Fugas - hotéis

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Pedra, tempo e memória num monte agrícola de cinco estrelas

À tarde vamos conhecer o spa, que, com o seu longo corredor abobadado de 40 metros, parece quase um mosteiro (e, tal como a cozinha usa sobretudo ingredientes biológicos, também os produtos da marca austríaca Susanne Kaufmann são biológicos). Não foi fácil manter as belas abóbadas da construção original, mas, depois de todo o trabalho de definição do conceito, José António começou a trabalhar com o arquitecto Eduardo Souto Moura e ambos concordaram sobre o caminho a seguir.

“Se se redesenhasse os edifícios ficávamos com um bolo de noiva, muito perfeitinho, mas perdia-se o bonito que isto tem, todas as imperfeições, a patine que foi ganhando com os anos.” Houve, por isso, um enorme cuidado com os materiais, dos caixilhos de madeira às telhas cozidas em forno de lenha. Cuidado que se estendeu também à escolha de todas as peças, desde as mantas da Burel (Serra da Estrela) e de Mizette Nielsen (Alentejo), às peças de olaria das Caldas da Rainha, passando pela colaboração com a marca de roupa La Paz.

Passaram-se 14 anos desde o dia em que José António, depois de uma noite bem dormida na casa do hortelão, abriu o computador para dar uma nova vida ao Barrocal. Houve momentos de entusiasmo, estudos, descobertas, e houve dias de dúvidas, de perguntar se o projecto faz sentido, se os bancos vão financiar, se o país vai voltar a mudar (em 14 anos, Portugal intercalou momentos de grande optimismo com outros de negro pessimismo), se se vão conseguir cumprir os prazos do QREN, se alguém vai querer passar férias aqui. 

O vinho de ontem e de hoje

“E, ao fim de 14 anos, a coisa torna-se realidade”, conclui José António. A vinha foi plantada, a horta está a ser recuperada, a piscina está pronta (por ela irrompe uma bela rocha calcária que a torna, definitivamente, uma piscina do barrocal). “Na parte agrícola, o primeiro trabalho foi encontrar alguém que soubesse fazer vinho, porque eu não tinha a mínima ideia de como fazer”, confessa. Foi assim que chegou à enóloga Susana Esteban, responsável pelos vinhos São Lourenço do Barrocal.

A herdade já tinha uma história ligada à viticultura, embora um pouco perdida no tempo. José António guarda ainda algumas garrafas antigas que provam como os seus antepassados, no século XIX, já apostavam nos vinhos — na altura fortificados. “O senhor Papança oferecia terras a quem se comprometesse a plantar vinha e isso deu origem à maior cooperativa vitivinícola do país.”

Com Susana Esteban, decidiram manter as vinhas velhas e, ao mesmo tempo, plantar novas com castas como a Touriga Nacional, o Alicante Bouschet, o Aragonês, Syrah, Antão Vaz, Encruzado. “Assumimos que íamos fazer a vinha pelo método antigo, plantando o americano, que é uma cepa mais austera, que vai mais fundo à procura de água, e ao fim de um ano faz-se a enxertia com a casta que queremos.” 

Optaram também por não regar as vinhas. “No Alentejo quase todos os produtores regam porque há anos de seca e pode haver quedas na produção de 50% ou mais. Nós assumimos esse risco porque achamos que assim estamos a fazer um produto mais próximo da identidade do terroir. Queremos vinhos com elegância, fugindo do arquétipo do vinho pesadão do Alentejo.”

Nome
São Lourenço do Barrocal
Local
Reguengos de Monsaraz, Monsaraz,
Telefone
266 247 140
Website
www.barrocal.pt
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