É pelas enormes janelas do quarto que vemos a Avenida Luísa Todi, a principal da cidade azul, onde Setúbal se começa a chamar cidade. Com orgulho, este é um hotel urbano.
À saída, trocam-se os olhares com as bicicletas de serventia, gratuitas para hóspedes. Estão ali à entrada como quem diz: pega e vai. Ia-se bem por essa avenida plana que só acaba no mercado. Mas o tempo é para outras voltas.
Ao longo da avenida, os jardins insistem no verde mesmo que as nuvens encubram as cores mais vivas. A chuva que começa a teimar encaminha quem se atreveu a enfrentar a manhã fria para o Mercado do Livramento. A forte cor salmão do lado de fora dá espaço ao azul e branco do interior. Entramos em terras de mar. Na parede do fundo, estende-se um imenso painel de azulejos. São 5700 peças que retratam o trabalho na pesca e na agricultura. As bancas de peixe ao lado das da horta e dos doces. Ninguém neste mercado prega a plenos pulmões. As vozes são de calmaria, como um dia de maré vaza.
Centro da cidade, a sua maior aldeia
Há um único tuk tuk em Setúbal. O do senhor António. Já é assim desde o ano passado, quando decidiu fazer frente ao desemprego. Agora passeia os turistas que chegam à cidade do rio azul. O Sado é para onde todos se viram: os pescadores, as fábricas, os restaurantes, até o seu tuk tuk. António Nicolau apanha-nos junto à guest house. Uma mantinha para cada, mas o frio não entra — o seu tuk tuk é fechado e transparente.
Fazemos uma hora de viagem — por falta de tempo, não por falta de terra por onde andar — pelas ruas estreitas e encavalitadas do centro, até à longa estrada que percorre a baía de Setúbal.
Passamos pela nascente de água mineral da Bela Vista. António ainda era muito novo quando, entre o final da década de 1960, as fábricas de engarrafamento fecharam. Setúbal virou-se (ainda mais) para o mar. Foi atrás dele que vieram os pescadores que haviam de criar o Bairro das Fontainhas — muitos deles de origem algarvia. É um bairro colorido de ruas estreitas, onde se passa rente aos vasos e se toca nas janelas. António vai dizendo olá aos vizinhos e apita aos amigos. Afinal, o centro de uma cidade é a sua maior aldeia.
Das escarpas de São Nicolau vê-se Tróia, à frente de um horizonte que se desfaz. O miradouro é uma das jóias desta viagem. Num dia limpo, impossível perceber o que separa o mar do céu. O tempo tem destas coisas: olhando para o lado, vê-se a serra da Arrábida envolta em nevoeiro, mal se notando o Forte de São Filipe de Setúbal e a sua pousada. “Mesmo nestes dias, a serra é mágica”, diz António.
Seguimos viagem pela baía. Passamos pelo canal do Parque da Comenda que enche e vaza com a maré, pela praia da Figueirinha, dos Galapos e dos Galapinhos, até à praia dos Coelhos, ladeada pela serra. Chegamos, por fim, ao Portinho da Arrábida. Lá em baixo a água cristalina. Azul ou verde, vão lá as algas decidir. “É a serra que beija a praia”, António está seguro, mas à distância é o mar que entra serra dentro.
Guia prático
Como ir
A RM Guest House - The Experience fica no centro de Setúbal. Se vier de Lisboa, a viagem leva-lhe cerca de 45 minutos pela A2. Siga pela saída 5 para convergir com A12 em direcção a Setúbal. Já na cidade, segue pela Avenida Antero de Quental, Avenida Independência das Colónias e Avenida 22 de Dezembro para a Avenida Luísa Todi. Vindo do Porto, a viagem demora menos de 3h30. A opção mais rápida é apanhar a A1. A seguir à ponte Vasco da Gama, vá pela A12 e siga as indicações para Setúbal. O estacionamento exterior é gratuito. Pode apanhar o comboio em Lisboa (Roma-Areeiro ou Sete Rios, por exemplo) e sair na estação de Setúbal. Fica a 15 minutos a pé da guest house.
- Nome
- RM Guest House - The Experience
- Local
- Setúbal, Setúbal, Avenida Luisa Todi, 59
- Telefone
- 265 400 119
- Website
- http://rmguesthouse.pt/