Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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Os segredos mal guardados do Dão

Para os consumidores cada vez mais sujeitos a uma certa tirania da fruta jovem, os vinhos dos Perdigão são como bálsamos. A sua garra tânica persiste após muitos anos, mas a garrafa concede-lhes o polimento para que se bebam com grande prazer. Mafalda, uma jovem que dá os seus primeiros passos na sua carreira, não tem dúvidas sobre a bondade da herança paterna: “Fui criada com este perfil de vinhos e é o perfil que eu gosto”, explica. De resto, é o tipo de vinhos que melhor exprime a natureza do Dão. “O que distingue o Dão autêntico é a aptidão dos vinhos para evoluírem com o tempo”. Nos tintos da casa, há sempre pelo menos quatro anos de estágio antes de saírem para o mercado. E, ainda assim, podem-se comprar por 10 euros (caso do Jaen) ou 12 euros (caso de um magnífico Alfrocheiro).

Depois, há produtores que estão ainda num estágio ainda mais incipiente de profissionalização ao nível do marketing e das vendas que nos proporcionam verdadeiros achados. Saímos de Silgueiros, atravessamos Viseu e viajamos até à margem direita do rio Dão onde, na freguesia de Pindos, município de Penalva do Castelo, se encontra à beira da estrada a Adega da Corga. Um edifício com uma certa dimensão, apetrechado com cubas de fermentação com temperatura controlada, um esmagador pneumático e outras condições tecnológicas para a produção de vinhos de qualidade. Rafael Barbosa, 25 anos, acaba de terminar os seus estudos de enologia também em Trás-os-Montes e é o membro da família que, com Miguel Oliveira, consultor da Vines e Wines (e, como veremos, enólogo da Cooperativa de Silgueiros), trata da produção da casa.

A Adega da Corga rege-se pela batuta do patriarca João Barbosa, 78 anos. Foi ele quem, depois de regressar de Moçambique, onde tinha uma casa comercial na zona de Nampula, investiu a sua fortuna na compra de vinhas na sua terra de origem. Hoje, os Barbosa dispõem de 25 hectares de vinhas. Numa das encostas voltadas para o rio, gerem 22 hectares de uma vinha belíssima, de solos graníticos, onde há videiras de Touriga Nacional com 40 anos. João Barbosa parece conhecer cada bardo, cada planta e se se assume como tradicionalista ao privilegiar as castas típicas do Dão, não deixa de fazer experiências com variedades internacionais, como a Syrah ou a Semillon.
Com este potencial, era difícil não fazer vinho bom. Principalmente quando de uma produção média situada entre os 150-180 mil litros são escolhidos 28 mil para se fazer o Grande Reserva Adega da Corga. E nem sempre. Quando o ano é mau, como aconteceu em 2014, não há vinhos com a marca principal da família. “Nós somos pequenos e queremos só a qualidade. São escolhas…”, diz Rafael Barbosa. Com a maioria do vinho produzido na adega a ser vendido para outras empresas ou cooperativas, o que sobra é mais do que suficiente para a procura do mercado.

A verdade é que, mesmo depois do fantástico Adega da Corga Grande Reserva de 2011 ter obtido 89.40 pontos no concurso da ViniPortugal de 2014 (o que lhe valeu uma medalha de ouro), os vinhos da família Barbosa, entre os quais se inclui um belíssimo branco feito com Encruzado (85%) e Malvasia (15%), permanecem num injusto esquecimento. Principalmente porque se podem comprar por preços que variam entre os oito euros (os Grande Reserva de 2012 e 2013) e 12 euros (o de 2010). Quanto ao vinho premiado, que continua a crescer na garrafa de ano para ano, custa 10 euros. Exacto: um vinho de grande classe por dez euros. Quanto ao branco, custa quatro euros por garrafa.

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