Fugas - hotéis

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Não é preciso ser aristocrata para dormir neste palácio

Por Francisca Gorjão Henriques ,

Primeiro foi residência familiar.Depois, casa de freiras. Agora, democratizou- -se. À volta do Brick Oven Palace há todo um mundo.

Percorrendo a Rua do Forno do Tijolo, em Lisboa, ouvem-se várias línguas. Português, mandarim, hindi, urdu… No cabeleireiro Annapurna Beleza, raparigas de feições asiáticas arranjam as unhas a raparigas de feições asiáticas. Um papel na janela anuncia: “Corte de Homem: 5 euros”. Ao lado, uma mercearia paquistanesa. Mais abaixo, outra mercearia paquistanesa, e mais outra com um cartaz na porta: “Cabine Telefónica”. A seguir, a loja de antiguidades Meiri, cheia de budas e santos na montra. Damos a volta ao quarteirão e temos a lavandaria self-service Speed Queen. Os restaurantes nepaleses sucedem-se, os snack-bars sobrevivem aqui e ali.

E no meio de tudo isto, um palácio. Ou melhor, um hostel que se instalou num palacete construído em 1936 e que agora se chama Brick Oven Palace (traduzido para português: Palácio do Forno do Tijolo). 

O hall de entrada é exuberante, com um pé direito de 12 metros, clarabóia com vitrais, o chão de madeira com desenhos em dois tons. Nas colunas das arcadas, há pequenos frescos, como se fossem quadros, uns com pássaros, outros com um cisne, outros ainda apenas flores. Se olharmos para cima, vemos o varandim e as portas dos quartos em madeira maciça do piso superior.

A mansão foi erguida para habitação de uma família, conta Ricardo Constantino, um dos três sócios do Brick Oven Palace. Depois, na década de 1950, passou para as mãos da congregação espanhola Servas de Maria, que dava apoio a doentes. As freiras passavam a noite com eles e durante o dia descansavam em casa, que servia também de apoio às suas funções. Na ampla cozinha que dá para o jardim, com uma zona em meia-lua, tratavam das roupas dos enfermos. Agora, o espaço recuperou a sua utilização inicial, e há fogões, lava-loiças e tudo o que é necessário para os hóspedes prepararem as suas refeições.

“Chegaram a morar cá mais de 40 freiras”, conta Ricardo Constantino. No fim, “já só restavam três ou quatro, todas com mais de 70 anos”. “Não tinham conseguido fazer a renovação das irmãs. Em 2013 resolveram voltar para Sevilha e colocaram a casa à venda.” Há dois anos que os três sócios, todos da área da consultoria, procuravam um palacete para instalar um hostel. Aproveitaram a oportunidade. Há enormes sacas de cafés encostadas ao balcão de recepção. E se formos ao jardim percebemos imediatamente porquê: à esquerda, vemos erguer-se entre os telhados da vizinhança uma enorme chaminé em tijolo, que pertence a uma torrefacção, dos cafés Negrita, que ainda hoje opera. “Às vezes, sente-se o cheio do café torrado”, adianta Ricardo Constantino. E já que aqui estamos: no primeiro plano temos bancos corridos de pedra — onde um turista chinês já come o seu jantar — e canteiros com azulejos à volta das árvores; no segundo, um relvado com diospireiros, nogueiras, laranjeiras… à espera de uma rede para descanso dos clientes.

O piso inferior é todo para zonas comuns: cozinha, sala de jantar (que tem uma enorme mesa de madeira corrida, e várias mais pequenas: para além de um aparador que é original da casa); bar e biblioteca, que ainda não tem livros (serão sobretudo de autores portugueses traduzidos). Aqui o chão é em pedra e as portas pintadas de branco. 

Nome
Brick Oven Palace
Local
Lisboa, Anjos, Rua do Forno do Tijolo, 3
Telefone
210 146 639
Website
www.brickovenpalace.com
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