Fugas - hotéis

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A casa da padaria, à beira do Zêzere

Agora, depois das obras feitas, percorre-se uma pequena estrada de acesso e entra-se por uma porta num muro lateral, primeiro para um pequeno pátio, parede de xisto até metade, branca daí para cima, e uma porta verde clara aberta, a convidar-nos a continuar. Lá dentro, o pátio grande, com o tanque e o som da água vinda da mina a correr e a tornar mais longínquos os ruídos da rua. 

Uma mesa debaixo da latada, neste momento com a videira antiga sem folhas e reduzida aos seus troncos retorcidos, muros de xisto com o musgo verde vivo a espreitar, chão com pedras roladas, amaciadas por anos de convívio com o rio Zêzere. Ouvimos as histórias da família durante o jantar e vamos para a cama a imaginar como seria a casa nos anos 1950, cheia de gente a habitar os seis quartos da parte de cima, e cheia de movimento lá em baixo, com o forno aceso e o pão a sair, fresquinho. 

No dia seguinte levantamo-nos para encontrar a mesa posta, com leite, café, pão, manteiga, queijos locais, os doces feitos pela dona Maria de Jesus, as duas marmeladas, uma mais clara e outra mais escura, e ainda os esquecidos e outros bolos tradicionais da região. Vamos fazer um passeio ali perto, por um troço da Grande Rota do Zêzere que estudamos num mapa colocado numa das paredes da casa, enquanto Maria de Jesus nos conta como faz a marmelada, promete trazer mais logo uma tigelada, também típica daqui, e conversa sobre o fim da época da apanha da azeitona. 

Prontos para sair, metemo-nos a caminho e atravessamos as ruas da Barroca, que faz parte da rede das Aldeias do Xisto, descendo até às margens do Zêzere. A Grande Rota percorre 370 quilómetros, mas nós vamos fazer apenas uma pequena parte — umas duas horas de percurso por um troço baptizado como Terra Mineira. 

O caminho serpenteia ao longo do rio, que corre calmo em alguns sítios, depois alarga-se e agita-se, correndo mais rápido. Este caminho foi usado durante anos pelos mineiros que iam trabalhar para as minas de volfrâmio situadas mais à frente e hoje desactivadas. Os homens percorriam-no de manhã e à hora do almoço eram, muitas vezes, as mulheres que caminhavam ao longo do curso de água, para lhes levar as marmitas com comida. 

Agora somos nós que, descontraídos, passeamos por ali num dia frio mas de sol aberto. E, de repente, a paisagem muda. Desaparecem as árvores e o verde e, ao nosso lado, ergue-se uma montanha de terra clara. São as escombreiras do Cabeço do Pião, pirâmides de gravilha onde se acumulam as partes não aproveitáveis dos minérios depois da lavagem e que são uma ferida na paisagem que serve de testemunho de décadas de trabalho duro dos mineiros. 

É também uma parte da história desta região que passa por este caminho, pelas ruínas de uma “casa da malta” onde os mineiros ficavam a dormir, à beira-rio, e pelo carril enferrujado que corre ao lado do Zêzere. Conta-se que, na altura da guerra, com o volfrâmio que se apanhava no rio, houve quem fizesse fortuna num dia e a perdesse no seguinte. 

Damos a volta e regressamos à Barroca pela outra margem, com mais obstáculos mas uma paisagem igualmente bonita. E, ao fim de 9km de passeio e já com apetite, sabe-nos bem voltar a casa, almoçar, pôr lenha na salamandra e passar uma tarde preguiçosa entre leitura de jornais e jogos de cartas, discutindo planos para voltar e fazer dos Lameirinhos base para, a pé, de bicicleta ou (em algumas partes) de canoa, partir à descoberta de mais histórias do Zêzere.

Nome
Lameirinhos
Local
Fundão, Barroca, Estrada Nacional 238, Lameirinhos, 1
Telefone
916285593
Website
www.lameirinhos.pt
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