Na Rua de Cândido dos Reis do Porto havia um auditório; na Rua Cândido dos Reis do Porto há um Auditório. O primeiro era uma sala do BES, polivalente como são todos os auditórios; o segundo, o que agora conhecemos, apresenta-se como bar e clube. Que leva o coração nas mãos. E o seu coração é mesmo o clube. O aviso no Facebook não é à toa: “Venham aqui para dançar”. “Get on your dancing shoes”, dizemos nós, citando os Arctic Monkeys, para se dirigirem ao novo espaço noctívago da Baixa portuense. Se é o house que faz os vossos pés inquietarem-se, sairão com happy feet.
Afinal happy, não sendo um mandamento, é aqui uma tendência. A programação é integralmente musical e encerra todo um manifesto identitário - mais do que, por exemplo, o cocktail que leva o nome da casa (uma espécie de mojito que, ao invés de água com gás, leva sumo de maçã). E se esta obedece a uma certa rigidez estética, também empresta ao Auditório uma coerência que falta aos seus companheiros da Baixa portuense, considera Pedro Segurado, o gerente.
Porque não importa quem é o DJ da noite, antes de entrarmos sabemos o que esperar: dançar num altar de house limpa mas melódica com deambulações pelo universo das redescobertas e reinvenções disco; e sabemos o que não vamos encontrar: um clube de techno em divagações épicas. A dureza do último dá lugar à espécie de happiness do primeiro (as palavras são de Pedro) para fazer deste um espaço sempre com voz e, ainda assim, sem cedências ao comercial.
Com esta cartilha em mente, a execução não é deixada ao acaso. Para a programação foi “requisitado” um nome bem conhecido da noite portuense, Rui Trintaeum, cujo know how e nome acaba por ser quase um atestado do alto nível de exigência que o Auditório quer fazer valer como imagem de marca. Aberto a 8 de Março, apresentou logo no primeiro mês um cartaz que é seu testemunho matricial: Rui Murka, Yen Sung, Tozé Diogo e Social Disco Club - esta noite, Pedro Macedo.
"Todos são valores consagrados do DJing nacional”, assinala Pedro - e assim está definida a bitola para os meses que se seguem. Os DJ nacionais são, de facto, regra; os estrangeiros a excepção (“sempre que se justificar”); a qualidade o elemento unificador. Depois, há Lukkas, o DJ residente a assegurar as noites entre terça e quinta-feira, deixando o fim-de-semana aos eleitos de Rui Trintaeum.
Há figuras que saem das paredes e tectos neste auditório feito barclube em torno de uma pista de dança explícita. São anjos de esferovite e gesso, esculpidos especifi camente para aqui por Paulo Neves, uma das metades dos “paulos” (sendo a outra a mulher, Paula), os proprietários: “Ele é uma referência e foi o que quisemos para diferenciar o espaço”, explica Paulo Rebelo. Um espaço que também se diferencia pelo que foi, um antigo auditório - o fosso e o palco desapareceram, mas permanecem três dos degraus e a cabina de projecção que se transformou em cabina de DJ.
De resto, apresenta-se bastante espartano mas essa imagem está prestes a mudar. Apanhamos os responsáveis em pleno brainstorming. “Alguns dos comentários dizem que é um espaço demasiado frio e seco”, conta Pedro. Cortinas laterais, talvez o rebaixamento de tecto, são opções para tornar o espaço mais aconchegante enquanto os tais dancing shoes não saem do armário.
Porque tendo um coração de clube, não pode “descurar o princípio da noite” e a pista de dança é um elefante branco demasiado evidente quando ninguém evolui nela - um espaço em branco entre uns poucos sofás com mesas baixas encostados a uma parede e puffs e mesas da outra, com fronteiras num longo balcão vermelho e noutro encaixado num canto. Não é uma questão a subestimar no Auditório, uma vez que este quer sobretudo viver para dentro.
Claro que sazonalmente o Auditório vai sair à rua - no Verão haverá esplanada e não ficará de fora das iniciativas comuns com os vizinhos - mas a ideia é apostar no ambiente dentro de portas, com o serviço à cabeça. Os copos de plástico não vivem aqui e os empregados têm o bê-á-bá na boca - simpatia, rapidez, eficiência. E qualidade, ideia subjacente e transversal, sempre, como um credo.
- Nome
- Áuditório
- Local
- Porto, Vitória, Rua de Cândido dos Reis, 131
- Telefone
- 916283038
- Horarios
- Terça-feira e Quarta-feira das 23:00 às 02:30
Quinta a Sábado das 23:00 às 04:00
- Website
- http://auditorioclub.com