Da varanda do quarto vê-se o relvado bem cuidado, com a piscina lá ao fundo, e a redonda construção do pombal por trás dela. Fechamos a janela e descemos até à zona do bar, parando junto às portas envidraçadas que dão para o mesmo relvado. Mal temos tempo de pensar que a piscina há-de ser bem agradável no Verão quando um coelho, de pêlo castanho, sai, saltitante, do conjunto de loureiros e atravessa toda a extensão de erva bem cortada, desaparecendo pouco depois entre as sebes do outro lado. “Já chegámos a contar uns onze e às vezes também é possível ver esquilos”, diz uma jovem funcionária da Pousada Condeixa Coimbra, em Condeixa-a-Nova.
Na manhã seguinte, ao acordar, o ar parece ainda mais límpido, depois da chuvada que caiu durante a noite, e o nosso amigo coelho (parece o mesmo) está parado no meio do relvado, como se tivesse pernoitado ali, naquele mesmo sítio. Quando descemos para o pequeno-almoço, ele atravessa um pouco do relvado e planta-se noutro ponto, aproveitando o sol que de vez em quando sai de trás das nuvens. Fica por ali, quieto, durante o tempo em que comemos, calmamente, as coisas boas que o pequeno-almoço tem para oferecer. Quando, finalmente, desaparece, é sem qualquer aviso. Olhamos e já não está lá.
Os coelhos da Pousada Condeixa Coimbra, um hotel de charme da rede Pousadas de Portugal, mas que está a funcionar em regime de franchising, com gestão da família proprietária do antigo edifício nobre, são apenas um dos símbolos de que, ali, se respira tranquilidade. A auto-estrada está apenas a dois quilómetros e das janelas dos pisos superiores é possível ver o movimento do trânsito que circula entre Lisboa e o Porto, mas o ruído não atravessa as vidraças e a sensação que fica, depois de alguns minutos a observar a paisagem, é de uma enorme planície verde pontuada por algumas habitações brancas de telhados laranja e com a promessa de um pôr do sol grandioso, quando as nuvens o permitem.
O edifício onde está instalada a pousada foi construído no século XVI e pertenceu à família dos Almadas, condes de Avranches. Hoje integra o património da família Sotto Mayor, que detém também o Palácio dos Lemos (edifício histórico em frente ao da pousada) e outros palácios e palacetes, incluindo o Palácio Sotto Mayor, em Lisboa, de onde terão saído muitos dos elementos decorativos dos espaços comuns da pousada. O bar, o restaurante e os halls de descanso espalhados por todo o edifício transmitem, por isso, um certo ar de grandiosidade e de se estar num espaço que não é, definitivamente, deste século.
Os quartos são silenciosos e mais simples que o exterior, mas não deixam de ser um espaço agradável para descansar. E a tranquilidade prometida acaba mesmo por se reflectir no silêncio total da noite, sem nada que atrapalhe o sono. Além disso, se sentir que foi afectado por uma vontade compulsiva de lavar as mãos, não estranhe — os produtos da Real Saboaria são tão delicados e suaves que só apetece mesmo envolver as mãos na espuma macia e a cheirar a limão do sabonete disponibilizado o máximo de vezes que conseguir.
Mas, se escolher passar algum tempo na Pousada Condeixa Coimbra e não estiver calor suficiente para banhos de sol no relvado e banhos de água na piscina, o mais provável é que acabe por preferir passar mais tempo nos espaços comuns do que no quarto. E a escolha é acertada.
O bar está cheio de recantos confortáveis, com livros sobre a região e sobre o médico e escritor Fernando Namora, que nasceu em Condeixa-a-Nova. A televisão, que os responsáveis preferiam manter arredada dali, acabou por ser acrescentada ao espaço, para satisfazer os pedidos dos hóspedes que não queriam perder o ocasional jogo importante de futebol, explica-nos uma das funcionárias, mas o mais provável é que esteja desligada, deixando fluir as conversas com mais à vontade.
Do outro lado deste piso abaixo da recepção, onde ficam também as duas salas utilizadas para festas ou conferências, está o restaurante da pousada. É ali que é servido o pequeno-almoço, com bolos e doces caseiros, ovos feitos na hora, panquecas finas, pães frescos e uma salada de frutas cheia de sabores doces e intensos. Mas é ali também que são servidos almoços e jantares, incluindo o típico cabrito da região e delícias como cogumelos recheados com alheira em cama de grelos e cobertos de um fio de mel.
Não vá comer à pressa. Passeie pelo menu e tenha a certeza que não vai fazer a escolha errada (aparentemente não há). Saboreie tudo devagar com a desculpa que depois pode sempre atravessar o relvado e seguir as setas que indicam o “circuito de manutenção”, que mais não é que um passeio entre as árvores e junto à sebe por onde desapareceu o coelho castanho. Pode ser que ele ainda lá esteja. E que os esquilos, que não vimos, também apareçam para lhe desejar boa estadia.
A Fugas esteve alojada a convite da Pousada Condeixa Coimbra
- Nome
- Pousada de Condeixa Coimbra
- Local
- Condeixa-a-Nova, Condeixa-a-Nova, Rua Francisco Lemos, 3-5
- Telefone
- 239944025
- Website
- http://www.pousadadecondeixa-coimbra.com/