A noite reserva-nos tempestade: chuva intensa e vento forte. E, no entanto, deitados na cama não conseguimos deixar de pensar que é a banda sonora perfeita, quando o vento ruge e a chuva bate arrítmica, ora forte ora suave, nas paredes de xisto ou no pátio de lousa. Há algo de primordial nesta sinfonia e não negamos que podemos estar influenciados pelo que nos rodeia. O cenário é rural, de montes que fecham o horizonte e escondem o rio Douro não muito longe, de vinhedos que vêm acabar (ou começar) mesmo aqui, de bosques que são ilhas, de telhados longínquos que são prova de vida. Não importa, dormimos embalados e, desta vez, com a tempestade veio a bonança, aqui na Casa Valxisto.
Uma aldeia de xisto em território granítico e a Casa Valxisto honra essa excepção — no nome e na própria construção, ainda que nesta o xisto tenha intromissões do granito e até da lousa. Chegamos tarde, noite cerrada, e andamos perdidos nas ruas desertas para encontrarmos o destino na casa de partida — ou seja, logo depois do corte para Quintandona (Penafiel), a aldeia de xisto e de Portugal onde um jovem casal transformou uma prenda de Natal num refúgio rural. Isso saberemos ao jantar, pouco depois de chegarmos, pela boca de Ana Cristina Oliveira e Hélder Moreira, os anfitriões: oficialmente, ela dá a cara e ele trata dos bastidores; na prática, tudo se baralha.
Tostas de queijo gratinado com cogumelos, presunto com tomate cherry, pataniscas, patés alinham-se como entradas, servidas em tábuas de lousa (que são também os pratos de serviço para as postas de carne — nós comemos bacalhau com broa). “É típico daqui e nós tentamos mostrar as coisas típicas”, explica Ana Oliveira. À mesa e não só. Na casa, por exemplo, onde se tentou misturar “o regional com alguma modernidade”. E vamos à história da inusitada prenda de Natal, como gostam de se referir à casa que, na verdade, foi herança de Hélder Moreira e como as partilhas aconteceram em época natalícia assim ficou. A “prenda de Natal” que foi a casa construída pelos seus bisavós e onde os seus avós viveram toda a vida — de então para cá havia estado fechada, a casa como marco de uma propriedade agrícola. “Logo no dia a seguir começamos a pensar no que fazer com ela”, conta Ana Oliveira. Para viver era manifestamente grande e, além do mais, o casal vivia em Vila Nova de Gaia, onde trabalhava e de onde não pensava sair. De ideia em ideia ganhou corpo a da transformação em turismo rural e quase quatro anos depois aqui estamos, na sala de refeições, que ocupa o antigo lagar. Ele ainda está num dos cantos, pedra granítica a dar-lhe forma e a antiga prensa a completar-lhe o retrato, entre mobiliário contemporâneo branco — branco que é a cor predominante na decoração da casa, tanto pintando peças resgatadas das suas funções agrícolas como compondo as peças novas, curvas barrocas a desenhá-las.
Sendo assíduos de turismos rurais, passaram-no a ser ainda mais em busca de inspiração para a sua country house (é assim que a Casa Valxisto se apresenta). Desde logo sabiam o que não queriam: “o ambiente pesado, escuro, muito tradicional” que associavam a muitas dessas casas. Muitas vezes haviam pensado: “E se fôssemos nós os proprietários?”. Quando tal deixou de ser uma hipótese romântica e passou a ser a realidade menos romântica, já sabiam o queriam: “Manter a ruralidade da casa associando-lhe a modernidade e o conforto exigido pelos dias de hoje.” Ou seja, “trazer o campo para dentro” mas com um conceito mais cuidado, quase como se de um hotel se tratasse. “Tentámos pôr em prática, com mais ou menos limitações.”
- Nome
- Casa Valxisto - Country House
- Local
- Penafiel, Penafiel, Rua Padres da Agostinha, 233 (Lagares)
- Telefone
- 255752251
- Website
- http://www.valxisto.pt/