Voltando atrás, aos inícios da década de 80. Tive então a oportunidade de conhecer o Eng. Jorge Ferreira, administrador da Casa Ferreirinha, pessoa de qualidades humanas e de instinto empresarial, que me desafiou nessa altura, em que o Douro renascia em inovações técnicas e sociais importantes, para liderar dois projectos vitícolas: um, na reconversão da Quinta do Seixo, que a empresa acabara de adquirir; outro para implantar uma vinha de raiz em Almendra, que haveria de ser a já famosa Quinta da Leda.
Para a primeira, a reconversão das velhas vinhas, semiabandonadas, optou-se pela instalação de “vinha ao alto”, solução que na altura também já estava sendo posta em prática pela Ramos Pinto através do João Nicolau de Almeida; na Leda, tratando-se de um projecto quase virgem na zona naquela fase inicial, escolheram-se as castas mais recomendáveis e adoptou-se pelo sistema de poda tradicional, não só porque os podadores, que vinham de Cambres, a sabiam fazer, mas também como a forma mais adaptável às situações de extrema secura estival e inexistência de rega. Tanto um como o outro projecto foram acompanhados na componente enológica pelo colega e amigo José Maria Soares Franco, não esquecendo a inestimável e imprescindível concretização no campo por parte do Sr. Joaquim Fernandes.
Quando da aquisição da Casa Ferreirinha pela Sogrape, passei a ser também seu consultor vitícola, não só no Douro, mas também noutras regiões vitícolas: nos Vinhos Verdes, para reconversão parcial das suas vinhas; na Bairrada, na Quinta de Pedralvites; no Dão, o projecto de instalação das vinhas na Quinta dos Carvalhais; no Alentejo, a primeira fase de instalação da vinha na Herdade do Peso, esta em parte usufruindo de ensinamentos adquiridos da Leda. Provavelmente com base naqueles dois projectos iniciais, outras consultorias se lhes seguiram: Quinta do Crasto pelo Jorge Roquete; Vale do Meão, pelo Vito Olazabal; Quinta do Vallado pelo Jorge Ferreira; Herdade da Quinta Grande, em Coruche, de Graça Ribeiro da Cunha; Quinta de Matamouros, no Algarve, por Vasco Pereira Coutinho.
Esta experiência profissional, possibilitou a elaboração de várias publicações, de divulgação e de carácter didático, entre as quais, motivado academicamente pela necessidade de apoio aos alunos, de um livro sintético e actual sobre viticultura, em língua portuguesa, que proporcionou a atribuição de um prémio internacional pelo OIV (Ofice International de la Vigne et du Vin).
Hoje em dia, ainda presto assistência técnica a várias empresas, no Douro, nos Vinhos Verdes, no Douro Superior, na Beira Alta, no Alentejo, em Bucelas e no deserto do Namibe, em Angola, e o privilégio de manter estreitas ligações com a UTAD na qualidade de Professor Emérito.