Fugas - restaurantes e bares

Há sempre outro plano para a noite

Por Andreia Marques Pereira ,

Se alguém quisesse fazer uma amostragem da população jovem do Porto - e jovem com, pelo menos, os mesmos critérios da ANJE, dos 18 aos 40, por alto - dificilmente arranjaria melhor local para levar a cabo essa tarefa do que o Plano B. Porque o Plano B está mais democrático do que nunca.

Ali, o Porto encontra-se (e acotovela-se, dança, respira) como não se encontra em mais lado nenhum (excepto, talvez, no estádio do Dragão): não importa se é da Foz ou de Contumil, da Ribeira ou de Ramalde, a confluência é total. Como não importa se gosta de electrónica ou de rock, pop, hip-hop, jazz - o Plano B é tudo isso e muito mais. Pode ser praticamente tudo o que quisermos. Só quase nunca é o plano b.Como nunca foi um plano original, o que não é necessariamente um defeito.

Na verdade, o Plano B descende de uma linha (não muito longa) de projectos culturais que elegeram a Baixa portuense como abrigo ideal para aventuras mais vanguardistas. E como esses outros espaços, o Plano B (mesmo ao lado dos Clérigos) desdobra-se em múltiplas personalidades, o que não chega a raiar o esquizofrénico porque estas são geridas com algum equilíbrio.

Na agenda ambiciosa desta "associação cultural" cabem actuações de dj"s, concertos, exposições, ciclos de cinema, espectáculos de dança e de teatro, e tudo o mais que vier por bem - e se o protagonismo é mesmo da música (a saber, a aposta da casa, na versão discoteca, passa pela divulgação das novas tendências da música electrónica, sem esquecer o rock e o funk , e, na versão sala de concertos, pela apresentação de novos projectos a par dos consagrados, nas palavras de Filipe Teixeira, um dos responsáveis), é inegável que as outras áreas têm uma programação regular.

E tudo isto acontece porque o Plano B ocupa um espaço, à primeira vista, ideal. Sobretudo pela (sobre) dimensão que permite uma polivalência confortável, sem grandes malabarismos. É galeria, café, bar, clube, sala de concertos - e, depois, tudo o que lhe aprouver. São dois andares com um pé direito descomunal - atenção, quem tem vertigens pode sentir-se incomodado com a íngreme escadaria que leva ao piso inferior -, que não escondem a sua vocação anterior de armazém. Nem houve sequer grandes tentativas para o fazer: é o cenário perfeito para fazer sobressair a decoração retro-chic-decadente que lhe colaram, e que evoca locais com o melhor "pedigree" boémio, seja em Paris ou Nova Iorque.

Há uma certa aura barroca na decoração, que embate depois no "armazém" e empalidece na medida certa para não se tornar excessiva. A casa de banho é paradigmática: parece uma espécie de "boudoir", com os seus lavatórios encaixados em toucadores brancos, os espelhos dourados, os candelabros, as fotografias a preto-e-branco - tudo sobre um fundo de cores fortes. Que se repetem em outros espaços, assim como as fotografias com as suas molduras douradas que parecem ter sido retiradas do sótão de uma tia solteirona.

E que dizer dos espelhos que ocupam uma das paredes de uma das salas do Plano B? Apenas que combinam na perfeição com a atmosfera, onde não faltam sequer os sofás coçados por várias décadas de uso e que se espalham pelas diversas salas. Entre elas, uma sala com papel de parede e um velho piano (o ponto de encontro dos fumadores) e um bar que parece o escritório de um guarda-livros, com os dossiers antigos alinhados num armário azul. (E há excepções a este ambiente: há uma sala com paredes de granito, bola de espelhos e condutas de exaustão; há uma sala com um ar levemente industrial).

No início, a decoração não era tanto assim, tão óbvia, tão "in your face". Quando abriu, o Plano B era mais descarnado, mais cru. Houve unm "upgrade" notório, que alguns dos clientes mais fiéis levaram a mal: de "alternativo", passou a moda e agora (quase) a consenso. O Plano B nunca foi propriamente um segredo bem guardado, mas por estes dias não há qualquer ilusão de exclusividade - encontra-se o estudante de Belas Artes e o de Matemática, o actor, o bancário, a cabeleireira, e é uma via verde para as mais variadas tendências (da moda, filosóficas, políticas, religiosas). Nunca um plano b foi tão primeira opção. 

Nome
Plano B
Local
Porto, Porto, R. Cândido dos Reis, 30
Telefone
222012500
Horarios
Terça a Quinta das 20:00 às 02:00
Sexta e Sábado das 16:00 às 04:00
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