É que, subitamente, entre a Lapa e Santos, entre um copo de Rioja e uma fatia de "queso manchego", Filipa e David sentiram-se novamente em Espanha - e em Espanha, mesmo. Melhor: do outro lado do balcão, outro casal luso-espanhol, os donos desta taberna, Francisco Carvajal e Ana Carmo. E, como se fossem precisos mais sinais, Filipa e David conheciam até muito bem uma certa taberna madrilena chamada Vidales e até o próprio Carvajal. E este também tinha a certeza de já ter visto aqueles dois noutras noites mais "calientes". Tudo isto poderia até ser fado se, aqui, local novo mas onde já se sentem muitas histórias, coincidências e conversas pela noite dentro, a música rainha não fosse outra, igualmente sob o signo do destino, o flamenco.
La Hora Española, que além do serviço de bar & tapas tem também um espaço de mercearia, abriu há pouco mais de um mês, criando uma nova "embaixada" de Espanha. Atente-se em dois grandes pormenores: o tal relógio à entrada, que até veio de uma estação de comboios histórica de Madrid, está ali para dar as horas pelo fuso horário espanhol (sim, é só mais uma hora, mas o que importa é a intenção); e, atrás do balcão, o grande quadro que anuncia petiscos e preços está escrito no mais puro castelhano...
Na árvore genealógica da nova taberna, além de várias coincidências ibéricas, encontramos a tal da Vidales. David, que sabe muito disto, conta que é daquelas "tabernas madrileñas com aire canalla" (e diz isto no melhor dos sentidos, acreditem), fica no bairro de Chamberí e possui uma clientela ecléctica, que mistura estilos vários, de todos os gostos e idades que em comum terão viverem e formarem o espírito Vidales. Pois à Vidales continuam ligados Francisco e Ana e essa taberna é mesmo a mãe desta La Hora Española (aliás, alguns itens que estão por aqui vieram de lá).O senhor de ambas as tabernas, Carvajal, conta-nos que La Hora quer ser "um espaço de referências culturais populares espanholas", tão dedicado à comunidade castelhana residente como a todos os portugueses "que não tenham problemas em passar a fronteira e divertir-se", explica, com um sorriso e frontalidade que parecem acompanhá-lo sempre enquanto recebe os clientes. É evidente que este saber não nasceu ontem. É que Carvajal, além da Vidales, tem mais que se lhe diga: por exemplo, dirigiu teatros por Madrid e por Lisboa esteve, em 2008, na organização do primeiro Festival do Flamenco alfacinha.
Aliás, embora espanhola até à medula, a taberna é resultado vivo de uma verdadeira união ibérica e muito familiar. Enquanto Carvajal está em Lisboa e divulga a sua cultura, Ana, que viveu os últimos anos em Madrid, continua a deslocar-se à capital espanhola para realizar um programa na rádio do Círculo de Belas Artes onde se dedica a divulgar a cultura e música portuguesas. Justo, "verdad"? A razão que levou o casal a mudar-se para Lisboa foi, curiosamente, futebolística: um filho de Carvajal, embora pelos doze aninhos, parece ser um futuro Cristiano Ronaldo e o Sporting já o captou para a sua academia de potenciais artistas da bola. E não é que por coincidência, no rescaldo do convite leonino, alguém lhes liga a dizer que estava vaga esta casa, antes uma galeria de arte, que parecia feita à medida de uma taberna à medida deles? Lá estão outra vez as coincidências a trabalhar. É que nem foi preciso alterar nada por aqui e, porém, parece mesmo que foi construído para ser La Hora, que se limita a dividir-se numa zona de quatro mesas e um robusto balcão com seus bancos a preceito. O resto é espaço para o que der e vier, seja um concerto íntimo ou até uns passos de dança.
Certo é que correrá o vinho de Rioja, ouvir-se-ão grandes do flamenco e de outras culturas espanholas, há-de tagarelar-se em português e espanhol e muito, decerto, em "portunhol". A casa é de Espanha, feita para o diálogo (seja palavroso, seja musical) e para os portugueses se sentirem, também eles, em casa. Voltamos a Filipa e David, que sabem mais disto que nós. Veredicto: "Genuíno". Quem disse que de Espanha nem bom vento nem bom casamento bem pode vir aqui engolir o provérbio com um bom copo de Rioja.
"Las tapas & cia."
As matérias-primas para petiscar ou comprar são "autenticadas e de muita qualidade": Para provar há do presunto Pata Negra ao queijo manchego curado e em azeite, do queijo de cabra com uvas às saladas típicas espanholas, das tortilhas aos vários enchidos. "Uma carta pequena e contundente", resume Carvajal. Para beber, em destaque os vinhos de Rioja ou a sidra.
Versão mercearia
Em funcionamento está também um serviço de mercearia, onde, aliás, além de se venderem os produtos que servem na taberna, poder-se-ão apreciar e comprar itens ligados à cultura do flamenco, dos sapatos próprios para bailá-lo a CD ou livros.
Alma flamenca
La Hora pretende realizar diversos eventos ao longo do ano (sendo até possível começar a abrir aos domingos, até talvez com DJ), com muita música, claro. Em destaque, a ligação ao segundo Festival de Flamenco de Lisboa, lá mais para o Verão, sendo ponto assente que a casa será um dos pontos incontornáveis do certame.
- Nome
- La Hora Española
- Local
- Lisboa, Santo Condestável, Calçada Marquês de Abrantes, 58/60 (Santos)
- Telefone
- 213971290
- Horarios
- Terça a Sábado das 12:30 às 15:30 e das 19:30 às 00:00
- Website
- http://lahoraespanola.blogspot.com
