Essa é também um pouco a lógica dos vários corpos de edifícios que compõem a Matinha. Existe a casa principal, onde tudo começou há duas décadas. Tiago ainda não trabalhava aqui mas já ouviu muitas vezes a história de como Alfredo Moreira da Silva, então com a sua mulher Mónica Belleza, se encantaram com esta propriedade de 110 hectares, que os fez trocar os projectos de se mudarem para a Austrália por uma vida no Alentejo, inicialmente numa casa que não tinha água nem electricidade, o que não os impediu de aqui criar três filhos.
Os primeiros hóspedes conheceram esse ambiente que era o da verdadeira partilha de uma casa, no meio de um vale lindo, longe de tudo (da estrada principal são três quilómetros em estrada de terra até à entrada da Matinha). Alfredo pintava — são dele os quadros que se vêm por toda a herdade, nos quartos mas também as pinturas no exterior — e a família recebia os visitantes como se fosse amigos de sempre.
Ao fim de alguns dias compraram outra casa, a chamada Casa de Cima, e assim aumentaram o número de quartos. Mais tarde, o projecto voltou a crescer com a construção do bloco novo — onde fica o nosso quarto, com uma varanda, toda em madeira, voltada para a zona onde, conta ainda Tiago, vai surgir em breve uma horta de plantas aromáticas.
Em breve haverá também outro bloco com mais oito quartos a somar aos 20 que já existem. Entretanto, na casa principal, têm nascido mais recantos, como o pequeno bar com lareira e sala de leitura.
Já não há a mesma intimidade que havia no início mas a tal sensação de estarmos em casa mantém-se. Pela informalidade com que somos recebidos, por um lado, mas sobretudo porque, mesmo na ausência de Alfredo (que, percebe-se, pensa cada pormenor desta casa) se sente um espírito de família, garantido por Tiago, Ricardina e todos os que aqui trabalham.
Damos uma volta pelo exterior, aproveitando as pausas na chuva, para conhecer melhor a piscina e, a seguir, a Casa de Cima, onde fica a grande suíte, que é o quarto maior da herdade, com os pequenos tanques de água com nenúfares e a vista para uma colina onde pasta um rebanho.
“É do senhor Henrique”, explica Tiago. “É um pastor muito simpático que também já pertence à família, os hóspedes gostam muito dele, cumprimentam-nos sempre. Também faz uns queijinhos muito bons.” Não confundir com o outro senhor Henrique, que trata da horta da propriedade, que produz muitos dos legumes usados nas refeições.
Passamos também pela sala circular usada para as aulas de ioga ou outras actividades e que agora está ocupada por cabides cheios de peças de roupa de uma empresa que está a fazer uma produção na região.
Combinamos encontrarmo-nos com Tiago para jantar às 21h. É então que vamos conhecer Anna, uma alemã que aqui trabalha há já alguns anos e que vem à mesa apresentar cada um dos pratos num português de “erres” carregados. Não se espere encontrar aqui comida tradicional alentejana, a proposta é mais entre o mediterrânico e o asiático.
A ementa é toda da autoria de Alfredo, que decide a combinação de pratos a cada dia: há sempre entradinhas, que vão variando (as nossas eram salada de polvo, cogumelos salteados e tzatziki, molho de iogurte com pepino), um prato de carne (neste caso peito de pato com legumes salteados) e um de peixe (tamboril com leite de coco, erva príncipe e sementes de coentros, acompanhado por feijão vermelho e arroz). Por fim, a sobremesa, um crumble de maçã e pêra com gelado de baunilha. Tudo preparado na cozinha por Anna e as cozinheiras Mimi e Mariana.
- Nome
- Herdade da Matinha
- Local
- Odemira, Odemira, Herdade da Matinha - Cercal do Alentejo
- Telefone
- 933 739 245
- Website
- www.herdadedamatinha.com