugas - Vinhos

  • Margarida basto
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  • Rui Gaudêncio
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O que têm de único os vinhos da serra de São Mamede?

Mas, ao longo destes anos, também Rui Reguinga foi aprendendo. “No início, fiz um erro de avaliação”, confessa. “Achei que havia aqui um grande potencial para tintos mas não para brancos. Não reconhecia que as uvas brancas eram boas. Estava totalmente enganado. Em 2008 fiz o primeiro branco, e hoje acho que talvez o potencial dos brancos da serra seja ainda maior que o dos tintos.”

Foi aprofundando cada vez mais o seu trabalho. “Em 2013 comecei a fazer vinhos por parcela e a partir daí estou a apurar cada vez mais: uma vinha um vinho.” Passamos pela vinha mais velha de Rui – “provavelmente mais de 100 anos” – rodeada por muros de xisto (noutro lado da serra os muros são de granito).
Continuamos pelas estradas da serra, em direcção à vinha mais alta que o enólogo tem – e, sem dúvida, uma das mais altas de Portugal, a 770 metros de altitude – da qual é feito o Terrenus Vinha da Serra. “É uma vinha em patamares, como no Douro. As 18 castas estão aqui todas misturadas: aqui Aragonez, ali Arinto, Roupeiro, alguma Bical. Toda esta vinha faz um field blend [o lote do vinho final é feito na vinha, não na adega como é comum]”

E também ela conta uma história, tal como a vinha da Ammaia, mais abaixo, junto das ruínas da cidade romana de Ammaia – o Terrenus Vinha da Ammaia, lançado em 2015, é a primeira experiência do enólogo de vinho de talha, feito em ânforas de barro. Cada uma destas vinhas, acredita Rui, merece estar na sua própria garrafa porque tem uma história única para contar.

 

João Afonso

“Estou em contracorrente”, diz João Afonso. “Quando todo o mercado faz adegas de milhão para vinho de tostão, eu estou a fazer o contrário. Claro que a primeira parte, a adega de tostão, é a mais fácil.” Estamos sentados na pequena adega da sua casa, em Cabeças do Reguengo, Portalegre, onde tem também a vinha e um turismo rural.
João Afonso, que foi bailarino antes de se dedicar de corpo e alma à produção de vinho (é também jornalista e crítico de vinhos), instalou aqui, dentro da própria adega, um minibar e, enquanto ouvimos jazz, conversamos sobre o que faz a diferença dos vinhos de Portalegre.
“Quero recuperar o antigo, mas sem qualquer saudosismo”, explica. Chegou à região em 2009 através do amigo, enólogo e também produtor Rui Reguinga, que já por aqui andava a fazer vinhos há uns anos. “Vim para levar varas [plantas de vinha] de vinha velha para Castelo Branco. A minha ideia sempre foi recuperar os genes das vinhas antigas, feitos por selecção natural e humana”.

Não lhe interessam os processos modernos, em que tudo “é laboratorial, muito clonado”. Mas quando chegou começou a perceber que não fazia sentido levar a vinha para outro lugar, que o lógico seria continuar a cultivá-la aqui. “Estas videiras estão aqui há décadas, eventualmente há séculos, completamente adaptadas a este clima.”
Comprou a propriedade onde agora nos encontramos, recuperou a casa antiga, que estava em mau estado, e praticamente a única coisa que manteve inalterada foram as duas cubas de cimento para as quais estamos a olhar. “São de 1952, o que significa que são anteriores à Adega Cooperativa, que é de 55. Há uma terceira cuba que é de 1977. Sai dali um vinho espectacular.” Precisamente por isso, usa “o mínimo de madeira possível”.

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