Fugas - hotéis

  • Nuno Ferreira Santos
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Em Marvão, estendidos à beira do rio

Por Filipe Escobar de Lima ,

Pelo hotel Sever, as vistas são prazenteiras, o ambiente é de casa de família e a comida enche todas as medidas. Uma pausa num Alentejo interior feito de vestígios romanos, histórias mouriscas e refúgios guerreiros.
Marvão é muitas coisas, entre elas um castelo. Isso toda a gente sabe. É para lá que vamos, deixando Lisboa para trás a hora e meio de carro. Trocamos o Verão precoce e adiantado que chegou à capital em Março para nos fazermos ao Alentejo interior, fronteiriço, fresco e escondido no nevoeiro.

Marvão é, também, um rio. O Sever, essa serpente de água que separa Portugal de Espanha, divide a Península em partes desiguais e invade as suas próprias entranhas. Nasce na serra de São Mamede para escorrer sobre si próprio, unir-se-á ao Tejo na barragem de Cedillo, no fim do seu troço internacional. É junto à sua margem que estacionamos. É ali que está a antiga Residencial Sever, deitada ao seu lado, estendida.

Apetece esticar as pernas, deixá-las relaxar à beira do Sever. Nesta altura do ano ainda corre fraco, está à míngua, tão baixo e rasteiro que quase nem se vê, mas ao mesmo tempo que parece desaparecer faz-se notar, pelo seu burburinho, marca a sua presença.

Encontramos Julieta Garraio. Ao almoço, claro, que isto de ser alentejano não é só proveito, tem de se dar forma à fama de bom anfitrião, tanto como à fama de bom comensal. De sorriso largo, abre-nos a mesa. Sabemos que estamos em casa.

O Sever Rio Hotel, o novo três estrelas no coração do Parque Natural da Serra de São Mamede, na Portagem, vê o rio correr, cá em baixo, a olhar para o castelo, esse rochedo lá em cima. O restaurado hotel, com 14 quartos (uma diária de 60 euros na época baixa e 80 na alta) é o resultado de uma reconversão da Residencial Sever, que não aguentou o peso da idade (vinte anos) e fez-se moderno.

Por baixo, fica o restaurante, com uma ampla vista de vidro para o rio - no Verão tem uma esplanada, à sombra das tílias e dos plátanos, e há sempre a tentação de nos refrescarmos na piscina natural do Sever. É uma antiga história de família, esta, quando o pai de Julieta, há 40 anos, decidiu abrir o restaurante. Vinte anos depois, foi a vez da residencial. Agora, o hotel.

Os Garraio são tão resistentes como a vila. Outrora tão fechada e na defensiva, esta antiga atalaia dos romanos e refúgio de guerreiros, na sua crista granítica, é hoje uma fortaleza aberta. Apesar do frio tão típico no Inverno, e da intensa neblina que nos recebeu e escondeu o castelo, o convite é para caminhar pelos seus trilhos, pejados de feridas intemporais. Foi a mais inexpugnável das vilas do reino de Portugal, passou pela crise de 1383-85, a Guerra da Restauração, sentiu os efeitos da sucessão de Espanha, participou na Guerra das Laranjas, das invasões napoleónicas às guerras peninsulares e liberais. Ufa!, é tudo isto que nos oferece, sem tentar ocultar o passado.

Os orgulhos

Marvão é também uma espécie de passagem. Para nos provar isso, existem os vestígios da cidade romana de Ammaia, essas ruínas dos séculos V e IX e que mostram a importância que Roma dava a este posto na fronteira. Hoje, são muitas as camionetas que chegam de Lisboa rumo a Espanha (na rota para Madrid) ou no sentido inverso.

Outro orgulho do vilarejo é a comida. As especialidades da região são muitas e é imprescindível provar a sopa de castanha ou a de sarapatel (miúdos e sangue de borrego com fatias de pão, tudo mergulhado num caldo picante), o ratatau, o coelho de cachafrito ou a tomatada de galinha. Se ainda tiver barriga, siga a tentação do pão de rala com castanhas ou a tarte aramenha.

Nome
Hotel Sever
Local
Marvão, São Salvador da Aramenha, Portagem - São Salvador da Aramenha
Telefone
245993192
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