Fugas - hotéis

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Os contos à casa

Se é preciso voltar a ter tempo e espaço, ei-lo. Junto à piscina, esticamos os pés e, para além do galo que canta, da mosca que passa e da criança que treina proezas no triciclo da casa ao fundo do fundo, pouco mais nos pode desviar d’O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires. Ao meio-dia, o sol empurra para a sala de estar, depois dos degraus altos em xisto, junto à antiga loja onde chegava o correio e “onde se vendiam melancias e todas essas coisas”. 

A filha de Luís e a melhor amiga querem ir “lá em cima”, à parte vedada aos hóspedes e habitada pela família Veríssimo, vasculhar livros, fotografias, grafonolas e alçapões. Receiam os espíritos e fantasmas, mas ao mesmo tempo — o de criança — querem conhecê-los. “As pessoas que estavam aqui gostaram muito de cá morar, por isso os espíritos ficaram”, segreda Teresa ao balcão do bar emadeirado. Mas arriscamos que os espíritos são as paredes, as fotografias, o cartão de condolências deixado por Alexandre de Almeida Garrett aquando da morte de alguém próximo, a capela fresca (onde os “leituristas” gostam de estar) ou a salgadeira que conservava as carnes. Há fotografias a preto e branco do pai Veríssimo, dos habitantes da aldeia, da família Sarafana. Misturam-se. “Esta ainda é um daguerreótipo”, mostra Luís.

Há provas porque a casa era de uma família rica. “Tinha produção”, corrige Luís, sublinhando a pobreza da região. “As pessoas vinham bater à porta para pedir trabalho em troca do almoço.” Era daqui que se alimentava a aldeia, para lá das pequenas agriculturas em volta. Por isso é que um dia apareceram, atrás dos alçapões, armas deixadas por soldados da terceira invasão francesa. “Na primeira, eles vinham confiantes e levaram os cereais para se abastecerem para a viagem. Na terceira, como iam em fuga, deixaram as armas”, reconstitui a história. 

São quatro da manhã e já lá vão dois livros — um lido e outro por escrever; já “achinchámos” uma pêra (ou “fomos à marouva”, como se diz por terras beirãs); já provámos o alecrim. O nada, afinal, leva tempo.

INFORMAÇÕES

Preços: Com o mínimo de três noites de estadia, os preços variam entre os 45 (quarto individual) e os 120 euros por noite, consoante o quarto e a época. A casa completa está disponível a partir de 190 euros. A estadia contempla a preparação de menus de leitura e o acesso à cozinha, salas de estar e de refeições, bar, capela, bicicletas, Internet, jardim, forno a lenha e barbecue.

À cabeceira
Se este turismo é à volta de livros, cabe a Luís Veríssimo (e seus conselheiros) “fabricar” um menu que cruze as preferências do leitor com o tempo de estadia na casa rural. No fundo, é esse tempo que serve de referência ao número de páginas de leitura. A Fugas pediu um “menu regional” e quando chegou ao quarto tinha em cima da cama os seguintes títulos (pensados para três noites e quatro dias): Como se desenha uma casa, de Manuel António Pina; O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires; Poesia e Prosa de Eugénio de Andrade; O riso de Deus, de António Alçada Baptista; Guerra Peninsular, de António Pedro Vicente; Beira Baixa, de M. Lopes Marcelo; e Memórias da Minha Aldeia – Sobral do Campo, de Maria Gabriela Hormigo. Também é possível levar livros para casa, desde que sejam entregues em mãos até seis meses após a requisição. 

Nome
Leiturismo
Local
Castelo Branco, Sobral do Campo, Rua da Ladeira, 5
Telefone
937010450
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