A Marbela é muita coisa, mas antes de tudo é bombonaria - embora, curiosamente, não seja o que se vê quando se entra no espaço, pequeno, numa rua pedonal de Esposende. Poderia ser uma confeitaria como outra qualquer e os expositores aí estão para demonstrá-lo: a pastelaria de um lado, bolos de aniversário (ou não) em frente, rigorosamente geométricos, brilhantes no seu chocolate - dir-se-ia que têm acabamentos perfeitos.
E aí entra a bombonaria (e chocolataria) desta casa que começou como pastelaria em 1987 e assim poderia ter continuado se o filho do proprietário gostasse de estudar. Como não gostava, começou a trabalhar com o pai aos 14 anos e chegou até chefe pasteleiro. Pelo caminho, "descobriu" o chocolate, a Marbela ganhou uma segunda vida e Rui Costa tornou-se nome incontornável no mundo do chocolate, formador de méritos reconhecidos.
No início, gostava de "brincar", fazer "casinhas de chocolate" para compor as montras. Depois, começou a frequentar feiras, foi aprendendo técnicas e rendeu-se ao chocolate. "Procurava sempre novas coisas", lembra, "porque o chocolate aplica-se em tudo." Na pastelaria, nos bombons, nos gelados (desde o ano passado)."É como uma filigrana."
Filigrana que ele trabalha como "obras de arte" - as palavras são do pai, António Costa; ele não se considera um artista, apesar de reconhecido em concursos internacionais (no Campeonato do Mundo de Pastelaria conquistou um 9.º e um 7.º lugar) e de obras emblemáticas por si criadas, como uma peça de Dalí ou a guitarra portuguesa com busto de Amália Rodrigues que agora vemos na fábrica à espera de reparação.
Essas esculturas são obras de excepção, diz, para concursos, para as montras - "faz qualquer um que passe parar". "Dá-se especial valor porque se destacam no trabalho de um pasteleiro." Mas as suas criações "festivas" são conhecidas - os pinheiros, as bolas e as pinhas de Natal, os ovos de Páscoa; e as suas máscaras, pirâmides ou torres são icónicas de um trabalho artístico escrupuloso.
Mas Rui Costa é um pasteleiro, assume-se. A sua "arte" é todos os dias posta à prova na pastelaria francesa, nos bolos, nos macarrons com que recheia os expositores. E, uma vez por mês, nos bombons que descem da fábrica para a confeitaria (cerca de cem quilos mensais). Vem gente de fora por eles, conta o pai, que se exibem coloridos, no que Rui chama de "sistema francês" ("em escadinha"), numa vitrina especial. "Foi o que mais se destacou na reabertura, em 2000", sublinha Rui. São brilhantes, como diamantes polidos, na sua maioria - "é o sistema belga, feito em moldes". "Fomos dos primeiros a fazê-los em Portugal." Há quem não goste, reconhece, e prefira os "franceses", cortados, que também se vêm por ali.
Nas prateleiras são as tabletes e as caixas variadas que compõem a oferta - e as amêndoas, de vários sabores, são lendárias. São uma adição muito recente à oferta com a assinatura da Marbela: foi em Novembro que se começaram a produzir, com diferentes percentagens de cacau, juntando-se aos tradicionais que já tinham, de leite e negro. "Faltam os recheados", nota Rui, mas neste momento estão a avaliar a rotação. Para melhor corresponder aos desejos dos consumidores. Por isso há sabores que vêm, vão e regressam (o maracujá foi paradigmático aqui) e há os "eternos", como os de baunilha, frutos do bosque e de crème brûlée. Há os que virão, porque a pesquisa faz parte do dia-a-dia de Rui Costa, de sabores e formas novas.
Por estes dias, é a Páscoa que lhe enche a fábrica - nos expositores já estão os lábios e corações vermelhos (o violeta não foi bem acolhido) do São Valentim. Pelo meio, há um campeonato europeu para preparar. O tema já está escolhido - o fado, património mundial - falta tempo para deixar a criatividade trabalhar.
- Nome
- Marbela
- Local
- Esposende, Esposende, Rua 1.º de Dezembro, 71
- Website
- http://www.marbela.pt/