Fugas - hotéis

  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos
  • Fernando Veludo/Nfactos

Continuação: página 2 de 3

Esta casa dava um conto

Foi assim até cerca de uma semana antes da abertura, em Março de 2009. Numa noite, tudo se transformou em cinzas; nessa mesma noite Alexandra Grande decidiu que "tudo" ia ressurgir, qual Fénix. "Foi um gesto de loucura, mas pensei "Vou ter de concluir este processo"." Agora, sabe que o incêndio faz parte dele. As fotos exibem-se pela casa como um álbum de memórias. "Nunca passou pela cabeça reconstruir igual", assume Alexandra, "quis fazer quase um statement, uma casa contemporânea, com pontes para o passado".

Os sócios desistiram, continuaram Alexandra e Nuno, que tudo limparam e da estrutura da casa fizeram a capa, substituindo os tabiques de madeira pelo betão que agora vemos. O mesmo - e voltamos ao início - onde se inscrevem alguns capítulos da história desta casa e da própria ideia de casa, explica-nos Alexandra: todas as suites têm textos, de arquitectos e uma poeta (que dão o nome ao quarto) de alguma forma ligados à cidade, que cofrados e recortados no tecto sublinham a personalidade de cada uma, como uma marca de nascença (esta espécie de revisão da função dos antigos estuques já mereceu vários prémios de design).

Porque, neste hotel, que é uma casa, que é um projecto arquitectónico (do colectivo Pedra Líquida) de identidade marcada e marcante, nenhuma suite é igual a outra. Há pontos em comum, claro, o mais curioso as janelas sobre as escadas herdadas da vida anterior (um misto de voyeurismo e de necessidade de iluminação), fechadas com portadas, que, tal como as dos guarda-roupas e das casas de banho, são planas, "como capas de livros", abertas pelos "marcadores"; o mais original as casas de banho, uma "caixa" de betão implantada na cabeceira das camas; o mais pragmático, as kitchenettes, de tamanhos diferentes que tornam as suites numa casa dentro da casa: as maiores estão nas traseiras, nichos graníticos num canto das antigas marquises, que agora fazem a vez de uma pequena sala (excepto no último andar, onde uma varanda perscruta a cidade) - as suites da frente, não tendo essas marquises, jogam com a estrutura pré-existente incorporando antigas varandas, granito e ferro, em fachadas de vidro.

Entre as peças de mobiliário há algumas transversais, como as camas imaculadamente brancas, o armário da televisão que se alonga em pousa-malas, os sofás, mesa e cadeiras em jogo de materiais (madeira, vidro, metal...), e algumas peças únicas a cada um, como um ou outro espelho extravagante ou os candeeiros de pé de assinatura que também povoam os espaços comuns de cada andar.

A sala, no rés-do-chão, é um compósito de todas as ambições decorativas da Casa do Conto: sofás retro, cadeirões de cabedal gasto, chaise-longue de veludo negro com botões, piano, espelho dourado XL encostado, mesas baixas (jornais e revistas nacionais e estrangeiros), televisão e cesto de brinquedos. Na sala do pequeno-almoço estamos no "rés-do-jardim" e no -1 da casa, onde pela manhã o aparador se enche de pães, croissants, brioches, iogurtes, fruta, sumos, cereais e minipanquecas, cada dia com sabor diferente (calhou-nos de pêssego, como nos esclareceu Lydia, um dos dois funcionários permanentes da casa). Aqui, as portadas abrem imediatamente para um pátio granítico (abrigado pela escadaria, pedra e ferro, que sai do rés-do-chão), que depois segue em relvado, pontuado de espreguiçadeiras, cadeiras e cadeirões onde pendem mantas, escassas ilhas entre os muros de granito, vegetação incipiente, tanque de pedra, que a noite ilumina com focos e candeeiros que são cubos. Daqui, observe-se a fachada traseira para descobrir mais um piscar de olho ao passado: o betão compõe ondulações que imitam a chapa tão característica do Porto.

Nome
Casa do Conto
Local
Porto, Porto, Rua da Boavista, 703
Telefone
222060340
Website
http://www.casadoconto.com
--%>