Árvores sem idade. Paira um amor maior do século XIV. Uma família de fidalgos mandou construir um palácio no século XVIII. Um grande incêndio quase devorou tudo. A casa senhorial foi reconstruida no século XIX e reconvertida em hotel no século XX. Já neste século, ganhou uma extensão. Tantos tempos se combinam na Quinta das Lágrimas, na margem esquerda do Mondego, em Coimbra!
O portão abre-se para uma alameda. É só percorrê-la, sob um tecto de arvoredo, até ao pequeno palácio, que voltou a ter as paredes a branco. Sobre a porta principal, o brasão da família Osório Cabral e Castro. A recepção fica logo em frente. Há que orientar quem chega para a esquerda ou para a direita.
Do lado esquerdo do solar, os quartos. Já não são todos diferentes, como antes da remodelação em curso. Apesar das formas distintas, seguem agora a mesma linha decorativa. Desapareceram os floreados coloridos das paredes. Venceram os tons neutros, que criam uma ilusão de mais espaço. “Tem de haver alguma coerência”, diz o director, Pedro Catapirra. “Havia comentários muito diferentes, tanto para o bem como para o mal.”
Nem só a decoração interfere na escolha dos hóspedes. “Há quem goste de ficar no palácio, porque é antigo, e quem não goste, porque o chão é de madeira, range, ouve-se quem está ao lado”, aponta. Para esses, há a parte nova, com quartos virados para os jardins e quartos virados para a mata ou para a cidade. O arquitecto Gonçalo Byrne, grande Prémio da Academia de Belas-Artes de Paris, desenhou essa ala há uma dúzia de anos.
Do lado direito do solar, a área social. A biblioteca, forrada de livros antigos, convida ao recato da leitura. O pequeno bar, com acesso livre à garrafeira, não é só para hóspedes, abre-se à cidade. “Há gente de Coimbra que vem aqui receber gente importante”, comenta ainda Pedro Catapirra. Os restaurantes também.
O restaurante Pedro & Inês oferece um ambiente mais informal e um cardápio de opções mais ligeiras. Já o restaurante Arcadas responde ao requinte da alta cozinha do chef Vítor Dias, que dá preferência aos produtos da região e se gaba de se servir das ervas aromáticas dos jardins e das frutas do pomar da quinta.
Se o tempo deixar, os comensais podem comer lá fora, na esplanada, de olho nos lendários jardins. E degustar uma terrina de foie-gras com abacaxi em aroma de tomilho gelado; creme de espinafres e folhado de ricotta; tártaro de vitela e codorniz caramelizada com molho de mostarda antiga; salmonete fumado, cremoso de ervilhas e pérolas coloridas; granizado de gin; tronco de pato, frutos silvestres e gnocchi de laranja; pétalas de abacaxi e pimenta rosa, aromas de coco e pão-de-ló; café; petit fours.
A carta de vinhos reúne centenas de referências nacionais e internacionais. Revela uma fortíssima aposta nas duas regiões vinícolas mais próximas, o Dão e a Bairrada.
O enólogo José Carlos Lucas criou um tinto Pedro & Inês. “Fomos buscar o Alfrocheiro ao Dão e a Baga à Bairrada”, conta Caroline Zagal, subchefe de mesa. “O Alfrocheiro perfumado, frutado, falamos de Inês. E o Baga robusto, majestoso, falamos de Pedro. Juntando as duas castas, fez-se a história de amor em vinho.” Diz algo parecido sobre o branco, que alia um Encruzado, nobre, Pedro, a um Bical, elegante, Inês.
- Nome
- Hotel Quinta das Lágrimas
- Local
- Coimbra, Sé Nova, Rua António Augusto Gonçalves
- Telefone
- 239802380
- Website
- http://www.quintadaslagrimas.pt/