Um quarto podia ser apenas um espaço onde dormir. Uma cama. Lençóis lavados e um colchão confortável que nos puxe pelos sonhos. Mas nunca é assim. E se mesmo a experiência de dormir numa minúscula cápsula, como as que existem em diversos hotéis por esse mundo fora, vai muito para além do conforto da cama, o que dizer quando o quarto se abre para a natureza em redor, usando-a, assim verde, para garantir toda a privacidade?
Na Quinta da Lamosa, em Gondoriz, Arcos de Valdevez, é assim. João Paulo e Carla Serôdio cuidaram de erguer um projecto de turismo de habitação em que o descanso pode ser contemplativo. Uma cama em que apetece dormir de olhos abertos para a paisagem, de ouvidos abertos para os piares das aves que, aqui, mesmo à noite, parecem ser de bom agoiro. E tudo isto num lugar em que, poupados à cegueira das luzes da cidade, o céu se nos oferece pleno de estrelas.
Começamos pela noite, porque é o momento em que as casas da Quinta da Lamosa ganham o ar de esculturas na paisagem. Seja ela a Casa da Corte, erguida, madeira sobre pedra, sobre a memória de um estábulo de animais; sejam eles os espigueiros, à moda dos Horreos da Galiza, transformados em T0 nos quais, e sob os quais, em dias amenos, apetece estar. Mas não ficamos numa destas "casas com perninhas" - onde cabem três, graças a um sofá-cama, mas o espaço, na verdade, não abunda. Uma escolha que provocou uma pequena desilusão à pequena Raquel David, que se imaginou num conto infantil mal lhes viu as fotografias.
Não foi tristeza que durasse. Não foi nada que cinco minutos na quinta, e um banho nas águas calmas do rio Vez, a seguir, não conseguissem fazer esquecer, como aconteceu. Em contraponto, só o quarto de dormir da Casa da Corte duplica o espaço de um espigueiro, com a vantagem de se abrir, num painel envidraçado, para uns carvalhos na meia-idade, que hão-de ser mais belos ainda agora que o Outono lhes dá umas cores quentes. No piso mais baixo, a cozinha está preparada para tudo - mesmo para quem lhe apeteça, como foi o caso, transformar umas amoras colhidas no caminho numa deliciosa compota.
A escassos metros de um ribeiro que segue para o rio Vez, numa quinta que é Lamosa de nome porque já foi, um dia, margem enlameada daquele curso de água, a paisagem entra-nos olhos dentro, e não há melhor calmante, ou inspiração. João Paulo Seródio fala-nos de uma cliente habitual, italiana, que costuma não sair da quinta, passando os dias a tocar violoncelo. Nós não sabemos tocar violoncelo, mas temos à mão, no telemóvel, uma aplicação chamada Star Walk, que nos ajuda a olhar o céu, à noite, e aprender, das estrelas, o nome e a mitologia das constelações. E foi o que fizemos, na companhia de um ou outro morcego.
De dia, há outros apelos neste lugar. Estamos à porta do Parque Nacional da Peneda-Gerês, num concelho, o de Arcos, que tem no seu território alguns dos lugares humanizados mais interessantes da mais importante - e desleixada - área protegida do país. A Vila do Soajo está a alguns quilómetros, o Santuário da Peneda a alguns mais, mas nada longe. Mas, conhecendo como já conhecíamos aqueles lugares, seguimos o concelho do dono da casa e pusemo-nos, para norte, a caminho do Sistelo. Uma das mais bem preservadas localidades do Alto Minho, integrada numa marca, as Aldeias de Portugal, que é de âmbito nacional, mas que, para já, apenas distingue espaços no noroeste do país.
- Nome
- Quinta da Lamosa
- Local
- Arcos de Valdevez, Gondoriz, Lugar da Zebra
- Telefone
- 914509049
- Website
- http://www.quintadalamosa.com