Mas nem só de lendas se faz a história deste convento. Há factos bem reais, que pela sua peculiaridade merecem ser lembrados. Um deles prende-se com as invasões francesas. Por alturas da terceira invasão – corria o ano de 1812 –, estando os franceses próximos da Sertã, o guardião deste convento resolveu pedir à Coroa que enviasse armas aos frades para que estes pudessem defender convenientemente uma ponte que dava acesso ao edifício.
Este relato histórico é-nos apresentado por Carlos Marçal, proprietário da TuriSertã (empresa responsável pela gestão desta unidade), no interior de um dos quartos, de onde podemos avistar a ponte que os frades tanto queriam defender. Aliás, Carlos Marçal aproveita o momento para chamar a atenção para a envolvente do hotel: “Estamos no centro da vila da Sertã, numa das suas zonas nobres, contornados por duas ribeiras maravilhosas e por um coberto arbóreo de excepção. Este é um local de sonho para qualquer investidor hoteleiro.”
De sonhos se fez também a construção deste hotel. O projecto começou a ganhar forma a partir de 2010, altura em que a Câmara Municipal da Sertã decidiu avançar com um concurso público com vista à recuperação do edifício e à sua transformação em hotel. O concurso foi ganho pela TuriSertã, que arrancou com a obra um ano e meio depois.
Quartos com história
Os quartos desta unidade hoteleira estão imbuídos de história. Cada um deles foi baptizado com o nome de uma personalidade ligada à memória do convento (em cada quarto um pequeno destacável oferece-nos a história do convento e uma pequena biografia do visado). O nome dos frades predomina, mas aqui também se pode encontrar o de outras figuras como Clementina Relvas, irmã de José Relvas – o homem que anunciou, em Outubro de 1910, a chegada da República nas varandas da Câmara de Lisboa.
Percebendo a nossa estupefacção pela escolha de um nome tão aparentemente desligado da história do convento, Elsa Marçal rapidamente nos elucida. “Antes de darmos início à construção do hotel, fizemos um rigoroso levantamento histórico deste local – antes e depois de ter sido convento –, e descobrimos por exemplo que, após o seu encerramento em 1834, foi concedido a Carlos Mascarenhas como meio de pagamento pelos serviços prestados por este enquanto Governador Civil de Santarém”. O resto da história conta-se de uma penada – Carlos Mascarenhas, tendo morrido sem descendência, legou o edifício ao irmão Simão José de Mascarenhas, que, por sua vez, o entregou a Romão Luís de Mascarenhas e, mais tarde, à sobrinha deste último, Maria Clementina Relvas (habitou no edifício nos anos de 1891 e 1892).
A vida de excessos e opulência que Maria Clementina Relvas levava ainda perdura na memória colectiva da população: “Dizia-se que fumava tabaco estrangeiro e que acendia os cigarros com notas a arder”, conta Carlos Marçal, para logo acrescentar: “Era uma das poucas habitantes que tinha carruagem e os seus vestidos vinham directamente de Paris. Numa terra em que a pobreza alastrava, os habitantes não ficavam indiferentes a estes excessos”. Todavia, Clementina Relvas é ainda lembrada pela sua faceta de benemérita: “Ajudou muita gente pobre e deixou avultadas somas de dinheiro para obras de caridade no concelho. A sua ingenuidade conduziu-a à desgraça, visto que foram também vários os que se aproveitaram maliciosamente da sua boa vontade”, revela Elsa Marçal.
- Nome
- Convento da Sertã Hotel
- Local
- Sertã, Sertã, Alameda da Carvalha
- Telefone
- 274608493
- Website
- http://www.conventodasertahotel.pt/