Entre vidoeiros de troncos brancos a paz é muita, mesmo com grelhadores e bicas necessárias ao campismo, porque há muito espaço organizado em clareiras rematadas por linhas de água que vão dar ao Zêzere nascente. São estes os seus pequenos e primeiros afluentes, de novo com margens acompanhadas de vidoeiros. O efeito de longe é de manchas de sol cortadas pelas silhuetas dos troncos, como um código de barras.
É ali que nasce o Zêzere e os serviços florestais, ainda antes do Serviço Nacional de Parques, fizeram este rio de montanha desacelerar a sua corrida para o vale de Manteigas, deter-se ali um pouco atrás de paredões de pedra, criando grandes superfícies onde o céu se espelha, seguindo depois num largo leito silencioso entre muretes, passando por baixo de uma ponte e dando água aos vidoeiros (Betula celtibérica) plantados nas suas margens.
Quando vêm as chuvas de Outono ou quando a neve cobre todo o chão, o Zêzere engrossa e manda em tudo, ouve-se bem a sua água em cascata lançando-se no vale, depois de servir de espelho aos vidoeiros que nesta estação se transformam em árvores de copa amarela e cobrem a superfície da água com uma camada de folhas. O leito do rio foi encaminhado entre muretes bordejados destas árvores de troncos brancos e o caminho sobre a ponte oferece-nos a magia misteriosa da simetria do reflexo e do murmúrio da água.
Este não é um jardim mas foi desenhado por alguém que o criou como que um miradouro invertido para vermos de baixo para cima. Vamos avançando entre árvores e grandes penhascos, e é preciso chegar ao fim de todas as clareiras, ao fundo deste covão, para descobrir o majestoso cântaro Magro, de onde, na Primavera, depois das neves, se lançam mil cascatas que se juntam para fazer nascer o Zêzere. O anfiteatro de pedra criado pelos cântaros Magro e Raso é tão majestoso e arrebatador visto de baixo que não podia ser esquecido nesta procura do nosso património de vistas.
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O miradouro invertido