Deixamos para trás o sol e o calor, a meio da tarde de um sábado. Dizem-nos que em Óbidos são habituais os dias cinzentos, meio nublados, fruto do microclima da região. Engolimos em seco a pensar na piscina onde, afinal, não vamos mergulhar e na roupa que não trouxemos para a noite, que promete ser fria. Mas não faz mal. Na Casa d"Óbidos, espera-nos uma viagem ao século XIX, um sono prolongado num quarto com vista para o castelo e um pequeno-almoço de rei. Pedir mais para quê?
Passar pelos muros caiados, delineados a amarelo, e dar de caras com a enorme casa branca tem algo de romântico e de místico ao mesmo tempo. É como entrar num enorme livro de história, cujas páginas desfolhamos à medida que conhecemos cada recanto.
Para lá da porta principal, fica a cozinha à esquerda e uma pequena sala à direita, mas não é por aqui que nos detemos. Um corredor comprido, pontuado por quadros com cenas bucólicas, leva-nos até à recepção decorada com móveis de estilo inglês. Das janelas, pendem enormes cortinas floridas, presas por varões de ferro trabalhado. Ao canto, um relógio de pé antigo. Se não desse horas certas, diríamos que a Casa d"Óbidos parou no tempo.
Tudo - desde os tecidos ao mobiliário - foi cuidadosamente escolhido para manter a decoração senhorial, com um estilo clássico e requintado. É assim em toda a casa, desde os quartos às casas de banho, desde a sala do pequeno-almoço até à sala de estar. Os donos, Helena e Fernando Sarmento, fazem questão de manter a traça original da casa, por fora e por dentro.
A responsável da Casa d"Óbidos, Mariana Baptista, conta-nos a história da casa enquanto nos leva até ao primeiro andar. A habitação foi construída em 1889 pelo engenheiro Garrelon, que integrava a equipa de Gustave Eiffel. Garrelon mudou-se para Óbidos, onde foi chefiar a construção da linha de caminhos-de-ferro do Oeste, e acabou por se apaixonar por uma mulher. Resolveu ficar e construir aquela que é hoje a casa principal da quinta, um enorme edifício senhorial inspirado nos traços das antigas estações de comboio, mesmo ao lado de outra mais pequena, que tem mais um século.
A toda a volta, Garrelon foi adquirindo dezenas de hectares para exploração agrícola ao longo da várzea - chamada várzea da rainha, porque a vila fez parte dos dotes das rainhas de Portugal desde que D. Dinis a ofereceu como prenda de casamento à Rainha Santa Isabel, até 1834.
Sobrava pouco mais de um hectare quando o terreno, hoje Quinta de São José, chegou às mãos dos actuais proprietários. Os dois reabilitaram a casa e resolveram criar uma unidade de turismo de habitação, abrindo a Casa d"Óbidos ao público em 1998. Hoje a propriedade inclui piscina, campo de ténis e um pomar com árvores de fruto. Ideal para passear e ouvir (só mesmo) o som dos pássaros.
Quartos como num filme de época
Subimos as escadas, iluminadas por uma enorme clarabóia, atrás de Mariana. O som dos passos ecoa no soalho de madeira antiga e pensamos que vai ser difícil andar ali sem acordar toda a gente.
Ficamos num dos seis quartos da casa grande. A cama - que, ao final da tarde, nos vai amarrar de tal forma que perdemos a noção do tempo - até é a menor das atracções. Detemo-nos à janela, a contemplar o castelo e o verde da paisagem. A casa de banho lembra as do século XIX, com traços antigos e cheios de pormenores. Da banheira, ao lado da janela, temos também vista para as muralhas.
- Nome
- Casa d'Óbidos
- Local
- Óbidos, Óbidos, Quinta de S. José
- Telefone
- 262950924
- Website
- http://www.casadobidos.com