Fugas - hotéis

  • Helena Flores
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Em casa, de olhos abertos para a paisagem

Situada na berma de uma estrada de montanha, a EN 202-2, que nos leva para Monção, Sistelo é uma boa surpresa. Tem uma casa com torre a dar-lhe ares de castelo, obra de brasileiro torna-viagem, a precisar de um grande restauro, mas, para lá disso, já muito trabalho foi feito para requalificar o casario e o espaço público que se desenvolve dos dois lados da via. A parte mais baixa, central pela presença da igreja, tem a seus pés o rio Vez, que aqui se confunde com um pequeno ribeiro. Mas o que espanta mesmo é toda a paisagem em que a aldeia se insere. Quilómetros de socalcos, rasgando, sinuosos, as encostas, e que nesta fase do ano estão pontuados de medas de milho, a parecerem-se com cabanas.

Chegamos na altura da desfolhada, e umas mãos para ajudar são sempre bem-vindas. O mulherio, todo de preto, trabalha e conversa com uma destreza ímpar, abrigada do sol de Setembro por uma ramada cujas uvas já se comem. A Raquel David conversa e trabalha como elas, e em cinco minutos percebe o que há que fazer às centenas de canas de milho miúdo ainda por desfolhar. É preciso um esforço para a tirar dali. Ela que nunca tinha visto tanto cereal, assim amarelo, espalhado ao sol na eira dos espigueiros da aldeia, percebe, fruto do acaso, uma parte importante do ciclo de um dos seus alimentos favoritos. E há-de falar disso durante dias.

Acabámos por sair e espreitar um troço de um dos vários trilhos que passam por aqui, descendo até ao rio Vez. É possível atravessá-lo, por uma pequena ponte, e subir a encosta, para ver a aldeia de um outro patamar. Pelo caminho, estamos sempre sob ramadas de videiras, com água a correr, entre as pedras. Ela é assim levada, patamar a patamar, para alimentar estes campos, terrenos ganhos à força de braços ao declive, acentuado, destas montanhas. E o que espanta em Sistelo, pelo menos na parte que a vista alcança daqui, na principal povoação da freguesia, é ver quilómetros de socalcos e tão pouca gente para os trabalhar.

O espanto é apenas fruto de um deslumbramento sem reflexão. Pensando um pouco, percebe-se que Sistelo não é nada diferente de uma boa parte do país. Despovoado apesar de belo, porque a beleza esconde uma dureza de viver que o simples passeio não revela. Daqui muito se emigrou e pouco se regressou. O investimento que foi entretanto feito permitiu fixar algumas pessoas, em torno do turismo de habitação, mas urge fazer mais. João Paulo Serôdio, portuense que se instalou nos Arcos por causa da mulher, está a fazer a sua parte. Como Hugo, o pastor de Sistelo, ele também forasteiro, que proporciona experiências de pastoreio por um dia a quem o desejar (basta combinar com os donos da Quinta da Lamosa).

Está visto que João, antigo velejador, agora mais dado às actividades de montanha, fez ele também o seu caminho de descoberta. À volta da quinta, a metros ou quilómetros, não faltam pessoas a fazer coisas interessantes, e importantes, e ele quer mostrar, valorizar o território e o parque nacional. É provável que agora já se consiga comer na casa, a pedido, o queijo de cabra que um casal amigo (mais gente de fora) se preparava, naqueles dias, para começar a comercializar. Ou visitar a exploração onde ele se produz - nada longe, por sinal, de uma outra quinta onde se cultivam ervas aromáticas.

Nome
Quinta da Lamosa
Local
Arcos de Valdevez, Gondoriz, Lugar da Zebra
Telefone
914509049
Website
http://www.quintadalamosa.com
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