Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

Mao e Maria: juntos e sem dogmas

Por Andreia Marques Pereira ,

Há Mao e há Maria, a virgem. O desafio é descobri-los e é isso que Joel Azevedo, Raul Teles e Pedro Pinho nos propõem fazer. O repto é uma boutade, como é o nome deste bar que fez a sua apresentação oficial à Baixa portuense no dia 19 de Maio.
Sublinhe-se o oficial porque uma semana antes já o maomaria tinha as portas abertas (confirma-se: "Abrimos para ver se estava tudo a funcionar bem", explica Joel, "o som tinha algumas coisas para melhorar. Ainda hoje pensamos isso."), embora o Mao e a Maria ainda não tivessem ocupado outro lugar que não o do trocadilho do nome. Mas isso fica para mais tarde. Mao e Maria, sem livro e sem rosário, que é como quem diz sem dogmas - ou, como dizem eles, o trio de sócios, "sem rótulos sociais" - num bar que são dois, com fronteiras definidas mas escancaradas, e música em regime de livre-trânsito.

Podíamos começar por ela, porque é um dos interesses comuns dos sócios que os levou a aventurarem-se nesta empreitada. Mas fazemos uma ligeira marcha atrás porque quem passa na rua não ouve a música, mas sente-se atraído para o espaço. Foi assim com Elisa Bessa: "Passei no sábado, achei giro. Então, como hoje íamos [ela e uma amiga] pôr a conversa em dia, decidimos vir conhecer"; foi assim com Pedro Ferreira, Hélder Machado e Alves Ferreira: "Já conhecíamos do Facebook. Agora íamos a passar, reconhecemos o espaço e pareceu agradável" - entraram, "é bom para o convívio". Agora sim, voltamos aos sócios e a este projecto de "comunhão de interesses" que eles, sem ligação anterior aos negócios da noite mas com experiência em organização de festas e eventos, concretizaram aqui, desta forma. Todos gostam "da parte social que um sítio destes potencia", conta Joel, e todos são devotos da música. Vai daí, juntou-se tudo na oportunidade de "proporcionar boa música num espaço favorável ao convívio".

E deixamos a música ocupar o centro do palco porque é aí que ela está no maomaria. "Este espaço quer afirmar-se pela música", declara Joel Azevedo - e música de linhagem alternativa. "Música contemporânea, novos géneros, sem fugir do indie", diz Joel. "Electro pop, house, disco", completa Raúl, que não se coíbe de ocupar a cabina de DJ, com passagens tão eclécticas quanto The Smiths ou os espanhóis Fangoria. Sem DJ residente, mas muitos convidados, percebe-se rapidamente que o alternativo não é ortodoxo e aqui convivem uma amálgama de sons que se vão adequando ao ambiente. Se tudo passar por um (ou dois) pé de dança, tanto melhor.

Afinal, a configuração do maomaria até o incentiva. São "dois" bares: o wine bar e o happy bar (a designação é da "casa"). O primeiro na sala traseira, atmosfera mais recolhida iluminada por grandes janelões; o segundo, a receber os visitantes, em frémito mais constante e sem inibições - dançáveis. A música atravessa ambos na mesma frequência, porém com volumes distintos. Festa e convívio em amena cavaqueira e em espaços para tal pensados.

Foram os três sócios que idealizaram tudo (não é à toa que dois são designers), desde os ambientes ao recheio de cada um, original, portanto (e quem quiser levar algo para casa, fala com os responsáveis - aceitam-se encomendas), mesmo que se tratem de cópias de cadeiras do século XIX, dos primeiros bares norte-americanos, como as que se encontram na primeira sala. Eles desenharam, uma empresa de Paços de Ferreira deu forma a tudo o que agora vemos.

Entramos e lá estão as cadeiras oitocentistas, madeira escura, em torno de mesas (poucas) de tampo de mármore (há também versões altas das cadeiras); há cadeirões que jogam com o negro e padrões floridos e bancos de couro com botões a emprestar ar vintage, mas é na segunda sala que estes abundam, compondo um ambiente mais acolhedor. Porque se na primeira sala o espaço vazio é dominante (a convidar a dançar), entre as paredes cinza escuro (do "viroque") e um toque cosmopolita, na segunda a atmosfera é very british, com painéis de madeira nas paredes, mas em revisitação irremediavelmente contemporânea.

No balcão da versão wine bar do maomaria, uma garrafa de cava aguarda clientes; na garrafeira são os vinhos, sobretudo do Douro, que repousam. "Não temos grande diversidade, mas temos castas bastantes diferentes", sublinha Joel. A predominância do Douro não é um acaso, é praticamente uma declaração de princípios: "Só trabalhamos com empresas do Norte", revelam, "quisemos contribuir para a economia local". E para a "dinamização do Porto", e para a "diversão na Baixa", onde se quiseram instalar desde que o projecto começou a ser pensado, há três anos. Na Rua de Cândido dos Reis encontraram uma "rua mais virada para dentro" do que as vizinhas, mas cujo crescimento recente deixa antever a apropriação do espaço público como local de convívio - mais disciplinado, como se vê pelas esplanadas que pontuam os passeios largos. O maomaria também se juntou a elas e, nestes dias de calor, as sangrias que exibe são quase irresistíveis. Contudo, não se deixe de espreitar o interior, mais que não seja para descobrir o Mao e a Maria - só é necessário encontrar as casas de banho. Sem devoção, está visto, mas com diversão.

Nome
maomaria
Local
Porto, Vitória, Rua de Cândido dos Reis, 84
Telefone
222084674
Horarios
Terça a Quinta das 16:00 às 02:00
Sexta e Sábado das 16:00 às 04:00
Website
https://www.facebook.com/maomaria.baixadoporto
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