Os castelos da raia que defendiam Portugal asseguravam a paz ao resto do país e olhavam com atenção para as terras de Espanha, até perder de vista. Almeida é uma destas vilas fortificadas, onde desde o século XII se foi definindo e alterando, em permanentes lutas, a linha de posse do território leonês, muçulmano e português. Finalmente, em 1297, pelo Tratado de Alcanizes, D. Diniz assegura a posse definitiva de Almeida e concede-lhe foral. Mas em todos os séculos se voltou, a preço de muitos ataques e mortes, a perder e a recuperar até que em 1641, logo a seguir à restauração da nacionalidade, se inicia a construção de uma fortaleza inexpugnável defendendo a fronteira do nosso país sobre o vale declivoso do rio Côa.
Quando vista de cima, forma uma estrela com sucessivas linhas de baluartes, no entanto, quando nos aproximamos da fortaleza só vemos a linha rente ao solo dos muros de fora, a porta de entrada, os ciprestes, o sino da igreja e um enorme freixo que se instalou junto à cortina de fora do forte. Não nos apercebemos da obra humana construída em planta, formando uma estrela de doze bicos (seis baluartes, intercalados com seis cortinas com revelins), inexpugnável nave de batalha que lá de dentro impedia a entrada inimiga no território nacional. Vista do céu, a duas dimensões, Almeida impõe-se à paisagem com muita força e visibilidade, mas a três dimensões a paisagem absorve-a visualmente, pois a fortaleza está numa elevação e não sobressai.
As vistas que encontramos a partir da fortaleza são por isso suaves e não dramáticas sobre a paisagem em redor, e não encontrámos um miradouro que correspondesse à marca fortíssima na paisagem que levávamos no nosso arquivo visual. Na visita aos vários círculos de baluartes, revelins, cortinas e fossos, canhoeiras e plataformas de lançamento de morteiros, guaritas e paramentos em talude, dois possíveis miradouros se identificavam neste ponto remoto de Portugal: para nascente, junto ao cemitério, um largo com ciprestes que enquadrava a paisagem de Espanha e para poente, num dos baluartes do forte, um ponto sob um freixo enorme que dominava toda a vista para a raia de Portugal. Optámos por poente e pelo volume vertical da árvore que contrasta com a sucessão de linhas construídas horizontais dos baluartes de Almeida. Colinas ondulantes sucedem-se revestidas a azinheiras e terrenos de semeadura áridos, e apesar de faltar um banco donde apreciar a paisagem em tempos de paz, é dali que se vê onde começa Portugal.