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António Sachetti

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Castelo de Montemor-o-Velho, O monte maior

Por Margarida Paes ,

Ao longo de 20 semanas, a Fugas destaca outros tantos miradouros, o nosso património das vistas. Hoje paramos em Montemor-o-Velho.

Montemor, o Monte Maior, é realmente o monte mais alto desta lezíria do Mondego, plana e lisa como uma colcha dividida em quadrados de verdes diferentes. O Castelo de Montemor-o-Velho foi construído pelos árabes ainda no século VIII e a partir dali irradiava para os campos do Mondego uma população de agricultores que, ao longo dos tempos, foram trabalhando os campos alagados pelas cheias até conseguirem terreno fértil para as grandes sementeiras de linho e trigo que precederam o actual cultivo do milho.

O sítio do castelo foi bem escolhido para ter o máximo de visibilidade e por isso quem percorre a muralha consegue, ainda hoje, ter a máxima vista e gozar do caminho de ronda como de um miradouro contínuo. Atrás das muralhas do castelo, um torreão, tal como em Granada o Alhambra servia de alcáçova aos senhores da altura e dali se avistava a paisagem em redor: a foz do Mondego a 12 km, o rio navegável até Coimbra, a grande planície agrícola recortada por montes, as valas acompanhadas de linhas de choupos, amieiros e salgueiros que serpenteiam, verticais na planura verde. A igreja do castelo foi adaptada à antiga mesquita do período islâmico de Montemor. Do Paço Real restam pedaços de parede em ruína que enquadram a vista para sul de forma surpreendentemente bela.

D. João I deu o castelo ao seu filho Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, o das sete partidas que percorreu a Europa até ao Médio Oriente e de Veneza trouxe o precioso Mapa-Múndi de Marco Polo. D. Pedro, que gostava de Montemor e aí ficava frequentemente, estabeleceu as regras para que as valas da lezíria estivessem sempre limpas e escoassem a água ou servissem para regar. O regulamento dos valadores de D. Pedro mostra bem o cuidado na manutenção desta preciosa terra de produção ganha ao longo dos séculos aos pauis pantanosos do Baixo Mondego. “Foi titânica a sua luta para regularizar as águas do Mondego. Obra de vulto para a qual o Infante carrearia muitos dos seus conhecimentos de homem viajado.” O resultado deste esforço continuado de séculos, iniciado pelos árabes, continuado pelos monges de Cister e de Santa Cruz, e prosseguido pelos valadores de D. Pedro, é a produtividade e a beleza da grande planície do Baixo Mondego bem à vista do castelo de Montemor.

As paisagens descobrem-se entre brumas matinais no Outono, entre verdes férteis no Verão enquanto o milho e o arroz crescem. No Inverno a grande planura é marcada pelas árvores despidas e altas que acompanham as tão famosas valas.

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