Fugas - hotéis

  • Nelson Garrido
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Um brilho muito clássico sobre uma praça toda moderna

Por Samuel Silva ,

Faz da relação próxima com a Praça do Toural a sua grande mais-valia. A nova unidade hoteleira de Guimarães renovou o fulgor de um dos edifícios mais emblemáticos daquele espaço da cidade, que foi banco e pastelaria, antes de ter entrado em ruína. Agora renasce com uma vitalidade inspirada na sua origem, o século XIX.

Há uma velha frase no mercado imobiliário anglófono segundo a qual há três factores que influenciam o preço de uma propriedade: “Localização, localização e localização”. Se alguma vez alguém decidir adaptá-la para a hotelaria nacional vai, muito provavelmente, incluir entre os exemplos o hotel EMAJ, em Guimarães. Ainda que tenha outros argumentos, a sua principal força é a localização. Esta não é apenas uma unidade hoteleira na praça principal de uma cidade histórica: o hotel ocupa mesmo um dos edifícios mais bonitos e marcantes daquele espaço urbano.

Quem chega a Guimarães e se encontra com o Toural dificilmente deixará de ver o hotel, que ocupa toda a esquina a norte da praça. É um prédio de desenho aprumado e leve inspiração Arte Nova, ou não tivesse sido construído nos finais do século XIX, a que a sua segunda utilização, já no século XX, acrescentou elementos neoclássicos. A recuperação devolveu-lhe o brilho dessa vida anterior. A entrada é luzidia, com uma coluna de pedra ornamental cor-de-rosa a assumir um papel de destaque e contornos barrocos pintados de dourado, que emprestam alguma pompa ao espaço. Essa solenidade prolonga-se para o interior dos quartos da ala clássica do hotel.

A divisão entre uma ala clássica, impecavelmente recuperada, e uma ala moderna, de linhas mais minimalistas, é uma das marcas deste hotel de charme, projectado em 2010, mas que só agora abre portas. Chega a tempo de ser mais um activo para o mercado hoteleiro vimaranense, bastante reforçado nos anos da e após a Capital Europeia da Cultura de 2012, mas com argumentos suficientes para ganhar o seu espaço.

Antes de uma subida aos quartos, uma última olhada à entrada do hotel EMAJ, para perceber uma outra referência à história deste edifício marcante. Antes de ser hotel, o edifício foi pastelaria, a Parisiense — entre os finais do século XIX e 1924 — e, depois disso, banco, a agência do Banco Nacional Ultramarino — até 1982. A memória desse passado foi preservada, com os antigos cofres do banco a serem transformados em balcão de recepção e usados como imagem de suporte da numeração dos quartos, por exemplo. Os cofres são de facto um elemento icónico que salta à vista a quem entra no hotel EMAJ. Mas toda a recuperação do edifício faz jus à história daquele espaço.

Antes do início das obras de reabilitação, em 2010, o prédio estava parcialmente em ruínas. Nos últimos anos tinha sido usado várias vezes como sede de campanha em eleições presidenciais, autárquicas e do Vitória de Guimarães. Nessas alturas, improvisava-se uma entrada sobre a madeira que começava a dar sinais da idade e as traseiras eram cobertas para tapar a degradação. Hoje, esse passado existe apenas na memória dos habitantes locais e de alguns dos elementos do staff. Os hóspedes dificilmente se aperceberão dessa alteração radical.

Mas, por muito que tenha mudado, o edifício do hotel não perdeu a sua principal característica: a relação privilegiada com a maior praça de Guimarães. O Toural é o local das grandes manifestações públicas e onde se situam alguns dos principais restaurantes, cafés, pastelarias e cervejarias da cidade. Nos últimos anos, sofreu uma reforma profunda, terminada em 2011, tornando-o um local mais amplo, incluída na reabilitação urbana de toda a envolvente do centro histórico vimaranense.

Aquele foi o ponto vital dessa renovação, tornando a praça uma obra com assinatura. O piso da praça e até o bosquete de árvores, mesmo em frente ao EMAJ, foram assinados pela artista plástica Ana Jotta. Para rematar a sua visão para o espaço urbano, a criadora desenhou um polémico varandim dourado na ala oposta à do hotel. Dos pisos superiores, a unidade da obra tem uma leitura que é difícil de conseguir ao nível do chão. E é essa vista sobre uma obra de arte que começa por captar a atenção quando se entra num dos quartos da sua ala clássica.

Nesta ala, a relação de privilégio com a praça assume maior destaque. Os quartos têm vista sobre o Toural, com varandas a toda a volta — só quatro dos 18 quartos do EMAJ não têm varandas —, que permitem ao hóspede sentir a vibração do principal espaço público de Guimarães, que é muito frequentado a praticamente qualquer hora do dia. Se quiser desligar-se do burburinho da cidade, basta fechar a janela. As janelas originais foram mantidas do lado de fora, não retirando coerência à fachada, mas no interior foram colocadas janelas modernas que, uma vez fechadas, bloqueiam totalmente o som da praça, onde quase sempre passam muitos veículos. O isolamento só não chega para abafar por completo o som do sino da igreja de São Pedro, a poucos metros de distância.

Além do edifício do antigo banco, o hotel ocupa um outro prédio, nas traseiras. É esse facto que explica a sua divisão em duas alas. Os quartos de ambas são, por isso, diferentes. Na ala moderna, as cores são mais neutras, as linhas mais sóbrias, mas, numa e noutra, os quartos mantêm as mesmas camas e equipamentos de apoio habituais no sector, como TV, minibar e máquina de café. Do lado clássico, mantêm-se os pormenores originais da decoração, como os trabalhados de estuque nos tectos e cada quarto é assinalado com uma cor, que assume papel central na sua decoração.

Uma unidade hoteleira tão central numa cidade podia sentir problemas com estacionamento. O EMAJ tem três lugares de aparcamento reservados junto à sua entrada. Quando esses espaços estão lotados, há um acordo de utilização do parque de estacionamento da Plataforma das Artes e da Criatividade, a menos de 100 metros do hotel, que resolve essa eventual dificuldade.

O novo hotel de charme vimaranense abriu no início de Julho, sem grande aparato. O ambiente reservado é uma das suas assinaturas. Será uma unidade de porta fechada, onde o contacto com o cliente se quer personalizado. Também por isso, a administração não fará acordos com agências turísticas nem divulgação massificada. A promoção será feita, preferencialmente, através de sítios especializados na Internet e a aposta é sobretudo no mercado internacional. De resto, são os hóspedes estrangeiros quem tem respondido melhor ao apelo nestes primeiros meses de funcionamento.

A estratégia pensada para este hotel passa por fazê-lo entrar ao serviço lentamente. A sala de massagens, por exemplo, ainda não está totalmente concluída e só dentro de algumas semanas vai estar disponível para os clientes. A forma de funcionamento do restaurante previsto para o espaço de cafetaria — com entrada autónoma pela rua D. João I — ainda está em estudo, bem como a possibilidade de passar a existir um serviço de brunch para o público geral, aos fins-de-semana. Enquanto o restaurante do hotel não funciona, há um serviço de quartos com uma oferta básica de refeições ligeiras, à base de sanduíches e saladas.

Para já, a cafetaria serve apenas os pequenos-almoços dos hóspedes, onde, entre a oferta genérica neste género de serviço, se destacam as deliciosas tortas de Guimarães. O doce típico da cidade é uma autêntica bomba calórica feita à base de doce de chila, ovos e amêndoas, envolvidos numa massa estaladiça. Com a praça do Toural ali tão próxima, o apelo de uma caminhada pelas ruas vimaranenses, capaz de desgastar essas calorias em excesso ingeridas na primeira refeição do dia, deve ser suficiente para compensar aqueles que não resistam à guloseima.
 

Nome
Hotel EMAJ
Local
Guimarães, São Paio (Guimarães), Praça do Toural, 116
Telefone
253540640
Website
http://www.guimaraesemajboutiquehotel.com/
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