Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/NFactos
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Já se pode dançar nos Aliados

Por João Pedro Barros ,

Baixa mais Baixa não há. O Boulevard está em plena Avenida dos Aliados, no Porto, e tem uma pista de dança com capacidade para acolher cerca de 500 pessoas. Mas o projecto lançado por quatro jovens é mais do que um clube para dançar ao fim-de-semana: de segunda a quinta-feira, o ambiente é de tertúlia, com eventos culturais e noites temáticas.

O Boulevard nasceu do sangue, suor e lágrimas de quatro estudantes de Enfermagem que começaram a organizar festas nos tempos de faculdade. Por isso, é notório o orgulho que têm no espaço, que levou dois anos a abrir. "Há dias, esteve aqui um grego que nos dizia que temos uma vista de postal", conta Daniel Firmino, com alguma vaidade, no segundo piso deste café/bar/discoteca, onde se localiza a pista de dança, que apenas abre habitualmente ao fim-de-semana. Do outro lado da janela está a Avenida dos Aliados, com todo o esplendor das suas fachadas neoclássicas. Não é uma perspectiva que se tenha todos os dias e os proprietários querem tirar partido dessa atmosfera e de noites temáticas, durante a semana, para se imporem na Baixa.

Os cerca de 220 metros quadrados da pista de dança permitem ao projecto diferenciar-se da alargada concorrência, centrada nos pequenos bares. Agora, já se pode dançar nos Aliados, e ainda por cima à larga. "A Baixa não se faz de espaços de 3000 pessoas, mas tem de haver discotecas onde caibam 500, o que é o nosso caso. A determinada altura da noite, as pessoas querem divertir-se num ambiente mais cheio e partilhado. Face a isso, somos únicos no Porto", avalia Daniel Firmino, um dos sócios. A partir da 1h, o registo é puramente de clube, a apelar à dança, mas cada festa tem o seu perfil musical: promete-se uma forte ligação ao universo académico e um cartaz que pode ir do rock ao tecno.

Mas a alma do Boulevard, que abriu oficialmente a 3 de Dezembro, não se esgota na pista de dança, bem pelo contrário. O primeiro piso é o seu coração, a sala de estar: dominam os tons creme, há cadeiras clássicas - em madeira e pele - e uma cristaleira. Um mural com figuras e símbolos do Porto demonstra a profunda ligação do projecto à cidade. O espaço evoca os típicos bares ingleses de alta sociedade, mas essa imagem é estilhaçada pela estrutura do balcão, que remete para as irregularidades da fachada da Casa da Música. "Queríamos um espaço onde nos pudéssemos sentir bem com os nossos amigos, despretensioso, onde haja a oportunidade de "estar". Toda a gente gosta de estar à lareira, à conversa, com um copo de vinho na mão", sublinha Daniel Firmino. De segunda a quinta-feira, a actividade vai centrar-se nesta sala, cuja porta abre a partir do final da tarde (18h).


Cinema, concertos e cocktails

As sonoridades jazz e lounge dominam a sala de entrada e um pequeno palco denuncia a vontade de acolher teatro e música ao vivo. Aqui servem-se tapas, pastelaria e cafetaria, e há ainda francesinhas a 6,5 euros e cachorros a 5 euros. O programa está definido: segundas e terças-feiras são dedicadas a curtas-metragens e ao teatro, em parceria com universidades; as quartas terão música ao vivo, do fado ao funk; e às quintas-feiras realizam-se noites de cocktails low cost. Dentro da carta existente, serão destacadas duas ou três receitas, desde as mais populares (caipirinhas e mojitos), até outras mais extravagantes. "Será tudo feito em frente ao cliente, com os melhores produtos possíveis e um preço aceitável, entre os 6 e 7,5 euros. Queremos provar que há muitas maneiras de beber um Beefeater 24 ou um Hendrick"s", esclarece Daniel Firmino. Para além disso, no arranque da semana, haverá regularmente noites premium, em que o objectivo é apresentar "algumas das melhores bebidas do mundo" (whiskiesvelhos, gins, licores e vinhos de gama alta) a preços mais confortáveis.

A porta do Boulevard passa algo despercebida, já que apenas uma discreta placa assinala a entrada (e ainda é preciso subir um lanço de escadas). Este aspecto vai ser revisto, mas a casa, ainda a caminhar para a velocidade de cruzeiro, não vai primar pelo show off. "No primeiro mês, sem qualquer chamariz, tivemos aqui 5000 pessoas. Queremos ter a casa cheia sem chamar toda a gente, mas apenas aquelas pessoas que são importantes e gostam de nós", assegura Daniel Firmino.


Da Enfermagem para os copos

Daniel Firmino, Jorge Leite, Vítor Magalhães e João Leite são os quatro sócios que deram corpo ao Boulevard. Têm entre 24 e 26 anos e conheceram-se em 2004, como estudantes da Escola Superior de Enfermagem de Santa Maria. No entanto, foram-se desviando do rumo profissional mais previsível, ao organizar festas académicas (algumas delas de grande dimensão) e, mais tarde, os congressos e formações da própria instituição de ensino. "Foi mais uma questão de gosto do que uma perspectiva de vida, mas também houve a necessidade de fazer face ao desemprego. No mestrado, já procurámos conhecimentos de gestão, que nos permitam agilizar pequenos negócios como este", observa Daniel Firmino. O edifício que ocuparam nos Aliados, que já foi do banco BPI, apareceu no horizonte do quarteto por intermédio de um dos patrocinadores dessas festas académicas, que usa o piso térreo como loja. Abrir portas demorou dois anos, num processo burocrático que os deixou de cabelos em pé. A ideia inicial passava por concentrar as valências num só piso, mas exigências de segurança obrigaram a uma solução que se revelou bem mais dispendiosa. O investimento final foi de "centenas de milhares de euros".


O Porto no coração

Numa das paredes do primeiro piso, está um mural onde se podem reconhecer o antigo Palácio de Cristal, a Ponte Luís I, o edifício da Câmara Municipal ou o Palácio da Bolsa. E figuras do Porto como o Infante D. Henrique, Guilhermina Suggia, Almeida Garrett ou os contemporâneos Rui Veloso, Rosa Mota e Pedro Burmester. A obra, da autoria de Gabriela Marques Costa, é uma espécie de declaração de amor à urbe, ou não fosse o seu nome Invicta Cidade. A "dedicatória" ao Porto também está implícita no nome Boulevard, ou seja, grande avenida: "O Porto não tem nenhuma, porque não faz parte da sua filosofia arquitectónica, mas se tivesse seriam os Aliados. Neste momento há aqui pouco comércio, restauração e muitos edifícios estão a cair, mas vamos conseguir ter uma casa que poderia estar nessa grande avenida, com muito eclectismo", justifica Daniel Firmino.

Nome
Boulevard
Local
Porto, Santo Ildefonso, Avenida dos Aliados, 58-62
Horarios
Segunda a Quinta das 18:00 às 02:00
Sexta e Sábado das 18:00 às 06:00
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