Entramos na Casa da Baixa e o que primeiro salta à vista é o tamanho - pequeno, para não dizer minúsculo, é este novo café-bar na Baixa portuense. Ainda olhamos para o fundo para ver se nos escapa algo. Mas não. Aqui, o que vemos é mesmo o que temos. Mesmo se à primeira não compreendemos o que vemos. "Chico Fininho", "Rosa do Bolhão", "Ana Americana", "Toneca", lê-se no quadro de ardósia pendurado num canto da janela que é também montra e balcão. As especialidades da casa - e mesmo não sabendo que estávamos ali, entre a Rua das Galeria de Paris e a Rua Cândido dos Reis, saberíamos que só poderíamos estar nesta cidade.
O menu tem "sabor a Porto", brinca Luís Miguel Soares, o designer proprietário desta casa na Baixa. Um pouco de "criatividade para dar boa disposição" às sanduíches: pega-se em letras de autores portuenses (o Chico é óbvio, a "Ana Americana" é a "Ana Lee" dos GNR, que "não sendo americana se celebrizou em Hollywood"), em símbolos mais ou menos informais da cidade (o Bolhão e "o atum Toneca" de antigamente) e ainda se brinca um pouco com a fala popular - temos o "Snoop", uma corruptela do Snoopy, nome de cão muito popular há alguns anos por estas bandas (para não se perder nada na "tradução", "Snoop, o Cachorro" é o nome oficial).
Mas avançámos de mais. Voltemos um pouco atrás e tornemos a entrar nesta casa - "Desde sempre nos referíamos a ela como "a casa da Baixa". Acabou por pegar", conta Luís Miguel Soares. "Gosto da ideia de casa, uma casa só. Embora acabe por estar dividida, o conceito é agregá-la, pode evoluir de diferentes formas" - que abriu em Janeiro. E onde "tudo pode acontecer" - é uma das primeiras coisas que nos diz Luís Miguel Soares; é uma coisa que irá repetir várias vezes. E tudo pode acontecer porque tem sido assim desde o início. E o início foi em 2004, quando o edifício foi comprado para instalar a empresa de design de Luís Miguel Soares (LMS Design). A mudança aconteceu em 2006 - no primeiro andar ficou o gabinete, no segundo andar fizeram-se dois apartamentos para arrendar (neste momento, para arrendamento de curta duração) e no rés-do-chão permaneceu um inquilino "herdado". O contrato terminou no ano passado e não foi renovado. Era um café, permaneceu café com ambições de bar.
Não foi planeado por antecipação, este bar. A ideia começou a instalar-se nos últimos anos, à medida que o movimento da vizinhança se tornou turbilhão. Surgiu a "vontade de aderir e abrir a casa à rua" e este é o primeiro passo - nem totalmente café, tão-pouco inteiramente bar: aberto de manhã ao final da tarde, ao fim-de-semana estica o horário. Deita-se (ainda) cedo na maior parte da semana, mas tenta acompanhar o ritmo do dia (com menu a condizer: de pequeno-almoço, a almoço ligeiro, lanches e tapas). Poder-se-ia dizer que literalmente, pelo menos no que à música diz respeito: o DJ aqui é o Ipod e tem listas organizadas para os diversos momentos do dia - é final da tarde e a Casa da Baixa está quase a fechar, ouvimos Tok Tok Tok e a seguir Tom Waits. Sem fundamentalismos, espere-se escutar jazz, r"n"b, electrónica, algum lounge - e incursões no pop e no rock.
É final da tarde, dizíamos, e este é um horário que a Casa da Baixa quer vestir bem. E à boleia do vinho a copo (com canapés e tapas, cada vez mais elaboradas): os estrangeiros já o fazem - beber um copo de vinho ao final do dia, antes do jantar - e os portugueses começam a seguir-lhes os passos. "Muitas vezes enquanto esperam por mesa num restaurante da vizinhança", para o aperitivo. E, apesar de apenas à sexta e ao sábado ousar entrar em terrenos noctívagos, a Casa da Baixa também quer ser o sítio para "o café e o primeiro copo". "E segundo, e terceiro". "Queremos muito trabalhar este período", confessa o responsável. Isso irá acontecendo gradualmente, à medida que o calor chegar: primeiro virá a quinta-feira e depois ir-se-á avaliando.
E falamos do clima porque aqui essa não é uma questão de somenos. Quando dizemos que a Casa da Baixa se quer abrir à rua deveríamos dizer integrar na rua - é (mais) fora de portas que a Casa da Baixa vive noite dentro. Vem novamente a questão (incontornável) da exiguidade do espaço. Se não, vejamos: sítios para sentar há sete (que podem aumentar para nove), todos ao balcão (balcões, para sermos mais exactos). E não é (só) questão de estilo, embora diga Luís Miguel Soares que um bar é local para se estar de pé. Pode ser "acolhedor e simpático", com música em volumes aceitáveis para a convivialidade, mas realmente é um "espaço não habitável pelo corpo mas pelos olhos".
Pelo menos por enquanto. Porque, realmente, há mais espaço, uma ala nas traseiras depois do vão de escadas que espreita por cima das paredes, mas ainda está em bruto. Ou seja, não foi recuperado. Um dia será - ou não. "Work in progress" diz-nos o proprietário; tudo pode acontecer, já sabemos.
Para já, o make over foi total. Comentámos o tamanho exíguo e Luís Miguel Soares responde prontamente. "Havia de ver antes". Antes era o mesmo espaço, mas sem "artifícios" - o óbvio, espelhos (escurecidos, "para não ficar com ar de pastelaria") nas paredes: uma é quase integralmente espelhada, do outro lado, o canto que fica fora do balcão também o é. O vidro, na verdade, está por todo o lado: a frontaria também é vidro, o mesmo se passa com o balcão - e há ainda a vitrina das comidas. Depois há o inox dos equipamentos de bar e a madeira, pintada sobretudo, mas em bruto por exemplo nos bancos altos nos tabuleiros amovíveis que se alinham durante o dia no balcão para desaparecem pela noite.
O espaço é discreto, neutro na sua cor cinza clara com os únicos toques de cor a serem os candeeiros vermelhos que se alinham sobre o balcão - o principal, que ocupa a parte de leão do espaço e o que corre a fachada envidraçada (visto de fora, é este vermelho que lhe dá um ar acolhedor quando a noite assenta arraiais). E o toque de charme mais visível são as portadas antigas de madeira reaproveitadas como decoração na parede do fundo - "uma maneira de trazer a cidade para dentro e preservar a memória histórica e emocional" deste e dos outros edifícios da Baixa portuense, um século de idade ou para lá a caminhar a passos largos.
Se chegar a abrir para trás haverá, com certeza, mais espaço para sentar e ficar. Agora, já seria bom se se pudesse tornar o vidro da montra - defronte do qual um casal se senta agora com chá e meia de leite - basculante. Para fazer abrigo. Tornar mais interessante a relação com a rua. "É um pouco a maneira como as coisas funcionam por aqui". "Não é fácil no Inverno". Por isso se espera a bonança estival para ver para onde seguirá a Casa da Baixa.
Um apartamento na Baixa
A Casa da Baixa também são apartamentos turísticos, dois pisos acima do bar. Para pessoas que não querem ficar em hotéis, há duas possibilidades: um T0 com cama de casal ou um T1 duplex mais vocacionado para grupos (com beliches). Os preços são €60 e €80 diários, respectivamente.
Vinho combina com tapas Há copos alinhados nas prateleiras da Casa da Baixa - de vinho, de balão, flutes - por debaixo das bebidas brancas, ao lado do vinho. Uma aposta, entre várias, o vinho, com uma selecção variável que obedece apenas a um critério: vinho de pequenos produtores, diferentes, menos "comerciais" - a excepção: uma garrafa de Kopke que ali espreita entre outros vinhos do Douro, do Ribatejo... "Quero dar consistência ao conceito do vinho", reflecte Luís Miguel Soares, sem se querer prender demasiado a rótulos estanques. Também por isso vai haver um maior investimento em tapas, verdadeiramente substanciais - quase refeições. "Coisas que marquem". E "coisas diferentes", como acontece com a pastelaria: ao lado dos mini-eclairs da Leitaria Quinta do Paço, das bolas de Berlim com chantilly, quer-se diminuir progressivamente "os básicos". Básicas, ligeiras, são as refeições aqui - as sanduíches com nomes "portuenses" (entre os €2,50 e os €3), as sopas (a €1,10 - sopa+baguete a €3,50), a milanesa mista (€1,20), o frimix (folhado de carne) com cereais (€1,40), a empanada de atum (€1,20)...
(Fevereiro 2011)
- Nome
- Casa da Baixa
- Local
- Porto, Porto, Rua de Santa Teresa, 4
- Telefone
- 228328504
- Horarios
- Segunda a Quinta das 08:30 às 19:00
Sexta das 08:30 às 03:00
Sábado das 09:30 às 03:00
- Website
- http://casadabaixa.com