Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

Aqui não há nada que enganar

Por José Augusto Moreira ,

Cozinha autêntica, robusta e de base regional. A Cozinha do Manel é um típico restaurante à moda do Porto, com simpatia, mesa farta e produtos sempre genuínos, como atestam (e se atestaram!)

Tal como o algodão, também na restauração há coisas que não deixam margem para enganos. No caso de A Cozinha do Manel basta um simples olhar pela chamada lista de especialidades para se perceber que esta é uma genuína casa portuense. Entre outras propostas, lá estão a vitelinha, o cabritinho ou a mãozinha. Assim mesmo, com diminutivos, tal como somos tratados nos mais característicos locais da cidade: "Ó filhinho, está tudo bom?

 

Embora a afluência de clientela composta por figuras públicas e gente de destaque nas mais diversas áreas - as paredes estão repletas de fotos com algumas dessas figuras e outros figurões - tenha há muito imposto um tratamento que dispensa tais carinhos, a oferta culinária, o forno a lenha, as doses generosas e os sabores sempre bem apaladados atestam a autenticidade de uma cozinha robusta e de base regional.

Instalado num dos velhos edifícios graníticos da Rua do Heroísmo, a caminho da estação ferroviária de Campanhã e mesmo em frente à paragem do metro, o restaurante dispõe-se em três secções. Balcão ocorrido à entrada e corredor que conduz às duas salas de refeições, sobrepostas e idênticas no espaço para as cerca de uma dezena de mesas cada, mas mais aberta e luminosa a de cima. Também o balcão está dotado com os tradicionais bancos para que ali possam ser servidas refeições mais rápidas, mas esse ambiente de pressinhas parece já não condizer com o tipo de clientela actual.

Optamos pela sala de cima. Mesa redonda para quatro, baixela cuidada, ambiente confortável e desafogado. Começou-se com uma canja de galinha, correcta na inclusão das miudezas e carnes esfiadas, se bem que estas um tanto secas. Boa mesmo, a sopa de nabos. Verduras tenras e adocicadas, feijão manteiga e cubinhos de nabo, servida bem quente e em tigela, a remeter para o ambiente rural. Da aldeia, também a alheira de Trás-os-Montes e uma morcela da Beira cujos sabores e aromas não deixavam espaço para a mais leve dúvida sobre a sua genuinidade.

Nos peixes a escolha foi para os filetes. Peças do lombo de pescada fresca envoltas em farinha e ovo, fritura correcta e trazidas até à mesa em travessa sobre a qual foi colocado um pano de algodão para secar a gordura. Acompanharam com um arroz solto com grelos e feijão vermelho. E aqui cabe mais uma vez perguntar porque resistem os cozinheiros a utilizar o nosso arroz carolino, cuja goma e sabor são únicos? É verdade que é mais exigente nos tempos de serviço, mas é também por aqui que se marcam as diferenças.

A designação da escolha seguinte sugeria tratar-se de umas caras de bacalhau que logo aguçaram a curiosidade, mas as larocas do dito apareceram antes como um sucedâneo das típicas pataniscas, que os portuenses costumam designar antes por iscas. Naco do lombo do bacalhau, alto e fino, frito com pele, que é envolta na massa de farinha de milho, ovo, salsa e coentros. Tudo, mais uma vez, a evocar os sabores de aldeia, no ponto correcto de fritura e bem escorrido.

Nas carnes, contornaram-se os suculentos assados no formo que já experimentáramos noutras ocasiões. Solicitam-se, então, uns escalopes de vitela, fritos em polme e ainda acolitados pelo arroz solto com grelos, e costeletas abafadas. Carnes bem avinhadas que refogam na companhia de cogumelos, pimento e orégãos e chegam à mesa cobertas por palitos de batata frita. Tudo, mais uma vez, como nas noites frias de aldeia.

Características comuns a todos os pratos são os sabores apurados e a genuinidade dos produtos utilizados, que pediam vinhos igualmente com personalidade vincada. Para os peixes, o Corga da Chã, um varietal Arinto da zona mais a sul dos Vinhos Verdes, de aroma forte e frescura cítrica, a que se seguiu o Callabriga 2008, um tinto intenso e elegante e de sabores marcados, tal como as comidas provadas.

Na Cozinha do Manel pratica-se uma restauração que evoca o melhor da cozinha regional, com respeito pela tradição, sentido profissional e, sobretudo, muito critério na escolha dos produtos. Tudo a preços sensatos, rondando a refeição os 20 a 25 euros, dependendo dos vinhos que se escolham. Em dias certos, há pratos como tripas à moda do Porto, arroz de pato, cozido ou cabrito assado. Carta de vinhos com propostas ajustadas ao estilo de cozinha robusta que por ali se pratica e serviço sempre muito diligente e atencioso.

Para quem procure modernices e adornos, não será a opção mais aconselhável. Se é daqueles que gosta da mesa farta e não resiste ao apelo dos sabores, o melhor é mesmo registar as coordenadas.

Nome
A Cozinha do Manel
Local
Porto, Bonfim, R. Heroísmo, 215
Telefone
225363388
Horarios
Segunda a Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:00
Preço
20€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Não
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