O país está a viver a sua idade de ouro nos vinhos brancos, apesar da margem de progressão ainda ser grande. E a boa notícia é que essa mudança não está a ser feita a partir da replicação das grandes castas francesas, como a Chardonnay e a Sauvignon Blanc, embora também estejam plantadas por cá. A afirmação do vinho branco português tem assentado, sobretudo, nas castas nacionais e no respeito pela sua adaptabilidade e tradição regionais, tirando partido, tal como aconteceu com os tintos, da existência de uma grande diversidade genética.
O aumento em quantidade e qualidade dos vinhos brancos do Dão, por exemplo, deve-se à recuperação da Encruzado, a casta com mais tradição local. Nos Vinhos Verdes, os motores têm sido, por esta ordem, a Alvarinho, a Loureiro e, mais recentemente, a Avesso, três castas minhotas. Na Bairrada, depois da tentação inicial por variedades francesas, o que impera são as locais Bical, Maria Gomes e Cercial. No Douro, região quente mas muito montanhosa, os produtores estão a aproveitar a frescura das zonas mais altas para produzir brancos a partir das castas regionais que antes eram usadas no vinho do Porto (Viosinho, Gouveio, Rabigato, Malvasia, etc), emulando o mesmo caminho feito nos vinhos tintos. Na Beira Interior, uma das regiões maior potencial para brancos, devido à altitude e aos solos de granito, a Síria (casta local equivalente à Roupeiro do Alentejo e à Códega do Douro) está a produzir vinhos muito minerais e elegantes.
E no Alentejo, região quente por natureza e também mais aberta a castas internacionais, a escassez de frescura natural de algumas castas com tradição local, como a Antão Vaz, a Fernão Pires e a Perrum (o Palomino Fino de Jerez), está a ser compensada com a plantação de castas de outras regiões nacionais que se destacam pela sua elevada acidez, como a Arinto, a Verdelho (Gouveio) e a Alvarinho.
Brancos de terroir
Os chavões “vinho é tinto” e “o tinto é para homens e o branco para mulheres” soam já a bafio. Poderá haver, isso sim, uma preferência das mulheres por vinhos mais leves e sem madeira. Mas tanto bebem tinto como branco. A obsessão por brancos novos, acabados de produzir, também começa a desvanecer-se. Antes, havia uma razão para isso; os vinhos eram tão mal feitos que oxidavam depressa. Agora, com os meios disponíveis que existem, fazem-se brancos duradouros, capazes de evoluir admiravelmente em garrafa.
Depois de uma fase tecnológica, em que o objectivo era fazer vinhos brancos muito exuberantes, os produtores preocupam-se mais com o terroir, com o respeito pela expressão natural das castas, pelo clima, pelo solo e pela tradição local. Já se entrou na fase da precisão e das propostas alternativas. O debate versa em torno de fazer brancos com ou sem barrica, com leveduras industriais ou com leveduras indígenas, com ou sem curtimenta, por hiperoxidação ou em ambiente redutor, de forma convencional ou sem sulfitos.
A euforia pelos brancos está aí e basta ler o que escrevem os principais críticos de vinhos internacionais que nos visitam para perceber a sua surpresa pelo enorme aumento da qualidade dos vinhos brancos nacionais e como é neste segmento que o país mais tem evoluído. Até há bem pouco tempo, todos os grandes players do Douro ou do Alentejo, por exemplo, regiões com mais vocação para tintos por causa do calor, baseavam o seu portefólio quase só nesse segmento. Actualmente, é raro o produtor alentejano ou duriense que não produza um ou mais brancos.