Fugas - Vinhos

  • Adriano Miranda
  • Nelson Garrido
  • Nuno Alexandre Mendes

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A idade de ouro dos vinhos brancos portugueses

Nas zonas do litoral, mais frescas, essa mudança está a fazer-se de forma mais natural. No início, em particular na zona de Lisboa, a aposta incidiu muito em castas estrangeiras. Os nomes Chardonnay ou Sauvignon Blanc eram muito mais apelativos, sobretudo para os turistas. Nos anos mais recentes, com a importância da diferenciação no mercado global do vinho, a opção por castas nacionais, como a Alvarinho, a Arinto ou até mesmo a Viosinho, variedades que originam vinhos aromáticos e cheios de frescura, tem vindo a aumentar de forma considerável.

A palavra-chave é mesmo esta: frescura. O que torna um vinho branco apetecível é, acima de tudo, a sua frescura, quase sempre superior à do vinho tinto. Um vinho fresco cansa menos o palato (embora um vinho excessivamente ácido também cause repulsa). Por essa razão é que este tipo de vinho foi sempre associado ao Verão. A associação ainda continua a fazer sentido, pois é no Verão que mais apetece beber vinho branco. Por uma questão química: o calor pede-nos comidas e bebidas mais frescas e o frio comidas e bebidas mais quentes. Mas até este determinismo climatérico está a diminuir em Portugal. Há cada vez mais brancos ditos de Inverno, vinhos normalmente fermentados e estagiados em barrica, encorpados e que não devem ser bebidos tão frescos quanto os brancos leves e joviais.

O consumo de brancos é como o turismo: está menos sazonal. E também deixou de estar confinado a um grupo restrito de críticos e de enófilos. “Há cada vez mais gente a consumir vinho branco. O maior crescimento de vendas é nos brancos, sem dúvida”, assegura Luís Cândido, proprietário da Garrafeira Tio Pepe, no Porto. “Hoje, produzem-se bons vinhos brancos em qualquer região do país. E a ideia de que o branco tem que ser um vinho barato já não faz sentido. O preço deixou de ser fundamental. O consumidor já não se importa de pagar bem por um bom branco”, acrescenta.

Nas grandes superfícies, onde o consumidor comum se abastece, não será bem assim. Aí, o factor preço continua a ser decisivo. Mas, mesmo puxando perigosamente os preços para baixo, mesmo vendendo acima de tudo vinhos baratos, os hipermercados também têm tido um papel fundamental na democratização do consumo e no aumento da oferta de vinhos brancos. Do mesmo modo, o sucesso de marcas como o Gazela e o Casal Garcia - revelador de que o gosto por vinhos adamados e com gás carbónico, responsáveis por uma fatia muito importante das vendas nos Vinhos Verdes, ainda está muito enraizado entre nós -, não pode ser motivo de vergonha. É graças ao dinheiro gerado por estas marcas de volume que empresas como a Sogrape ou a Aveleda têm vindo a ampliar os seu negócios e a produzir mais e melhores vinhos.

Para além de que não se chega a consumidor de Montrachet de um dia para o outro. Quase todos nós começámos a nossa educação vínica por vinhos mais simples. O caso de Robert Parker, um dos gurus do vinho (já menos do que foi), é, aliás,  exemplar. Um dos vinhos marcantes do seu percurso foi o Mateus Rosé, que provou e adorou quando passou por Lisboa durante a sua lua-de-mel.

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