Fugas - hotéis

  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR

A casa da padaria, à beira do Zêzere

Por Alexandra Prado Coelho ,

Entre o forno da antiga padaria, as letras tiradas de cartas de amor, os bolos esquecidos de Maria de Jesus e as memórias da vida dura dos mineiros da Barroca, os Lameirinhos são um turismo rural que conta histórias de uma família e de uma região.

José abre o forno e inclinamos as cabeças para espreitar para o interior. É enorme e na escuridão do interior mal conseguimos ver onde acaba. Não é difícil imaginá-lo repleto de pães a crescer no calor da lenha, um cheiro quente a invadir a casa, e o padeiro, com a grande pá de madeira agora pendurada numa parede, a tirar para fora pães acabadinhos de fazer.

Os Lameirinhos — agora transformados em turismo rural, na aldeia da Barroca, serra da Gardunha, quase à beira do rio Zêzere — nasceram não apenas como casa de família mas como padaria. Manuel e Amália Antunes Belchior, os avós de José, Margarida e Teresa Costa Martins, construíram a casa em 1945, já no final da guerra. Eram ainda tempos de racionamento e conta-se que nessa altura havia quem dormisse à porta para garantir que, de manhã, conseguia comprar o pão, que nunca faltou aqui.

A zona da padaria, que ficava no rés-do-chão (agora uma área de estar com televisão e vídeos), era usada também como loja para vender manteiga, ovos, leite, fruta e outros produtos da quinta, onde existia ainda uma vacaria. Era um pequeno mundo, quase auto-suficiente, em que a lenha do pinhal na encosta acima da casa era usada para o forno e a água da mina para amassar o pão. Até o milho para as broas era semeado não muito longe dali e moído na azenha da família no rio, depois de ser posto a secar no sótão da casa. 

Havia também uma enorme garagem, construída para receber as camionetas da empresa Transportes do Zêzere, também explorada pelo avô Manuel, que às vezes cedia o espaço para os animatógrafos ambulantes de passagem pela Barroca aí instalarem temporariamente uma sala de cinema improvisada.

Quando José Adrião, que é arquitecto, decidiu, com as duas irmãs, reabilitar a casa para a transformar num turismo rural, uma coisa era clara para todos: as memórias dessa história teriam que estar presentes. Nos seis quartos, que se estendem ao longo de um corredor cheio de luz, há fotografias que mostram como cada um destes espaços era antes. 

Pouco ou nada mudou na estrutura da casa, mas o ambiente é outro, com as paredes brancas a atraírem a luz, o mobiliário simples e claro, um jarro de água em cima de cada mesa-de-cabeceira com um pouco de alecrim dentro, tudo cheio de pequenas atenções que Maria de Jesus, a incansável guardiã dos Lameirinhos, renova a cada chegada de hóspedes novos. 

A palavra Lameirinhos, pintada a verde água na parede da casa e bordada na mesma cor na roupa de cama, foi escrita com a letra da mãe de José, Matutina, a mesma senhora de vestido branco e lenço a prender-lhe os cabelos que vemos, jovem, numa fotografia antiga, sentada nas pedras do leito do rio Zêzere, perto da azenha da família. Como Matutina já tinha alguma dificuldade em escrever, a palavra foi composta, letra a letra, a partir das cartas de amor que escrevera ao marido. 

Quando chegamos, numa sexta-feira de noite, faz frio na Barroca, mas a potente salamandra já aquece as salas de jantar e de estar e a cozinha. Basta pôr a comida em cima dela e nada arrefece. José faz as honras e, enquanto aquecemos o jantar e abrimos o vinho, vai contando como planeou a reabilitação dos Lameirinhos, “virando” a casa, anteriormente voltada para a estrada, para a parte das traseiras com o pátio, as hortas e o pinhal mais acima. 

Nome
Lameirinhos
Local
Fundão, Barroca, Estrada Nacional 238, Lameirinhos, 1
Telefone
916285593
Website
www.lameirinhos.pt
--%>