Fugas - restaurantes e bares

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  • Na nova esplanada de Inverno
    Na nova esplanada de Inverno DR

Está descoberto o caminho terrestre para a Índia

Por Luís J. Santos ,

É fácil: navega-se pela capital, dobra-se o Bairro Alto/Príncipe Real, caminha-se pelo túnel e são os primeiros degraus à esquerda. E é assim que nos encontramos "perdidos" na Índia, por obra e graça da mais recente estrela da constelação bar-esplanada-miradouro alfacinha. Eis o Lost in, oásis abençoado por uma certa ideia de Índia (e pela loja homónima).

A loja homónima, ao alfacinha Príncipe Real, já era destino obrigatório para os fãs da Índia, tal é o manancial de têxteis e peças que se espalham pelas suas salas. Em jeito de celebração do primeiro aniversário, deu-se uma prenda, extensiva a toda a cidade: um novo bar e esplanada, independente da loja e imbuído dos melhores espíritos da Índia, com direito a belas vistas de Lisboa, da Liberdade à Graça e vizinhanças; um terraço luxuriante que partilha o seu estado shanti, shanti e o seu universo de pormenores e cores com salinhas íntimas de grandes janelões

De seu nome Lost in, pretende mesmo transportar a freguesia para uma sensação de "perdidos na Índia" - numa Índia deluxe, claro está. "O conceito é mesmo shanti, shanti", sorri António Bastos, responsável pelo espaço. Uma nota para quem vive mais afastado das orações indianas: os mantras shanti são preces de paz, que apelam à calma, à tranquilidade, à alegria, à bem-aventurança, que transmitem paz interior. Mas não se pense que há alguma índole religiosa por aqui, nada disso - "o conceito é estético e de atmosfera"; porém, religiões à parte, o shanti dá o tom certo. O gosto pela Índia, conta-nos António Bastos, cuja experiência profissional estava mais ligada ao sector da decoração, vem de há muito, embora só por lá tenha passado, como turista, durante duas ou três semanas de férias. Mas já se sabe que há viagens marcantes...

Embora se possa caminhar para o bar entrando pela porta principal da loja, o ideal é optar pela entrada independente. Experimente, que a sensação é muito mais "perdidos", particularmente depois do lusco-fusco ou já noite feita: mesmo ao lado da loja, passe os tradicionais portões de ferro forjado, heraldicamente coroados, e caminhe lentamente pelo túnel como se procurasse a luz (literalmente, que esta entrada do bar tem luzinha logo ali, emoldurada pela cidade ao fundo) - o passeio é curto mas a sensação de deixar o bulício urbano para trás, nesta meia dúzia de passos que se dão por uma passadeira verde, é prodigiosa. Ora entrando por aqui, vai logo descobrir, uns degrauzinhos acima, um terraço vazio; vazio por enquanto, que há planos para vir a ser utilizado mas estão ainda no segredo dos deuses; só que enquanto está vazio é realmente um belo átrio para as primeiras boas vistas locais.

A surpresa maior vem a seguir: o magnificentemente íntimo jardim, nas traseiras do edifício. Sob a bênção dos ramos de anosas e frondosas nespereiras e de protectores e coloridos chapéus indianos, espalham-se mobiliário e itens made in India (tirando as mesas, que vieram de Marrocos mas casam muito bem com o resto). Há cadeiras e cadeirões (de metal, de verga), e até uma espécie de camas para o relax total de miradouro, mas a atracção maior até está mais escondida a um canto, uma romântica e ornamentada cadeira de baloiço que faz as delícias dos visitantes. E se os olhos primeiro vão a Lisboa, logo viajam até à Índia, cruzando-se com o olhar vivo de um divino e gigante retrato indiano, criado por grafitters numa parede.

E há mais imagens para passear os olhos: por exemplo, da varanda do primeiro andar cai em cascata sobre um chafariz, ocupado por uma peculiar cabeça de manequim de turbante, uma trepadeira (onde até um pano indiano parecia estar entrelaçado). O resto é para ir perdendo o olhar, entre um grande pássaro metálico ou uma divindade indiana, entre desenhos e posters.

Naturalmente, as luzes alfacinhas casam muito bem com as cores aconchegantes que dominam tudo, do rosa velho aos laranjas, do azul ao verde água. E se de dia pode ser um recanto apetecível, que dizer ao pôr do sol e à noite, com os seus naturais jogos de luzes, sombras e iluminação de velas? Enquanto o tempo o permite, é saborear a esplanada (frio? É pedir uma mantinha, que as há). Mas, faça calor, faça frio, não deixe de passear e viver as salinhas interiores.

É que, em duplex, o bar interior é um achado, composto por três salas mais íntimas e uma mais colectiva. No piso inferior, mesas de latão indianas com grandes cadeiras de pé alto (sólidas à séria), paredes trespassadas a cores terra quentinhas, um puzzle de imagens da Índia de todos nós e de todos os turistas (do seu povo ao seu Taj Mahal), onde a palavrinha-slogan Incredible é omnipotente (também a há-de descobrir noutros recantos).

Uma das salas, desde logo, pode ser para muita gente um caso de paixão: só lá cabe uma mesa e umas quatro cadeiras altas, um quadro e um janelão-quase-parede que cria um belíssimo postal alfacinha. Algo nos diz que muita amizade e amor hão-de aqui florir... No piso superior, a sala é mais colectiva (com mesas e bancos mais rasteiros, almofadas, espelhos, biombo florido e ainda as suas devidas janelas-postal) e há também uma sala interior, perfeita para um grupo.

Entre lá fora e cá dentro, eis uma Índia lisboeta pronta a relaxar qualquer urbano mais stressado (e a maravilhar, claro está, muito turista). "O que queremos mesmo é que as pessoas se sintam confortáveis, bem atendidas", sublinha António Bastos, que até acrescenta que "não quer que o espaço seja perfeitinho", nada de Índias de plástico, antes um sítio "natural". Não seria decerto um bar que o professor Agostinho da Silva tinha em mente quando equacionava que era preciso Ir à Índia Sem Abandonar Portugal (título de um livro com conversas do filósofo com Gil de Carvalho e Hermínio Monteiro)... mas para nós, simples mortais, já é um bom começo e consolo.

Referências

In animação
O espaço quer valer por si e pelo seu ambiente mas vai também sendo animado, sem excessos, por concertos íntimos, de escolhas musicais coerentes com a paz local, entre a bossa nova, o jazz ou mesmo uma sessão DJ. Mas também se presta a cenas mais musculadas - ainda há dias teve uma sessão de ilusionismo e forças combinadas. Consulte a agenda de eventos actualizada no Facebook.

In ementas
Índia, Índia, mas nada de ementas de grandes tendências indianas. Ainda assim pode fazer o gosto ao paladar. Não sendo restaurante, apresenta uma carta ligeira e, entre os petiscos, encontram-se kathi rolls (uma espécie de crepe indiano enrolado) de salmão ou frango, curry de gambas ou de frango. A lista inclui outras propostas mais ocidentais, entre saladas várias, tostas e tartes ou petiscos mais lusos (tostinhas de queijo de cabra, ovos mexidos com farinheira, tarte de alheira). Há sempre sopa do dia. Já quanto a bebidas, a ementa inclui básicos e clássicos e propõe também cocktails - a carta das bebidas estava, quando por lá passámos, a ser renovada.

In compras
A loja Lost in abriu no Verão de 2009 e dedica-se a vender todo o tipo de produtos, vestuário, artes e acessórios indianos. Neste edifício, encontram-se ainda outros espaços comerciais independentes, como a Nau Catrineta (decoração), o Cool de Sac (vestuário) ou 56Artes (galeria de arte).

Nome
Lost In
Local
Lisboa, Lisboa, R. Dom Pedro V, 56D
Telefone
213469351
Horarios
Segunda a Sábado das 12:00 às 00:00
Website
https://www.facebook.com/lostin.esplanada
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