O conimbricense A Taberna é, para muitos conhecedores do panorama da cidade neste sector, o único restaurante que vale a pena. Isto, é claro, caso não entre no rol o Arcadas, do hotel de charme Quinta das Lágrimas, do chefe de cozinha Albano Lourenço, que tem uma estrela Michelin, cujo estilo e ambições nada têm a ver com as de José Gil, que é o senhor dos tachos, fogões e forno de lenha de A Taberna.
Casa de ambiente acolhedor e caseiro, como gosta de se apresentar, A Taberna propõe à clientela uma meia dúzia de pratos caprichados de culinária portuguesa. Bons produtos, confecção esmerada, serviço de mesa a condizer. A sala é bem iluminada, as mesas bem atoalhadas e não se pense que o ambiente é abafado ou quente por causa do forno de lenha. Nada disso, a temperatura é a adequada à fruição de uma refeição escolhida de uma ementa constituída por alguns pratos emblemáticos da cozinha regional da Beira Interior com um acrescento transmontano: bacalhau com batata a murro (14,50 euros); cabrito (16,50 euros); chanfana (13,50 euros); conserva de porco (13,50 euros); migas lagareiras (14 euros); polvo assado na brasa (16 euros); posta Trás-os-Montes (16,50 euros); vitela à Lafões (16,50 euros). Aos almoços, de terça a sexta, há uma oferta especial: bacalhau gratinado, às terçass; vitela de Lafões assada com arroz de forno, às quartas; galinha (pica-no-chão) assada no forno com batatinha e esparregado, às quintas; e peixe assado no forno com batata à padeiro e grelos, às sextas.
A oferta é curta? Não me parece. Avalio-a como suficiente. E permite a José Gil uma atenção aos pormenores da confecção, além do privilégio de trabalhar sempre com produtos frescos e de qualidade. Por outro lado, juntando-lhe os cogumelos silvestres com alho e salsa, os ovos quebrados, a morcela com grelos, o melão com presunto, o polvo em vinagrete, a orelha com coentros, a petinga em escabeche e a sopa do dia, das entradas; mais o arroz doce, o leite-creme queimado, a barriga de freira, a encharcada, o bolo de bolacha, o quente e frio, a mousse de chocolate, a mousse de chocolate de chantilly e pudim tradicional, além das frutas da época e tropicais e os queijos de ovelha e Rabaçal, das sobremesas, fica o ramalhete mais composto. Isto já para não falar de um capítulo de "modernices" constituído por uma oferta de cinco crepes recheados com doces.
Falemos do que se provou em dois almoços. O pão de mistura (1 euro) que nos chega à mesa morno tem a côdea estaladiça e o miolo espesso e bem cozido; o presunto "pata negra" (5,50 euros o pratinho) é bem fatiado e bom, as azeitonas são temperadas e o escabeche de petingas (2 euros), com a particularidade do molho surgir sem a cebola, alho e louro, agradou muito dado o equilíbrio do tempero sem excesso de vinagre; macia, embora de condimento algo inocente, a orelha de porco com coentros (2 euros). Dos pratos principais, provaram-se meias doses de polvo assado na brasa (12,50 euros), tenro, saboroso, grelhado no ponto, muito bom, na companhia de batatas a murro, grelos cozidos e cebola assada, escolhidos de um tabuleiro em que também há pimentos verdes e vermelhos assados ou arroz. A vitela de Lafões (12,50 euros) que, como mandam as normas, é assada na brasa por ter nascido como prato de feiras e romarias, também se apresentou muito saborosa, escura por fora, rosada no interior, carne a saber a carne de qualidade e não a sangue, complementada por um molho de azeite e vinagre, que considero dispensável, mas não prejudicou o conjunto. Os acompanhamentos foram os já nomeados mais batatas terminadas no forno; finalmente o cabrito assado no forno (12,50 euros), bichinho pequenino bem temperado e bem assado, caramelizado por fora, suculento no interior, muito bem acolitado por batata no forno, grelos cozidos levemente amargos e cebola assada, conjunto delicioso.
Na falta do Rabaçal (um dos grandes queijos de ovelha e cabra portugueses que não se encontra com facilidade), comeu-se Terrincho (5,50 euros), um transmontano de leite de ovelha; quer o de meia cura, quer o curado se mostraram excelentes. Muito bom também o leite-creme queimado (2,75 euros), operação executada antes deste doce fino e simples, que anda por aí muito mal tratado, chegar à mesa.
Beberam-se, de uma escolha não muito alargada mas criteriosa, que ganharia se tivesse a indicação das datas de colheita, dois Bairrada de alto gabarito. O Quinta de Baixo garrafeira 2000, com aromas de terra e de Outono e alguma rusticidade, muito bom, e o Quinta da Dôna 2003, mais delicado, saboroso, quente, o que é uma raridade nestas terras influenciadas pelos ventos frescos atlânticos. Mas 2003 foi ano de caloraça. Os vinhos foram decantados e houve a preocupação de os servir à temperatura adequada, controlada por termómetro.
Então, em Coimbra, se quiserem fugir ao folclore coimbrinha da "Lusa apenas" do Zé Manel dos Ossos, rumem ao restaurante A Taberna que não se arrependerão.
- Nome
- A Taberna
- Local
- Coimbra, Sé Nova, Rua dos Combatentes da Grande Guerra, 86
- Telefone
- 239716265
- Horarios
- Terça a Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
- Website
- http://www.restauranteataberna.com
- Cozinha
- Portuguesa