Fugas - Vinhos

  • Manuel Roberto
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Entre o Pico e São Jorge com vinho, queijo e conservas

Chamam a São Jorge a “Ilha Castanha”, mas só se for pelo queijo, porque a paisagem é tão verde como a de São Miguel. Ao longe, São Jorge parece uma baleia deitada. Ao perto, é uma ilha estreita mas muito montanhosa e pastoril.  Em dias limpos, é possível avistar dos seus pontos mais altos as ilhas do Pico, Faial, Graciosa e Terceira. Dos seus miradouros avistam-se também algumas das dezenas de fajãs que a erosão das escarpas foi criando. São pequenas manchas mais ou menos planas de terra arável, situadas mesmo junto ao mar. À maioria só se chega a pé, de moto quatro ou de barco. É o caso da Fajã da Caldeira do Santo Cristo, a mais famosa de todas, pela beleza do lugar e por ser um santuário de ameijoas, outra das atracções gastronómicas da ilha. 

A São Jorge, valha a verdade, só falta mesmo o vinho (até café produz, nas Fajã dos Vimes!) . Produz algum de “cheiro” (o chamado morangueiro), mas mesmo este tipo (menor) de vinho atinge outra qualidade no Pico. As famílias ricas do Faial sempre souberam do potencial do Pico para a produção de vinhos. Durante séculos, fizeram desta ilha lugar de férias e adega, condenando a população local a um estatuto social inferior. A “subserviência” só terminou com a filoxera, na segunda metade do século XIX. A praga arrasou as vinhas e os picarotos puderam comprá-las a bom preço, mesmo não as trabalhando. Como sublinhava Manuel Serpa,  “a filoxera foi a libertação do Pico”. Quem diria. Agora, donos únicos das suas terras, os picarotos estão a voltar-se de novo para a vinha e a começar a fazer vinhos de nível mundial. Sim, mundial. Não é nenhum exagero.

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