Nada importunou o silêncio da manhã e quando se olha à volta percebe-se porquê. A envolver este lugar há montanha, terrenos agrícolas e um manto de verde, que é escuro porque estamos já nos dias frios. Pontualmente, a paisagem é pintada de tons mais quentes. E são quase todos provenientes de elementos naturais. Aqui à volta praticamente não há construções e as que se conseguem ver não parecem ter muita gente a habitá-las. É neste cenário que está implantado o Solar dos Cáceres, que está começar a sua segunda vida no concelho de Fornos de Algodres.
Num local tão distante da vida urbana como é este, não será estranho perceber que o sinal no telemóvel é quase sempre fraco ou inexistente. Se o objectivo for fugir do ritmo habitual, esta unidade de turismo em espaço rural pode ser mesmo o local ideal para o fazermos. Não seremos importunados: nem pelo ruído da cidade, nem pela tecnologia. Carla Pinheiro, directora da unidade hoteleira, confirma esta primeira percepção. “A nossa ideia é termos um ambiente sereno, onde as pessoas fujam um bocadinho da confusão e carreguem baterias”, explica. Para esse fim, o sítio parece feito à medida.
O sol de Inverno sobre a esplanada da piscina reforça a ideia de que este é um espaço para desligar do mundo de todos os dias. Mas há todo um outro mundo para descobrir por aqui, ou não estivéssemos a dois passos da serra da Estrela e de alguns dos locais mais interessantes das Beiras, como as aldeias históricas de Trancoso ou Linhares. Nas proximidades há outros elementos patrimoniais como mamoas e sepulturas antropomórficas ou algumas capelas de origem medieval, que o Solar dos Cáceres convida a conhecer de bicicleta (existe um serviço gratuito de cedência de velocípedes a hóspedes) ou através de visitas guiadas por um dos elementos da equipa desta unidade hoteleira. Se o interesse do visitante for a natureza, a oferta varia consoante a época do ano e está intimamente ligada aos ciclos da vida rural, como passeios à volta da boa oferta de cogumelos da região ou ao vasto olival que pertence à propriedade do solar.
Esta possibilidade de personalização dos serviços associados à estadia foi uma das mudanças que o Solar dos Cáceres decidiu implementar na sua segunda vida como unidade hoteleira. Este espaço abriu originalmente em 2013 e era então explorado por uma empresa do sector, mas a experiência durou pouco mais de um ano e meio. Agora, foi transformado em unidade de turismo em espaço rural, gerida directamente pelo proprietário, um empresário beirão, que entregou a liderança do projecto a Carla Pinheiro. “Quisemos focarmo-nos na qualidade do serviço e diferenciar-nos pela maneira como recebemos os hóspedes”, explica aquela responsável.
Chás e bolos quentes
A origem do Solar dos Cáceres remonta a 1481, altura em que foi mandado construir — juntamente com a contígua capela de Nossa Senhora da Encarnação — pelo fidalgo Luís de Cáceres. Nos séculos seguintes, a propriedade passou pelas mãos de outros elementos da nobreza, com ligações à Casa Real, e chegou a integrar mais de 200 terrenos sob o seu domínio. Contudo, a importância da casa não foi suficiente para a fazer resistir ao tempo. Quando o actual dono comprou o edifício, há dez anos, já este se encontrava praticamente arruinado.
Na parede do corredor de acesso aos quartos da unidade hoteleira há um conjunto de fotografias que ilustram o estado em que o solar se encontrava nessa altura: apenas a fachada principal se conservava em pé, e mesmo assim bastante degradada. Todas as outras alas do edifício original estavam reduzidas a um amontoado de pedra. A obra de recuperação, que se prolongou por quatro anos (e representou um investimento de um milhão de euros), permitiu recuperar a fachada e manter os principais traços arquitectónicos de um solar em espaço rural. Ao mesmo tempo, a intervenção criou um novo corpo — onde está instalado um bar — marcadamente contemporâneo e acrescentou vários elementos modernos no edifício original, que foram bem conjugados com o lado rústico da construção original.
Essa combinação entre o novo e o antigo é sobretudo visível na muito boa sala de refeições, que ocupa o velho lagar do solar. Mantém-se a grande porta — agora transformada em janela — e as dimensões originais, juntamente com uma estrutura elegante de madeira e vidro que lhe conferem modernidade. É aqui também que os clientes podem ter contacto com alguns dos produtos mais marcantes da gastronomia da região. O Solar dos Cáceres prevê passar a servir aqui refeições ao almoço e jantar aos seus hóspedes a partir dos primeiros meses deste ano. “Há pouca oferta de restauração aqui à volta e isso acaba por limitar-nos um bocadinho. Daí termos decidido avançar com a nossa própria cozinha”, explica a directora.
Quando o restaurante abrir, as “estrelas” da mesa serão os produtos da região, como o cabrito, o queijo da serra ou o requeijão. Enquanto isso não acontece, o pequeno-almoço é o momento ideal para aproveitar o sol que entra na sala de refeições logo pela manhã, acompanhado pelos queijos regionais e os seus pares de eleição: uma excelente marmelada caseira e um doce de abóbora que não lhe fica atrás.
À mesa também há bolos caseiros, ainda mornos, que são motivo de orgulho para Carla Pinheiro. “Quando os clientes chegam aqui, gostamos de os receber com uma fatia de bolo que acabou de sair do forno ou com um chá feito de umas ervinhas aqui da nossa horta. São essas as experiências que ficam na memória.” Sendo uma unidade relativamente pequena — o Solar dos Cáceres tem oito quartos e uma lotação máxima de 20 pessoas —, é relativamente fácil experimentar esta sensação de conforto e sentirmo-nos como em casa. E não haverá melhor do que um sítio familiar para desligarmos realmente do mundo de todos os dias.
A Fugas esteve alojada a convite do Solar dos Cáceres
- Nome
- Solar dos Cáceres
- Local
- Fornos de Algodres, Fornos de Algodres, Praça Dr. Carlos Figueiredo Nunes
- Telefone
- 271708225
- Website
- http://www.solardoscaceres.com/