Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

Ao fresco e com petiscos de se lhes tirar o chapéu

Por José Augusto Moreira ,

Casam com o Verão, mas também podem casar com a modernidade. No terraço da Casa da Música há uma lista de petiscos a que chamam "tapas do mundo", a mostrar que a partir de coisas simples se podem criar verdadeiras iguarias. O que verdadeiramente arrebatou foram os filetes de sardinha panados com ervas.
Com o tempo quente a convidar, um terraço e um conjunto alargado de petiscos parece coisa difícil de resistir. Pois bem, é precisamente essa a proposta da Casa da Música, no Porto, que desafia para a lógica petisqueira ao ar livre, aproveitando o espaço aberto na cúpula do edifício. A ideia é "tirar proveito do tempo propício e da vista única sobre a cidade", com uma oferta de "tapas do mundo", que tanto podem ir dos cosmopolitas carpaccios à popular salada de bacalhau com grão, passando pelas sopas frias do Alentejo, uma alheira transmontana ou um panado de sardinha a roçar a genialidade.

O ambiente é de esplanada, havendo até algumas mesas de perna alta e bancos em conformidade, a acentuar o estilo estival e descontraído. A orientação proporciona vistas amplas, e realmente diferenciadas, sobre boa parte da cidade. A rotunda da Boavista e ruas adjacentes ali mesmo debaixo do olho, o Palácio de Cristal mais adiante, Gaia e a serra do Pilar na linha do horizonte para Sudeste, enquanto a Este sobressai a erecta imponência granítica das torres da Igreja da Lapa. Há até uma certa harmonia que ressalta do arvoredo e da quadrícula urbana, de efeito pouco esperado e a mostrar que, afinal, o Porto até nem será uma cidade tão desarrumada como à primeira vista se possa julgar.

É claro que o desfrute da arrojada construção concebida por Rem Koolhaas funciona também como condimento extra, mas concentremo-nos naquilo que para agora nos interessa, que são os petiscos. Ou as tapas, como está agora tão em voga dizer-se, realçando a tradição espanhola e ignorando a riqueza e variedade dos nossos petiscos.

A oferta é variada e abrangente, destacando-se o cuidado culinário e de apresentação nalgumas das preparações. Tome-se como exemplo o "timbale de alheira sobre grelos e ovo de codorniz". Base de alheira grelhada (da genuína, transmontana) com grelos salteados numa composição circular e encimada pelo ovinho de codorniz estrelado. Duas unidades por prato, onde para além da elegância do empratamento sobressaem os sabores a remeter para os ambientes rústicos da cozinha transmontana.

Curiosa e elaborada a versão do minhoto bolinho de bacalhau, que aparece numa veste negra. O efeito é ao mesmo tempo intrigante e desafiante, já que da quenelle enegrecida resulta o rigoroso gosto e textura do popular preparado, cuja massa foi escurecida pelo envolvimento em tinta de choco. Acompanha com uma maionese de coentros, a dar um toque de frescura e modernidade culinária, que estimula pelo contraste mas que os mais puristas poderão achar até intrusiva. É esta espécie de desafio gustativo que parece animar a criatividade ao chef cozinheiro da casa, Artur Gomes. O "wrap de frango com maionese de alho e salsa" é um complexo cruzamento de sabores e texturas que resulta igualmente estimulante. Massa fina e mal cozida a soltar aromas de padaria, o frango cozinhado e o molho com os sabores marcantes de alho e salsa, que remetem para paladares da cozinha indiana. Para comer à mão e saborear com verdadeiro prazer. A mesma envolvência de sabores na "salada de rúcula com pato assado, Parmesão e pêra caramelizada". Equilibrada, apelativa e igualmente desafiadora para o palato.

O rol de petiscos do mundo inclui também coisas como "ceviche de salmão marinado com maçã e cebolinho", "carpaccio de novilho com rúcula, lascas de Parmesão e molho e cogumelos", ou os gaspachos, tanto na versão alentejana como na da vizinha Andaluzia, que provámos e logo convenceram pela elegância e cremosidade.

Há também a portuguesíssima "salada de bacalhau com grão de bico em molho de coentros", mas o que verdadeiramente arrebatou foram os "filetes de sardinha panados com ervas". Simples e geniais e a constituírem um belíssimo exemplo de como com um toque de criatividade se podem criar verdadeiras iguarias.

Limpas de cabeça e espinha, as sardinhas são abertas a meio mantendo-se os dois filetes presos pelo rabo (tipo pinça). Enrolando para dentro as duas extremidades, o chef Artur Gomes forma uma espécie de coração estilizado, que frita envolto num polme, também ele da sua lavra. Trata-se de broa de milho migada que aromatiza com molho de ervas e se envolve com a gordura do peixe de forma deliciosa.

A acompanhar as cerca de duas dezenas de propostas petisqueiras há também uma adequada lista de vinhos: sete brancos, cinco tintos, um rosé e dois espumantes, cobrindo a generalidade das nossas regiões produtoras. O interessante é que para todos há serviço a copo e a preços nada especulativos (2,20/3,80 euros).

Num conceito de refeição ligeira e adaptada ao contexto estival, registe-se que também nos preços há idêntico esforço de leveza, que basicamente se concentram entre os dois e os seis euros para cada dose. A oferta é anunciada apenas para o Verão e limitada ao terraço, mas parece que não seria má ideia se pudesse adaptar-se também ao espaço interior e a outras épocas. Até porque o petisco não é sazonal e o chef Artur Gomes parece talhado para o conceito.

Nome
Al Fresco
Local
Porto, Lordelo do Ouro, Avenida da Boavista, 604-610 - Casa da Música, piso 7
Telefone
220107160
Horarios
Segunda a Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
Website
http://www.casadamusica.com/restaurante/
Cozinha
Tapas
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