Fugas - restaurantes e bares

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Como num conto infantil

Por Andreia Marques Pereira ,

Na Casa Grande Chocolatier, o chocolate artesanal não é a regra, mas faz a regra. O resto é excepção.

Não é a primeira surpresa - já tínhamos, por exemplo, visto vacas a sair da parede - mas é a primeira que nos desperta a curiosidade e não um sorriso tonto de criança adiada. "Vamos ver o chocolate a ser temperado", diz Fernanda Pereira. É também a primeira "lição": a temperagem do chocolate é atingir a temperatura ideal para o trabalhar. "Para resultar estaladiço e brilhante." A condição de um bom chocolate; a missão de um chocolatier. Que não é quem mais ordena aqui, mas quase. Afinal, estamos na Casa Grande Chocolatier onde o chocolate artesanal não é a regra, mas faz a regra. O resto é excepção.

Começamos pelo armazém porque é aqui que estamos no verdadeiro país do chocolate. Perante os nossos olhos desfilam todos os produtos gourmet da casa grande: os bombons frescos de dezenas de sabores (malva flor e flor de laranjeira, aroma de rosa e mirtilo, pimentão e açafrão, champanhe...); as trufas de oito ("há quem venha de propósito quando sabe que há frescas", conta Luciano, ele próprio um chocolátra assumido) em gavetões de plástico, cuidadosamente acondicionadas. As tabletes com as diferentes percentagens de cacau (têm até 83% e estão a fazer-se testes para aumentar), as de sabores (10), as recheadas, as de frutos (as de tamanho XL para serem "desfeitas" e vendidas ao quilo), os azulejos e os rochers, os fósforos (chocolate branco e de negro), as pipocas de chocolate e os marshmallows, o fondue e os chupas, os boiões para barrar e para chocolate quente (vendidos com a receita). Há produtos para crianças, para o dia do pai e da mãe tudo com embalagens alusivas e todas artesanais.

Tudo começou com o chocolatier que veio de França para formar equipa. "Não há base em Portugal, nós demos formação." "Nós" são Fernanda Pereira e Luciano Barroso, que em 2009 decidiram mudar de vida e criar a Casa Grande Chocolatier. Ele deixou a arquitectura, ela a empresa têxtil da família, entretanto vendida. Pesquisaram, viajaram, viram o que se fazia lá fora. Na Bélgica e em França encontraram o universo que quiseram recriar: a fábrica artesanal nas traseiras e a loja à frente. Fizeram-no noutra escala: aqui, em Ribeirão (Vila Nova de Famalicão), está a fábrica - parte industrial e parte artesanal, assumidamente a menina dos olhos -, as lojas estão em várias cidades do Norte do país e este ano vão chegar a Lisboa, Porto e Coimbra, sempre em regime de franchise.

Na sala de visitas, chamemos-lhe assim (na verdade, são duas salas de workshops e laboratório), da fábrica, que se esconde por detrás de portão branco em ambiente quase bucólico, espreitamos esse universo, é uma amostra do que se vai replicando nas lojas. A decoração é decididamente retro, acolhedora como a casa da avó de um conto infantil ou, para sermos mais terrenos, da família modelo dos EUA circa 1950: lambris de madeira branca, armários "antigos", prateleiras nas paredes recebem utensílios de cozinha que por estes dias já parecem vintage e produtos que fazem a fama da casa. Se "todas as chocolatarias lá fora são minimalistas e escuras", a Casa Grande é o oposto. É um espaço claro, de alguma "fantasia" (e não é só o candeeiro feito de garrafas de leite aqui, ou os baldes de zinco no tecto e as gotas de leite a escorrer pelas paredes das casas de banho): "porque é assim o chocolate", resumem os dois mentores, rodeados de garrafas, frascos de bolas de golfe, tabletes, bombons - num louceiro, caprichos de "época" (pais natais, coelhos, ovos) ou devaneios artísticos (casas, guitarras) são vitrina da imaginação que anda à solta para se fundir em chocolate.

Nas lojas, há sala para degustação; das lojas saem os seus produtos de maior sucesso: o hot chocolate milk (uma bola de chocolate espetada num palito gigante que derrete no leite) e as palets, lâminas de chocolates de várias cores e sabores. E os bombons são a sua imagem de marca, de mil e um sabores, incluindo os mais insuspeitos aos paladares mais convencionais - como os de piri-piri, por exemplo, que a Fugas experimentou. É uma constante, a procura de novos sabores (como o eucalipto) e de novos produtos (como o pau de canela com chocolate na extremidade para mexer o café, que será patenteado em breve). Não podia ser de outra forma. "O chocolate não é um bem de primeira necessidade", sublinha Fernanda Pereira, "logo, para vendermos temos de inovar constantemente, nos produtos e nas embalagens".

Na Casa Grande cumpre-se todo o processo do chocolate - só não se cultiva o cacau (por enquanto). Ele chega vindo de várias proveniências e é transformado no coração da fábrica, uma sala de máquinas, asséptica mas com um odor irreprimível de chocolate quente, onde a receita é da casa. A partir desta base, tudo se divide: há o chocolate que desce para a zona industrial e há o que é retirado para a cozinha. A parte industrial nunca se vai sobrepor, assegura Luciano.

É na cozinha, portanto, que o chocolate se faz arte e a Casa Grande respira a sua vocação artesanal. Hoje, Emília e Carla assumem a produção do dia - em alguns períodos, é a zona mais fervilhante, com funcionários temporários a dar resposta aos pedidos de época. No atelier espreitamos os modelos da "temporada" que se aproxima, a Páscoa, por todo o lado os sinais de São Valentim: na cozinha, bombons-corações acabados de fazer e na zona da embalagem eles estão em chupas e diversos volumes, de várias cores e recheios, a receberem embrulhos, sempre manualmente.

Na zona das encomendas prontas a partir para as lojas, já vemos packs que são caixas em forma de coração e vemos chocolates personalizados ("Adoro-te papá", a caminho de Vila do Conde) - daqui a pouco vemos Fernanda a personalizar azulejos para o Dia dos Namorados: com uma bisnaga de papel vai escrevendo, mão firme e tendinite à vista, "és especial" ou "amo-te". Noutra bancada, Carla faz o tempero manual (há também uma máquina, em constante rotação, que é como uma fonte de chocolate) com duas espátulas e um constante vaivém para "cristalizar o chocolate", explica. Carla havia estado antes a cobrir bombons de muscadine feitos de manhã. "Ter chocolate fresco é diferente", comenta Luciano Barroso depois de provarmos directamente do tabuleiro - essa é a experiência que proporcionam nas suas lojas.

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A Casa Grande tem lojas próprias em Barcelos, Braga, Coimbra, Gaia-Arcozelo e Vila do Conde

Nome
Casa Grande Chocolatier
Local
Vila Nova de Famalicão, Ribeirão, Rua São João, Lugar dos Curros
Telefone
252415252
Website
www.casagrande.pt
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