Fugas - restaurantes e bares

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Restaurante AdLib

Por David Lopes Ramos ,

É encantador, no bom gosto da sua decoração, em que há elementos que remetem para o imaginário português - a caravela, os jarrões, os vidros, entre outros -, mas sem nunca cair na tentação do tipicismo, o restaurante Ad Lib, do hotel Sofitel Lisboa.

Já o conhecíamos como Cais da Avenida, mas, com a renovação que atravessou todo o hotel, o restaurante, inaugurado em Setembro do ano passado, está melhor quer na arrumação dos seus 80 lugares, quer nas suas cores quentes (vermelho e ouro), iluminação, mobiliário ou na integração da garrafeira no espaço da sala, a qual tem recantos intimistas e espaços diferenciados para fumadores e não fumadores.

 

Apesar dos elementos portugueses da decoração, o Ad Lib é muito parisiense no requinte e no conceito de pequeno restaurante de hotel, com uma cozinha criativa, que acompanha o ritmo das estações do ano, valoriza a qualidade dos produtos e assenta numa técnica seguríssima. Ou seja, o Ad Lib não navega nas águas ambíguas da chamada "cozinha internacional", geralmente associada à indústria hoteleira, que é monótona, triste e desinteressante.

 

A carta actual do Ad Lib tem seis entradas (preços entre 9 e 16 euros), duas sopas (7,50 euros cada), cinco pratos de peixe (preços entre os 18 e os 25 euros) e outros tantos de carne (preços entre os 18 e os 23 euros) e sete sobremesas (preços entre os 6,50 e os 9,50 euros); há ainda uma ementa de almoços (29 euros, sem bebidas, para uma entrada, prato e sobremesa). Há vinhos a copo e o vinho do mês. A carta de vinhos está bem nos seus 21 brancos, incluindo dois franceses, dois roses, 45 tintos, entre os quais cinco franceses, e os preços são sensatos. Há ainda, é claro, aperitivos e destilados em profusão, além de champanhes.

 

Em duas visitas, uma sozinho, noutra acompanhado, provei, e aprovei, as entradas: "lombo de atum marinado com leite de coco e limas" (11,50 euros), um tártaro, com o atum e o pepino e o aneto em "mirepoix", mais o leite de coco e o sumo de lima a ligar e a espevitar o conjunto: simples, fresco e saboroso; o "carpaccio de pato e "foie gras" com flor de sal, confit de chalotas perfumado com Xerês (13 euros), a carne de pato crua, de corte finíssimo, o "foie gras" bem cozido, muito untuoso, conjunto requintado a que a presença do Xerês confere distinção; e uns deliciosos "caracóis e ovo escalfado em molho de vinho tinto, tiras de pão brioche" (10 euros), com os gastrópodes envolvidos num guisado de cubinhos de presunto e cogumelos de Paris num apurado e apaladado molho de vinho tinto e o ovo escalfado na perfeição, com a gema a derramar-se ao primeiro toque do garfo. Conjunto apetitoso.

 

Quanto aos pratos, experimentaram-se os "filetes de pregado assado, confit de cenouras novas com cominhos e perfumes de laranjas" (22,50 euros); o "raviole e medalhão de lagosta, molho de crustáceos perfumado com baunilha" (25 euros); e o "lombo e costeleta de borrego na grelha, cannellonis de beringelas com sésamo" (18 euros).

 

São três pratos inspirados, de confecção perfeita, equilibrados e harmoniosos. Os dois primeiros, porém, deixaram uma memória de quase desilusão, dada a deficiente qualidade da lagosta, que, além de me parecer das congeladas, é das que deixam um sabor argiloso na boca, provavelmente por ser de águas quentes e, até, de viveiro; quanto ao pregado, de corte e cozedura impecáveis, fresco, denunciava no sabor a sua condição de peixe de viveiro. Bem sei que não é fácil comprar pregados e rodovalhos de mar, mas há-os e a diferença em textura e sabor da sua carne em comparação com os de viveiro é abissal. E um restaurante como o Ad Lib não pode ter na sua cozinha peixes de viveiro.

 

O borrego, esse, estava excelente: no ponto de assadura, rosado, no tempero e sabor da carne, a lembrar o dos seus irmãos "pré-salé", no corte e nos acompanhamentos, com destaque para as beringelas, igualmente grelhadas, servidas em forma de "cannelloni", bela realização culinária e muito bem achada.

 

As sobremesas, gulosíssimas, arrasaram e foram: a "mousse de limão merengado, framboesas frescas e confitadas" (sete euros); "tartelette em chocolate, pêra cozida com amêndoas" (9,50 euros); e o "parfait gelado com figos e aguardente de medronho" (8,50 euros). A apresentação da mousse de limão, em forma de cogumelo, merece menção, bem como o sabor da pêra cozida com amêndoas, Quanto ao "parfait" com as suas passas de figo e mel, tudo muito delicado, sublinhe-se a toque rústico que a aguardente de medronho confere ao conjunto, que pede repetição.

 

Beberam-se, à temperatura correcta e em copos adequados, o Chablis 2004 (30 euros), um branco muito mineral, fresco, elegante, de Bouchard Père & Fils, histórico negociante e produtor de vinhos da Borgonha; e o branco Esporão Reserva 2002, que se apresentou muito harmonioso de corpo, com fruta e frescura e um perfil amanteigado, que sublinhou a qualidade do borrego. O café também é bom. O serviço é atento, simpático e discreto. Assinam a carta os chefes de cozinha Paulo Anastácio e Vincent Delesalle. Temos restaurante na avenida com o mais belo nome de todos os das ruas de Lisboa.

Nome
Restaurante AdLib
Local
Lisboa, Santo Condestável, Avenida da Liberdade, 127
Telefone
213228350
Horarios
Segunda a Sexta das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Quinta-feira e Sexta-feira das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 00:00
Quinta a Sábado das 19:30 às 00:00
Domingo das 19:30 às 22:30
Website
http://www.restauranteadlib.pt
Preço
40€
Cozinha
Francesa
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