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Casas de granito, quartos com vida própria

Por Sara Dias Oliveira ,

Eram casas em ruínas, hoje são quartos e salas com histórias que o passado construiu sem pressas. Nas Casas do Lupo, percebem-se os tempos da natureza e enche-se o peito de ar puro. Na aldeia de Lapa do Lobo, bebe-se vinho do Dão e sumo de laranjas colhidas no quintal, anda-se de bicicleta e vê-se arte e cinema.

Estamos no coração das vinhas do Dão e a paisagem não engana. Naquela terra há muita uva que quer ver a luz do dia e que é tratada nas palminhas das mãos. Mas ali não se vive só de vinho. A gastronomia não fica atrás da veia vinícola. Há comida genuína, caseira da cabeça aos pés. Há queijos, enchidos, requeijão da serra da Estrela, compotas caseiras, carnes tenras. E há ainda um património arquitectónico e cultural que se espalha em várias direcções. O nosso destino é Lapa do Lobo, no concelho de Nelas. Choveu de manhã, a tarde está fria, mas há calor à nossa espera — e não estamos apenas a falar da lareira acesa no bar, da tábua de queijos e enchidos típicos da região, do tinto do Dão, de um quarto tipicamente beirão com varanda para um jardim.

O empresário Carlos Cunha Torres conhece a aldeia da família materna de olhos fechados. Apesar de viver em Lisboa, voltou à terra, comprou casas que o granito não deixa o tempo derrubar e transformou-as em casas de charme. Criou a Fundação Lapa do Lobo há quatro anos para que a arte e a cultura não fossem nomes estranhos para as gentes da região e ergueu um projecto turístico mantendo as características genuínas daquele território. O granito não foi beliscado, as madeiras de chãos e tectos foram recuperadas onde era possível, alguns objectos das habitações do início do século XX foram restaurados e reaproveitados para a decoração. As Casas do Lupo são mais do que um projecto da família Batalha Torres que regressou à aldeia com um brilho nos olhos e uma mão cheia de projectos. São também uma forma de dinamizar uma aldeia, de criar postos de trabalho, de dar vida a um pedaço de terra que teve a sorte de ser tão amada.

As Casas do Lupo nascem de uma vontade de não deixar apagar memórias. O granito também pode ser quente por dentro. O ambiente é familiar, na sala de estar vislumbram-se os contornos da serra da Estrela e as três casas unem-se através de um varandim tipicamente beirão, de cor verde. A família deu as orientações expressas para manter tudo o que fosse possível e João Laplaine Guimarães e António Santos assinaram o projecto arquitectónico.

A família está unida nos projectos. Carlos Cunha Torres, o pai, é o homem que gere o negócio. Maria do Carmo Batalha, a mulher, a engenheira agrónoma que está em todo o lado, no projecto turístico, na fundação, na quinta e casa da família, que está onde é preciso. Bernardo Torres, o filho, que trata da parte do marketing e comunicação das casas da aldeia — e que, ao mesmo tempo, gere uma casa de petiscos em Lisboa. Mariana Torres, a filha, a curadora da fundação, que organiza os workshops, as exposições, as sessões de cinema, e muito do que acontece na Lapa do Lobo.

Favorecer a natureza
Por fora, as casas parecem pequenas para a dimensão dos quartos. Quartos amplos, luminosos, decorados com requinte e bom gosto como se cada peça fosse desenhada propositadamente para aquele espaço — há portas antigas recuperadas e transformadas em testeiras de camas, há uma velha manta espalmada numa moldura de vidro na sala das refeições, uma salgadeira de madeira velha restaurada no hall de um quarto. E cada quarto, e são oito, tem a sua personalidade, vida própria. Têm janelas que mostram o que acontece na aldeia, portas de acesso a pequenas varandas, ao jardim, à piscina. Estes quartos são do passado, do presente e do futuro. Há um quarto verde, beirão dos pés à cabeça, com móveis antigos, que surgiu na antiga casa da Laurita, a antiga proprietária, com salinha de estar, casa de banho verde com janela na banheira. Há o quarto das galinhas com entrada para uma sala e quarto de casal no piso superior com uma janela no tecto. Há o quarto dos galos, na casa que foi do Cintinha, com hall, papel de parede decorado a preceito com galos, pois claro, vista para jardim,piscina, casas da aldeia. Há também o quarto dos namorados, pintadinho de branco, com escadas de acesso às águas-furtadas onde fica esse quarto com janela panorâmica e uma luminosidade quente e inspiradora. O quarto da Belavista é o mais moderno, e talvez o mais vaidoso, e fica no prolongamento contemporâneo. Tem móveis nórdicos, sofás, janelas panorâmicas para o jardim, a piscina e a serra da Estrela.

Nome
Casas do Lupo
Local
Nelas, Lapa do Lobo, Terreiro dos Antunes
Telefone
232673441
Website
http://www.casasdolupo.com/
Observações
É um projecto turístico erguido numa aldeia pelas mãos de uma família com fortes ligações à terra. Tem oito quartos e um T2. Fica na Lapa do Lobo, aldeia com pouco mais de mil habitantes, no concelho de Nelas.
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