Fugas - restaurantes e bares

  • Enric Vives-Rubio
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Um bom desvio entre o mar e a serra

Por Fortunato da Câmara ,

A meio caminho entre Sintra e Cascais, vale a pena desviar a rota até ao restaurante Salmoura. Uma mesa escondida numa curva que passa despercebida até àqueles que atravessam o Linhó.

Devem contornar-se juízos precipitados quando se fala do Linhó. Não raras vezes, esta localidade sintrense costuma vir associada ao estabelecimento prisional situado nos arrabaldes. Circulando com alguma atenção na Rua António dos Reis, que atravessa boa parte da zona urbana, há no entanto motivos de interesse para fazer um pequeno desvio da rota habitual que pode valer uma ou outra descoberta invulgar.

No espaço de pouco mais de 50 metros existe uma charcutaria francesa, com coisas tão invulgares como um Camembert DOP (Denominação de Origem Protegida), certificação que permite revelar a verdadeira personalidade deste queijo - impossível de saborear nas versões com leite pasteurizado que por aí pululam. Alguns passos ao lado há um talho de boa qualidade - e como fazem falta talhos que saibam tratar as carnes e informar bem os clientes -, do outro lado da rua fica uma loja especializada em grelhados e comida pronta que é uma espécie de extensão do talho. A sequência termina (ou principia) numa curva fechada ao acrescentar outra morada para assim satisfazer um último quesito: haverá por aquelas bandas algum restaurante que justifique pelo menos o epíteto de "interessante"? Sem mais "demolhas", adianto que o Salmoura tenta valer o adjectivo.

Abriu em Agosto de 2011 e para chegar até aqui parece-me que tem havido um esforço para ultrapassar os desafios dos tempos correntes. Começou por encerrar um dia e meio por semana, para agora abrir diariamente aos almoços mas apenas servir jantares de quinta a sábado. Além do "menu do dia" a 8,50 euros há o "menu leve" (leia-se low cost) a 5 euros para fugir à crise. Não ficaram de fora da ementa opções para vegetarianos e um oportuno (sobretudo hoje) menu infantil, com as triviais escolhas entre bife ou hambúrger. É de salientar a atitude de persistência ao ajustar os horários à procura e a vontade de ser abrangente na oferta.

No entanto, o mais interessante deste Salmoura é a carta fixa, onde, além de vários petiscos "entradeiros" como moelas, pica-pau, ovos com farinheira ou cogumelos com linguiça, entre outros, se podem encontrar pratos principais mais chamativos. Nos peixes, além de algumas propostas para grelhar, há arroz negro com lulas de coentrada, lombo de bacalhau com crosta de broa e farinheira, batata a murro e grelos salteados e filetes de peixe-galo com arroz malandrinho de tomate e coentros. Nas carnes pode-se escolher de entre quase uma dezena de propostas de pratos como ensopado de borrego, tornedó de vitela, magret de pato ou alheira de caça.

A mesa foi "aberta" com bom "pão" (1 euro) caseiro cozido em forno a lenha, "azeitonas" (1,50 euros) de boa salmoura que não destoaram do nome da casa, e "manteiga" (0,70 euros) de qualidade. Petiscaram-se as "pataniscas de bacalhau" (5 euros) em dose generosa, com quase uma dúzia de iscas redondinhas ligeiramente fofas, sem estarem enfoladas e a evidenciarem boas lascas bacalhoeiras. Nos "pastéis de massa tenra de caça com rúcula" (2 euros/unidade) o tamanho liliputiano de cada um era compensado pela grande qualidade da massa e o recheio saboroso e suculento que preenchia o espaço disponível.

Entrando nos principais, o "bacalhau lascado" (13,50 euros) era uma agradável composição circular, que na base trazia migas de broa e espinafres, sobre a qual era disposta uma camada de lascas muito brancas de bacalhau a puxar para o desenxabido. No topo da montagem uma camada de cebola roxa caramelizada em vinho tinto, tipo compota, cuja doçura, além de acentuar o pendor insosso do bacalhau, tinha na cor rubra um contraste que remetia a aparência do prato para um cheesecake. Sem espaço para mimetismos estava o "polvo à chefe" (15,50 euros), com dois tentáculos vistosos e de textura delicada, acompanhados por um competente xerém de berbigão, também enriquecido com polvo laminado. A completar a guarnição vinham uns cubinhos de abóbora cabaça (também designada de butternut) e espinafres salteados, que davam um belo equilíbrio ao conjunto. À falta do ensopado de borrego, o "lombinho de porco preto e bacon" (14,50 euros), composto por três pequenos medalhões enrolados nas tiras do fumado, cumpriu a expectativa com satisfação. Foi, contudo, preciso desembaraçá-los da cinta de gordura de sabor dominante para lhes verificar as origens do montado - que se confirmaram. No pingo do bacon foram enroladas umas migas também ao estilo alentejano, em que o contraditório foi dado, e bem, por grelos salteados.

Nas sobremesas, a sugestão do dia era uma belíssima "mousse de café" (2,50 euros), plena de sabor e com um apreciável equilíbrio, onde o café era de qualidade e estava bem integrado com a doçura e a leveza da mistura. A "tarte de requeijão" (6,50 euros) era uma minitarte, estilo bolo enqueijado esponjoso, que foi servida tépida com uma bola de gelado de café. Sendo agradável, acho que não justifica o facto de ser o item mais caro dos doces.

De sublinhar a generosidade das doses e a qualidade de confecção em geral. A carta de vinhos anuncia quase 80 referências, todos com indicação de data e a preços versáteis consoante as bolsas, com um ou outro bom negócio nos topos de gama. A parte dos fortificados inclui vários tipos de Porto e também vinho Madeira, o que é de enaltecer pela raridade que é encontrar este néctar insular em cartas de restaurante. Uma jovem atenta e atenciosa executou o serviço com agrado. Os copos de vinho são de bom nível, a iluminação está bem pensada, o mobiliário é confortável - fica um pouco aquém o uso de guardanapos de papel quando a bitola do resto aponta para um nível mais elevado.

Isto tudo num espaço muito agradável, com um bar apelativo logo à entrada, e num ambiente familiar decorado com elegância. Um conjunto de relógios estilizados preenche a parede que delimita a zona de fumadores da restante área de refeições, onde a distância entre mesas permite estar-se em convívio ou em negócios de forma tranquila. Juntam-se as facilidades logísticas para acolher crianças, que se estendem ao fraldário dos lavabos femininos, e temos uma morada que conjuga diversas virtudes. Não se percebe, portanto, que às vezes a sala esteja inexplicavelmente vazia, quando a cozinha é meritória e o espaço convidativo. O Linhó não é seguramente um destino de viagem, mas este Salmoura vale o desvio para pôr as ideias a marinar, enquanto se decide se o passeio com a pequenada vai ser junto ao mar de Cascais ou a explorar a serra de Sintra.

Nome
Salmoura
Local
Sintra, São Pedro de Penaferrim, Rua António dos Reis, 171
Telefone
218232170
Horarios
Terça a Sábado das 12:00 às 15:00
Domingo das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Sábado das 12:30 às 15:30 e das 19:30 às 22:30
Domingo das 12:30 às 15:30
Website
http://www.salmoura.com
Preço
20€
Cozinha
Portuguesa Contemporânea
Espaço para fumadores
Sim
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