Fugas - restaurantes e bares

Ricardo Castelo/NFactos

De Cuba, com surpresas

Por Andreia Marques Pereira ,

Primeiro estranha-se, depois entranha-se este Havana Club Prestige. Encontramos uma ruína e entramos numa caixinha de surpresas. Tem rosto cubano, baila ao seu ritmo mas acaba sempre rendida ao house.
Pensávamos que sabíamos ao que vínhamos mas por momentos perdemos o norte. O número 611 da Rua da Alegria, no Porto, trocou-nos as voltas com uma academia de dança e uma natural falha de visão reduziu-nos o horizonte. Porque, afinal, a fachada meio arruinada que se segue ao prédio rosa, longa de tão longa que é impossível não ver, ostenta um letreiro, estilizado, que a acompanha por um bom bocado, entre faixas de janelas entaipadas. Agora, lemo-lo bem, mas isto foi depois de no-lo apontarem. E isto foi depois de nós termos percorrido de lés-a-lés o interior. Porque o esqueleto tem miolo, abundante - o labirinto do Havana Club Prestige.

Voltemos então a essa noite, ainda incipiente e portanto vazia de gente neste troço da Rua da Alegria, mesmo em frente ao restaurante Portucale e a dois passos da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. A entrada, descobrimo-la à custa da gentileza de estranhos e passado o portão parece que estamos noutro mundo, de ruínas: estamos dentro do edifício descarnado, sob as estrelas, a mirar uma fachada lateral, também meio arruinada, onde a única cor é a do símbolo Havana Club, letras brancas sobre fundo vermelho. Há colunas que já não seguram nada, traves de madeira sem tecto, janelas sem vidro, pórticos sem portas; e há saibro cuidadosamente espalhado, porções de relva com bancos (traves de madeira sobre pedras), canas plantadas junto às paredes - tudo cuidadosamente iluminado com focos e holofotes que dão cor fantasmagórica ao que até chega a parecer uma velha missão espanhola (mas admitimos a influência do tema).

Passamos a porta e continuamos entre "ruínas", mas aqui há cobertura transparente acima delas e sentimo-nos dentro de um projecto arqueológico, a caminhar por um deck de madeira como passarelle, a atravessar mais gravilha e árvores. Curta a viagem. Nova porta e a recepção do Havana Club Prestige não deixa esquecer-lhe o nome: de repente, as paredes cobrem-se de fotografias com imagens icónicas da ilha - músicos, carros, igrejas coloniais, o Malécon de noite, bicicletas, postais de Che Guevara - em cores saturadas entre molduras douradas e ornamentadas, ar velho e gasto como velhas relíquias de família. Os móveis, de madeira pesada e ferro grosso, têm a mesma aura e quase nos imaginamos numa ante-sala colonial - com um sofá de cabedal vermelho.

Está dado o mote para tudo o que vamos ver em seguida - "o espaço lembra Cuba, as ruínas", diz André Pereira. A atmosfera sabe um pouco à Cuba colonial que chegou até ao futuro cristalizada, as referências visuais são os ícones que Cuba hoje produz. O espaço é enorme e não é tudo que que o Havana Club Prestige, aberto a 25 de Março, tem para oferecer.

É uma espécie de versão topo de gama, este Havana Club portuense. O Prestige no final distingue-o dos "irmãos" (da Lixa e Freamunde), que por sua vez se distinguem de outros "havanas" que existem pelo país, porque, explica André Pereira, o relações públicas do Grupo Eskada, proprietário, são clubes "oficiais" da marca de rum cubano. E tal significa que cada projecto tem o selo de aprovação da marca e da embaixada cubana. Não são um bocadinho de Cuba, portanto, mas quase - uma visão dos proprietários baseados nas visitas à ilha das Caraíbas que o arquitecto concretiza. Assim, no presente, porque actualmente o grupo está a preparar a abertura do próximo Havana Club, em Fafe, e a ideia não é parar por aí. Contudo, num futuro próximo, pelo menos, o Prestige não vai ter companhia. Este não é um rótulo fácil de se obter - o primeiro critério é estar numa das principais cidades do país.

O do Porto cumpre-o, é maior do que os outros, tem zona exterior, estacionamento para 200 carros e selecção à porta - o Havana Club, rum, até pode ter sido nacionalizado, os Havanas Clubs, discotecas, até podem ter entrada livre, mas o Havana Club Prestige não é para todos. Afinal, este "é um espaço com ainda mais glamour", diz André Pereira, e, numa altura em que a entrada seleccionada parecia ter caído em desuso, surge, orgulhoso, o Prestige. "Aqui é ao contrário, queremos ocupar um espaço distinto na noite."

Se a impressão digital visual é idêntica em todos os Havana Club, aqui é bigger and better. E transborda pela primeira vez para o exterior: um pátio com fontes de granito iluminadas (um deles com peixes) e um lago (com árvores) surgem enquadrados pelas paredes envidraçadas em "L" do espaço, que até há poucos meses era o Penthouse, clube de strip de pergaminhos da cidade, e antes ainda foi o Colonial Bar. Se calhar vem desta altura a estrutura que nos leva a ter na boca sempre a palavra "colonial" (na verdade, poucas obras estruturais foram feitas aqui, revela André Pereira) - não a evitamos, uma vez mais, neste jardim cheio de árvores, alguma relva e empedradado granítico, com camas de dossel branco e mesas baixas adjacentes, almofadões, pequeno balcão.

Com vista para este pátio, a sala principal e a sala VIP: a primeira, toda espaço de dança, a segunda toda espaço de estar. Esta tem um certo ar de sala de fumo de clube do século passado (com um piano velho a receber uma fotografia de Che Guevara, charuto na boca e cabelo curto), com bar e espaço para sentar; a outra é toda ela pista de dança e icónica: veja-se a parede-santuário, várias imagens de santos em caixas de luz (azul, verde, laranja, vermelho...) e o enorme balcão (pesado, com painéis trabalhados, tachas douradas e tampo de mármore) a condizer com a estante, tipo mercearia antiga, que cobre a parede cheia de garrafas Havana Club aqui expostas como se objectos de arte fossem. E chamamos-lhe icónica porque ostenta na perfeição duas imagens de marca destes Havana Club - o santuário e o mobiliário "antigo" (nada o é, foi tudo feito à medida, como a cabina de DJ, enorme reservado entre varandim de madeira escura). É aqui o centro de toda a animação: os três DJ da casa (Emanuel, Agy e Tiago Cerqueira) revezam-se para garantir que a pista não esmoreça em nenhum dia - à quarta-feira, o house comercial reina só; à sexta-feira e sábado (o dia mais calmo) é antecedido por música cubana (apenas cubana, sem quaisquer outras intromissões latinas, sublinha André Pereira - o Prestige mais uma vez marca a diferença porque nos outros Havana Club a música é latina-festa-total) até cerca das 2h00 (hora em que começa a encher). Ocasionalmente, o sábado recebe DJ internacionais, mas sem euforias, até porque, nota André Pereira, as vezes que fizeram "não funcionou tão bem, não sentiam bem a pista".

Fora deste ponto nevrálgico, outro bar, mais pequeno, com a estante "de marca" mas o balcão, a exibir em LED as famosas fotografias de cubanas, novas e velhas, com charuto, e, sempre em espaços contíguos (mas não fechados), temos recanto delimitado com varandim de ferro para descansar, sala de bengaleiro e sala de pagamento. O mobiliário tem sempre o mesmo estilo (e inclui, por exemplo, aparadores e louceiros), as fotografias abundam (a preto e branco e a cores, de músicos cubanos - vimos Compay Segundo, Omara Portuondo, Rúben Gonzalez...), os candeeiros são de ferro ou de vidros coloridos, as velas e os espelhos abundam, as cortinas vermelhas aveludadas são frequentes.

Tem, portanto, "ainda mais glamour" este havana Club Prestige. E há que estar à altura. O que se avalia pela roupa - sim, há dress code e este é "cuidado". "Nada de havaianas, t-shirts ou camisas com marcas desportivas; sapatilhas e ganga sim, mas a compor um look clássico (excluem-se sapatilhas Nike ou Adidas, por exemplo).

Não tem de ser o fato-e-gravata com que André Pereira nos recebe numa noite de quarta-feira, para conversar na zona VIP - essa sempre foi uma opção pessoal e também uma forma de se distinguir ("para que as pessoas me identifiquem", afirma, "gosto de estar próximo dos clientes, dou sempre cartão com número de telemóvel"). E di-lo para desmistificar qualquer ideia de elitismo. "Não quero que interpretem mal, só temos um dress code mais formal." E quanto ao telemóvel, está à disposição de quem quer entrar na guest list ou conversar sobre "algum assunto pertinente" - mesmo quando esse assunto até é a proibição de entrar no clube. Porque apesar de terem a casa cheia todos os dias - e quem o diz é André Pereira - é tudo feito à custa de uma selecção rigorosa. "Muitas centenas ficam à porta." Mas quem entra tem "casa cheia", de "pessoas a dançarem, a divertirem-se, a saltarem" - para conferir no Facebook e espreitar os vídeos aí regularmente.

Do Eskada Club ao Prestige

O nome do grupo proprietário do Havana Club Prestige é facilmente reconhecível: leva o nome da sua discoteca mais conhecida, o Eskada Club, que de Vizela conquistou Portugal - já foi a "Discoteca Revelação" e a "Discoteca do Ano" em eleição pelo site Noite.pt. A chegada ao Porto foi planeada, mas não muito. O grupo queria ir para a Invicta porque "40 ou 50 por cento dos clientes do Eskada já são do Porto", mas ainda não sabia com que projecto. Quando surgiu o espaço, adequava-se ao segmento Prestige e assim surgiu o Havana Club Prestige.

Nome
Havana Club Prestige
Local
Porto, Porto, Rua da Alegria, 611
Telefone
912958177
Horarios
Quarta-feira, Sexta-feira e Sábado das 00:00 às 06:00
Website
http://www.havanaclubporto.com
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