Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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Os segredos mal guardados do Dão

Mas, nem só nos pequenos e médios produtores, com um pouco mais ou um pouco menos de visibilidade, se preservam os segredos do Dão. Também os há nas Cooperativas. Entre os enólogos e os dirigentes das cooperativas do Dão há aliás uma pergunta que prova o poder do preconceito que persiste sobre estas unidades de produção: “Quanto é que este vinho custaria se não fosse de uma cooperativa?”. Claro que o sector cooperativo do Dão está a pagar ainda a pesada factura de outrora, do tempo em que abdicou da qualidade por troca pelos grandes volumes. A selecção natural produziu efeitos e hoje das dez cooperativas fundadas nos anos de 1960 mantêm actividade com vinhos engarrafados apenas quatro – Vila Nova de Tázem, Penalva do Castelo, Mangualde e Silgueiros.

Uma surpresa nas cooperativas

Vale a pena revisitar os vinhos das cooperativas do Dão. Não se esperem dali topos de gama, vinhos estratosféricos na complexidade, estagiados em barricas de madeira caras. As cooperativas continuam a ser unidades de grandes produções (Silgueiros produz entre cinco e seis milhões de litros por ano de uvas provenientes de 1500 associados), mas as suas equipas de enologia acompanham as maturações das vinhas, marcam datas de vindimas e controlam a transformação com índices de profissionalismo inimagináveis há apenas alguns anos atrás. Por isso os seus vinhos valem a pena. “O nosso propósito é fazer vinhos honestos”, diz Miguel Oliveira, enólogo de Silgueiros. “Nós conhecemos bem as vinhas dos nossos produtores, temos estruturas de custos muito baixos e por isso temos condições para fazer vinhos de qualidade a preços muito melhores”, sublinha António Mendes, enólogo e presidente da Cooperativa de Mangualde.

Pegue-se por exemplo nos exemplos dos brancos vinificados com a casta Encruzado destas cooperativas: revelam todos os atributos desta casta, são feitos com rigor, transcrevem as diferenças das duas sub-regiões (mais minerais em Mangualde, mais complexos em Silgueiros) e sugerem distintas interpretações de enologia, principalmente ao nível do uso da barrica. Nos tintos, comprar Touriga Nacional de 2014 com a classe de Silgueiros por quatro euros ou o Castelo de Azurara Reserva de 2012 de Mangualde por cinco euros é uma dádiva. E, quem quiser ousadias, também as pode procurar nas cooperativas do Dão. O Aragonez (Tinta Roriz) de 2014 de Mangualde, um tinto magnífico, original e capaz de agradar quer aos que emulam a fruta, quer aos que privilegiam a frescura e a acidez, pode ser comprado por cinco euros.

Com a venda de vinhos do Dão de gamas superiores a crescer há anos ininterruptamente (as vendas de vinhos com Denominação de Origem Protegida) estão a crescer 18% este ano, é muito provável que este universo de oportunidades de experimentar grandes vinhos por preços muito convidativos se altere. O Dão, que se atrasou na corrida liderada pelo Alentejo e depois pelo Douro, pode um dia regressar ao lugar que já foi seu algures entre o final do século XIX e os anos 60 do século XX: a região onde, como dizia o geógrafo Orlando Ribeiro, “provavelmente se produzem os melhores vinhos tintos de Portugal”. Até lá, é possível descobrir as suas faces menos expostas – mas nem por isso menos interessantes.

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