Fugas - restaurantes e bares

  • Paulo Pimenta
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Charcutaria (fina) com serviço à mesa

Por Andreia Marques Pereira ,

O Xico Queijo é um espaço convivial, aberto a toda a gente e incentivando a partilha de comida e bebidas. No Porto, vizinho da Casa do Livro, vive o dia como uma charcutaria com ar de mercearia vintage, com direito a esplanada. Depois, há música, petiscos e bebidas.

Há uma história familiar e vamos começar por aí. Um trisavô que tinha vacas e produzia queijos — era conhecido por “Xico Queijo”. Os descendentes decidiram homenageá-lo e assim abriram na Baixa do Porto uma “charcutaria fina” a que deram o seu nome. Esta “é uma história real baseada em factos não verídicos”, brinca Pedro Trindade, que partiu do facto de muitos pensarem que Pedro e José Pedro Maia são irmãos. Não são irmãos, são sócios, mas a biografia (um caso de não deixar que a realidade se intrometa numa boa história) ajudou a definir o conceito para o novo projecto do trio (há um terceiro sócio, que aqui faz as vezes de irmão mais novo).

Xico Queijo, portanto, o membro mais recente da família criada pelos sócios — começou pela Casa do Livro, seguiu com o Praça e continuou no Baixa 22. Este novo espaço (abriu a 19 de Junho) é quase um regresso à casa de partida, ou não fosse ele vizinho da Casa do Livro, um dos pioneiros da nova Baixa portuense e primus inter pares na Rua das Galeria de Paris. Quando a Casa do Livro aqui chegou estava sozinha; o Xico Queijo chega quando não há quase nenhuma loja desocupada — e claro que grande parte está ocupada por bares e restaurantes. Poderia ser mais um, daí o esforço por se distinguir.

A tarde começa a declinar e no interior o ecrã espera pelo início de mais um jogo do Mundial de futebol. Nós sentamo-nos na esplanada, de madeira, sob guarda-sóis de tamanho generoso, onde algumas mesas já estão ocupadas: come-se (almoço ou jantar?, são estrangeiros é difícil arriscar), petisca-se, bebe-se. Sai música de lá de dentro — e na verdade lá dentro é já aqui: a fachada envidraçada, de portas abertas, não é tanto uma barreira como um convite à entrada e estamos cá fora com vista total para o interior.

É um espaço convivial, este Xico Queijo, aberto a toda a gente e incentivando a partilha de comida e bebidas. O próprio design do espaço promove essa ideia, com duas mesas altas, compridas, à laia de balcão central, “coisa que se vê muito lá fora, mas aqui não”, nota Pedro Trindade. “Em Portugal somos muito rígidos, pouco abertos a novas experiências. Nunca se sabe quem vamos conhecer.” 

Uma espécie de aventura social para os hábitos (conservadores) portugueses é a proposta deste espaço que se assume como charcutaria fina e cujo conceito surgiu precisamente diante da secção de charcutaria de uma grande superfície comercial. “Estávamos a pensar no que queríamos servir e de repente a ideia: uma charcutaria com serviço à mesa”, recorda Pedro Trindade. Porque antes de tudo, houve o espaço — só depois o conceito.

Com o antigo armazém de borrachas (sempre fechado) mesmo ao lado da Casa do Livro disponível, os três sócios não pensaram duas vezes. “Até porque queríamos manter a qualidade da Casa do Livro.” Se esta mantém o seu carácter mais reservado, o Xico Queijo é extrovertido, como vimos; se a primeira é noctívaga, esta é diurna — e esta é uma diferença assinalável em relação a todos os outros espaços destes sócios. “Queríamos tentar o negócio do dia, nos outros sítios trabalhamos a partir das 17h”, explica Pedro Trindade.

Para o dia, então, uma charcutaria com ar de mercearia vintage — com aquela aura-tradicional-mas-irrecusavelmente-contemporânea tão em voga por estes dias; e com o toque indelével de Pedro Trindade, arquitecto de formação e profissão, detalhista por natureza. Por isso, as tais histórias que ele cria antes de começar um projecto, para não se dispersar. Então voltamos ao “trisavô”, e ao mobiliário, “todo de família”, vindo “da velha quinta”.

Na verdade, é tudo novo, mas as mesas e as cadeiras, estas com o espaldar feito de repas, são idênticas a muitas que estiveram em casas portuguesas há 30 anos, a estante dentro do balcão é uma referência directa a mercearias antigas e, simultaneamente, aos aparadores de sala. Isto combina com volumes modernos como a caixa de madeira que resguarda o espaço da cozinha, outras caixas que são as casas de banho e o balcão de mármore. 

No espaço de pé direito imenso, suportado por colunas brancas de ferro (e sob a tutela de um skiff antigo), o balcão exibe orgulhosamente uma balança de outros tempos, numa das duas prateleiras que acompanham toda uma parede, uma máquina de escrever e lamparinas dividem espaço com garrafas de vinho, espalhados encontramos rádios antigos que são colunas de música. Nas várias portas envidraçadas, t-shirts penduradas (estampadas com temas portuenses) resgatam mais tradição, a das roupas estendidas nas janelas dos prédios.

A música transita entre o interior e o exterior sem nunca se impor — soul, jazz, funk, como está no ADN do “grupo”, ao fim-de-semana servida por DJ. Também nesse vaivém andam os empregados, encarregados de materializar os desejos sugeridos pela carta que vem presa numa tábua de queijos. Queijos que são, claro, os protagonistas dos pratos desta charcutaria, nacionais e internacionais — espreitamos o mostruário e vemos Nisa, Castelo Branco, Terrincho, azul “danês”, manchego, gorgonzola: algumas tábuas chegam a ter oito queijos diferentes (o que não pode deixar de ser um paraíso para os normalmente acérrimos fãs) para uma degustação acompanhada de champanhe, vinho branco ou tinto ou do Porto. 

A acompanhar os queijos há enchidos vários, azeitonas, tortilhas, saladas, conservas. Em breve, estas serão ingredientes em pratos criados na hora, mas por enquanto ainda se vai tomando o pulso ao que os clientes querem. O carpaccio de novilho e o bife tártaro (este, sobretudo) são destaques numa carta onde as refeições frias imperam — contudo, no Xico Queijo a oferta nem sempre cabe na carta, há “sugestões” que dependem dos acasos diários (por exemplo, no dia anterior à nossa visita houve percebes porque um amigo pescador tinha tido um bom dia no mar). Não há acasos diários nas bebidas — há uma oferta vasta onde abundam os vinhos (incluindo argentinos), não se podem contornar os champanhes e destacam-se os “Xico specials”, que incluem sangria rosé com pepino e uvas e sangria espumante de limoncello, por exemplo.

Nome
Xico Queijo
Local
Porto, Sé, Rua das Galerias de Paris, 79
Telefone
0
Horarios
Domingo, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/xicoqueijoporto/
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