O passado ainda é muito presente aqui. O telefone toca e do outro lado alguém faz a pergunta - nós ouvimos a resposta. "O Gran Caffé fechou. Agora é o Timbre." "Agora" é há três meses e o passado tem poucos dias mais. Foi quase uma passagem de testemunho, uma troca de actores no mesmo palco, com o mesmo cenário mas com um texto um pouco diferente. Este é um guião importado e formatado, vem de Nova Iorque e na Baixa do Porto tem ganho popularidade: o do restaurante-bar, que no Timbre (Food & Drinks, de nome completo) encontrou um discípulo fiel. Ou não seguisse ele, ali à sombra da câmara municipal, todos os preceitos do conceito a rigor - dividido em três zonas, há lugar para restaurante, bar e sala privada, todos a funcionarem simultaneamente em coexistência simbiótica.
Por detrás da fachada, que se faz de vidro neste rés-do-chão da Praça Humberto Delgado a mirar o centro cívico da cidade, abre-se um espaço amplo de visual contemporâneo, clean e cuidado a alinhar um cenário cosmopolita q.b. e despretensioso. O horário também reflecte essa urbanidade latente. Por estes dias já funciona ininterruptamente, tal como foi idealizado - das onze da manhã até às primeiras horas da madrugada. Nas semanas iniciais fechava durante a tarde para abrir antes do jantar, como ponto de encontro after work ou para o aperitivo para a refeição; agora as tardes têm as portas abertas (faz todo o sentido, justifica Daniela Barreto, pela dinâmica da zona e pelo movimento de turistas - o posto de turismo é vizinho) e carta de snacks disponível (salgados, doces...). Os "petiscos" à laia de tapas estão, aliás, sempre prontos a ser servidos, quando a cozinha está fechada (às 23h à semana e às 24h à sexta-feira e sábado), o que significa que as noites de "bar" estão alimentadas - porém, não haja confusões, é a cozinha a alma do Timbre. "É o foco principal", assume Daniela.
"Mas não podemos descurar a parte da noite. Temos todas as condições para a ter." Por isso, haverá programação regular, embora por agora haja apenas DJ ao fim-de-semana e música ao vivo de quando em vez - com Carol Curry, presença habitual (e bem sucedida) no irmão matosinhense Luau, que traz jazz e bossa nova na companhia de Bea, à guitarra. A música chega às 22h em ritmo de chill out, para não importunar os comensais, e sai à meia-noite, qual Cinderela. A partir daí, tudo pode acontecer porque não há interditos estilísticos, tudo depende da linhagem do DJ, que pode trazer noites de puro flashback, deambular pelos êxitos comerciais ou até aventurar-se no soulful.
Dividida informalmente com um pequeno desnível, marcado com uma divisória transparente à laia de varanda que dá fluidez à sala, estão bem demarcadas as áreas de restaurante e bar - este, na parte "superior", ainda se aninha numa reentrância alteada, deixando o balcão como elemento aglutinador de todo o espaço, bem no centro - e mais ainda a sala privada. Foi esta polivalência do espaço que o tornou no restaurante-bar que o grupo Plurinvest (proprietário, entre outros, do Real Indiana e do Luau) queria abrir na Baixa portuense desde que esta "começou a ter nova vida", explica Daniela Barreto, a responsável pela comunicação. Já tem, portanto, algum tempo esta pretensão. O tempo da busca pelo "espaço ideal": este tem "localização privilegiada no centro de tudo" e a "disposição certa" para o projecto - sim, não é original a abertura de um restaurante-bar nesta zona da cidade, porém, sublinha Daniela Barreto, nenhum outro tem estas condições "naturais". Foi, bem se vê, amor à primeira vista e a decisão foi rápida - saiu o Gran Caffé, que já tinha "substituído" outro espaço similar, o Black Coffee, e entrou, no espaço de uma semana, o Timbre - a 7 de Outubro de 2011.
Claro que esta celeridade pouco comum também foi potenciada pela pouca intervenção que foi necessária. A nível estrutural ela foi praticamente inexistente; a nível de decoração foi pouco mais. "Mudámos algum mobiliário", conta Daniela Barreto - e vão mudar mais, como a cabina do DJ que se encaixa entre o balcão e a "varanda": a localização dificilmente podia ser melhor, na "linha divisória" entre bar e restaurante, o tamanho é que é desadequado. Vidas curtas deverão ter também as fotografias nas caixas de LED, que acompanham uma das paredes da zona de restaurante (mantendo-se fixas nas horas de refeições, mas mais soltas durante a noite "para dar ambiente"), encaixados em espécies de "contrafortes" (colunas brancas com "rabiscos" negros e cinzas): elas até são novidades, contudo o resultado não foi o esperado.
Está visto que quem conhecia o "antes" pode ter uma forte sensação de déjà-vu com este "depois". As mesmas (com algumas intromissões que passam despercebidas) mesas e cadeiras a combinarem madeira com metal, os mesmos sofás escuros rentes às paredes nos intervalos das colunas e na zona mais recolhida do bar, os mesmos candeeiros que são quase instalações com o metal a cruzar-se como ramos secos, o mesmo balcão de mármore, o mesmo espelho gigante, as mesmas mesas altas. Na sala das traseiras (fechada mas de porta aberta), a decoração segue a mesma linha, mas como esta é um satélite do restaurante com mais vocação para grupos pode ser transfigurada para se tornar quase como uma sala de casa, com uma imagem a sépia do Porto na parede do fundo, um sofá na parede oposta e uma garrafeira num canto. Na verdade, esta ordem divisória pode-se desordenar e o bar pode alargar-se às outras áreas se tal for necessário e em horário extra-restaurante. É nessa altura que brilha mais a carta líquida da casa: as estrelas, os cocktails, até podem já ser presença habitual a acompanhar as refeições, mas ninguém se atreve a negar que o seu protagonismo é maior no antes e no depois. São uma aposta, os cocktails (como o são no Luau), é uma surpresa o champanhe - "está na moda", considera Daniela Barreto, a solo ou em misturas (Kir Royal, Bellini, Enamorato feitos com um espumante australiano, Jacob"s Creek). Gin Basil, Maisiac e Timbre (o cocktail-assinatura, com vodka e frutos silvestres) são algumas das criações da casa; o "cosmopolitan" um dos clássicos mais contemporâneos. Como se quer num espaço cosmopolita, com um certo twist - à moda do Porto.
À mesa: Com fusão internacional
É bar e é restaurante, mas ninguém nega a prioridade - a cozinha. À frente dela está o chef Raniel Rodriguês (o seu percurso levou-o ao Tragabutes, em Ronda, e aos lisboetas Luca e Fusion) que traz a receita testada anteriormente - pratos de autor de fusão internacional, numa selecção a renovar periodicamente. Entre as carnes de caça, o peixe, as pastas e os risottos, destacam-se o risotto al frutti di mare (13,80€), as presas de porco (12,90€), os filetes de corvina (15,90€) e de peixe-galo (16,40€) - não está na carta, mas está na ementa "informal", carbonara al pomodoro, por exemplo, parte de um conjunto de "pratos mais simples" que estão também disponíveis.
Ao almoço
Ao almoço, de segunda a sexta-feira, está disponível o habitual prato do dia, com preços entre os 5€ e os 7,50€. Ao prato do dia juntam-se a sobremesa do dia - no dia em que lá estivemos, mousse (1,80€) e a bebida do dia - um copo de vinho (2,40€) ou um cocktail (marguerita de maracujá, por exemplo; 3,20€).
Em grupo
Grupos têm direito a espaço mais reservado na sala privada (até 30 pessoas) e a menus especiais. Dependendo das escolhas o preços variam, mas normalmente rondam os 20€ por pessoa, com direito a dois copos de vinho ou sangria para dividir por dois. Se os grupos têm mais de 25 pessoas, a melhor opção talvez seja um buffet, aconselha Daniela Barreto. E se quiserem música ao vivo é possível marcar - com o respectivo acréscimo de preço (se for para 20 pessoas, por exemplo, são mais oito euros).
- Nome
- Timbre
- Local
- Porto, Porto, Praça do General Humberto Delgado, 307
- Telefone
- 961720537
- Horarios
- Segunda a Quinta das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 02:00
Sexta e Sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 03:00