Fugas - prazeresdeverao

  • Vasco Celio/Stills
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Um banho de lama e sal em Castro Marim

E a argila? Encontra-se no fundo e nas paredes destas “piscinas” onde entramos (os nossos pés escorregam inevitavelmente nela antes de o sal nos pôr a boiar). Também a argila foi ficando, ao longo dos tempos, saturada destes minerais vindos do mar e que aqui se concentram.

Isto não é um spa de luxo

A história das salinas de Castro Marim começou há muito. Há referências à produção de sal marinho desde o século VIII a.C. quando os fenícios introduziram a indústria das conservas de peixe, que era salgado em tanques. Mas as salinas só ganharam o aspecto que têm hoje, divididas em talhões rectangulares, com a chegada dos romanos, que usavam o sal para fazer o na altura célebre molho de peixe a que chamavam garum. A importância do sal era tão grande que os soldados do Exército romano recebiam rações de sal às quais se chamava salarium argentum — terá nascido aí a palavra salário.

Não se sabe se a Salina Barquinha é tão antiga, o que se sabe foi que esteve parada perto de 40 anos, até a Água-Mãe a recuperar, há quatro anos. Aquela que fora a grande indústria da região entrara num profundo declínio. “No ano 2000 havia em Castro Marim dois salineiros a trabalhar”, recorda Luís Correia. “Antes, a produção de sal era dirigida para a pesca, e as conservas de peixe, presunto, queijos. Quando a pesca foi abaixo e as conserveiras começaram a fechar, o sal foi atrás.”

A recuperação começou há poucos anos e de forma tímida. Neste momento, calcula Luís Correia, das 70 salinas existentes há 16 em funcionamento “e todos os anos tem-se recuperado pelo menos uma”. Mas a tarefa é complexa. Com as longas paragens, as salinas acumulam terra e argilas e para as limpar não podem ser usadas máquinas. Isto significa que, por exemplo, a Salina Barquinha demorou um ano a ser recuperada.

A ideia da exploração turística veio mais tarde e tem muito a ver com a vontade de Luís Correia de mostrar o que são as salinas e a arte de trabalhar o sal. Ao mesmo tempo foi percebendo que existia um forte potencial nas argilas — no início, confessa, achou que as pessoas não iam gostar da ideia de cobrir o corpo com a lama escura, mas a reacção foi exactamente a contrária. E depois de uma visita ao mar Morto pensou que poderia introduzir também os banhos minerais.

Nem todas as salinas têm no fundo este tipo de argila que torna o chão impermeável, explica. As de Setúbal, por exemplo, têm um solo arenoso. “Aqui era o antigo leito do oceano, o delta do Guadiana, e esta zona estava toda alagada.” Outra vantagem de Castro Marim é que “sempre foi terra de salineiros” e o saber não se perdeu. Quem hoje trabalha recuperando salinas pode ainda contar com a ajuda e os conhecimentos dos velhos salineiros.

Ao contrário de outras zonas do país, onde as salinas são de grande dimensão, aqui são pequenos lotes. Eram, diz Luís Horta, “uma espécie de hortas das pessoas, porque, apesar da exploração do sal ser um privilégio real, aqui o rei D. Dinis autorizou qualquer pessoa a fazer uma salina”. O resultado é “uma lógica de organização da propriedade que ajudou a preservar esta cultura entre as famílias.”

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